O índice de abstenção, que afectou, com gravidade o Sul do país, está criar pânico na hoste dos camaradas que, no entanto, insistem em sair vitorioso, porque a sua permanência no poder é tido como “imperativo nacional”.
Os dados possíveis de manusear, por enquanto, são os seguintes:
O índice de abstenção, em algumas províncias do Sul está a cima de 60 por cento, sendo mais acentuado em Inhambane, a dita “terra de boa gente”.
No Centro, a Oposição que tem forte influência, também,houve abstenção, mas não a esse nível, asseguram as nossas fontes.
Compensações
Assim, para compensar, aparece a resistência, ferrenha, sobretudo na CNE, dos elementos indicados pela Frelimo, que não querem que se dê o direito a voto, consagrado constitucionalmente, aos cidadãos que não puderam exercer esse direito porque o material de votação não foi colocado, até ao último dia de votação, nas assembleias de votação. Oficialmente são 36 mesas, e cada mesa, em média tem 1000 eleitores, considerado pela CNE/Frelimo de número insignificante. Até pode ser.
Outro argumento é de que a lei não prevê, o tratamento a dar aos casos em que não se vota devido à chegada tardia de material de votação.
Mas é preciso ver onde é que estes problemas se registaram com maior gravidade: Milange, Zambézia, 18 mesas. Naquele distrito, a Renamo- UE nas duas primeiras eleições suplantou, de longe, o seu histórico adversário, a Frelimo. Para mostrar a dimensão nacional do problema, três ou quatro mesas em Gaza, mas onde? Chibuto, Massangena e Mapai, onde, mesmo com grandes dificuldades, consegue alguns votos naquela província.
O resto, meus Deus, é lá para o Centro e Norte.
É lá onde o material de votação chegou tarde, onde chegou. Logo após o fim da votação, nas hostes da “perdiz” havia queixas de que, em Angoche, os seus delegados de candidatura, ou seja, fiscais, estavam a ser corridos, pela Polícia, das mesas de voto sem qualquer fundamento.
Com terreno lívre, tudo pode acontecer. Angoche, distrito costeiro, é um dos bastiões da Renamo-UE.
Incidentes do género se registam na cidade da Beira nas províncias do Niassa e Tete, onde a “perdiz” e o seu candidato sairam vitoriosos nas eleições de 1999.
A novela apenas começou, os próximos capítulos prometem ser mais animados, dado às evidências disponíveis, nomeadamente as restrições, aos observadores e a comunicação social, às salas de informática onde se vai proceder o apuramento provincial e definitivo dos resultados finais, a recusa da entrega da cópia de editais a observadores e jornalistas, quando estes as solicitarem nas mesas de voto, por decisão da CNE/Frelimo, etc.
Já antes, os elementos da "perdiz" indicados para os órgãos centrais ligados à administração e organização dos processos eleitorais no país, designadamente o STAE e a CNE, queixavam-se da falta de acesso a cadernos, códigos das assembleias de voto e tantos outros materiais relacionados ao processo eleitoral. O director-geral do STAE, António Carrasco, havia, no entanto, se comprometido a fornecer CDs-ROM, aos partidos políticos, com os códigos das assembleias de voto, promessa essa que não cumpriu.
JF – IMPARCIAL – 03.12.2004