Por JORGE HEITOR
PÚBLICO - 05 de Dezembro de 2004
A Commonwealth e a União Europeia pediram ontem a Moçambique acesso aos centros onde os votos das eleições presidenciais e legislativas estão a ser verificados, depois de terem surgido algumas dúvidas sobre a credibilidade do acto, em que nem sequer participou metade da população adulta. Só dentro de três ou quatro dias é que deverá ser conhecido um substancial resultado provisório da ida às urnas nos dias 1 e 2 de Dezembro, para a escolha de um novo chefe de Estado e de um futuro Parlamento de 250 lugares.
A Rádio Moçambique anunciou ontem, quando ainda só estavam escrutinados 570.150 votos, que 421.434 iam para o candidato presidencial da Frelimo, Armando Emílio Guebuza, e 138.194 para o da Renamo, Afonso Dhlakhama. Mas estes resultados preliminares diziam apenas respeito aos meios urbanos, faltando apurar os das zonas rurais.
Há cinco anos, o agora Presidente cessante Joaquim Alberto Chissano, da Frelimo, conseguiu 52,29 por cento dos votos expressos, face a 47,71 do líder da oposição, que também já fora derrotado por ele em 1994. E a Frelimo subira de 129 para 133 deputados, enquanto a Renamo e seus aliados iam aos 117.
O chefe do grupo de observadores da Commonwealth, Vaughan Lewis, considerou que a votação desta última semana foi transparente, se bem que a contagem dos votos estivesse a demorar muito tempo. E o director de um jornal independente de Maputo, o "Correio da Manhã", Refinaldo Chilengue, também declarou ontem ao PÚBLICO que as eleições poderiam ser consideradas "genuínas".
O líder da missão de observadores da União Europeia, Javier Pomes, manifestou a esperança de que haja pleno acesso ao processo de contagem, por considerar isso essencial para uma completa avaliação de todo o acto eleitoral.
"O processo esteve cheio de grandes irregularidades", entendeu porém um responsável eleitoral da Renamo, Eduardo Namburete, que citou o exemplo de 37.000 pessoas que não conseguiram votar porque as assembleias não abriram ou porque não encontraram o nome nos cadernos.
Havia mais de nove milhões de eleitores inscritos, mas nem sequer metade se deram ao trabalho de ir votar, em parte devido às fortes chuvas que caíram naqueles dois dias e a problemas de logística, num país ainda muito atrasado. A taxa de participação poderá eventualmente cifrar-se à volta dos 40 por cento. A Comissão Nacional de Eleições é obrigada a anunciar os resultados oficiais até ao dia 17, prevendo-se vantagem da Frelimo no Sul e da Renamo no Centro.