ELEIÇÕES GERAIS JÁ COMEÇARAM A DAR PROBELMAS
O líder da Renamo-UE é um dos cinco candidatos à sucessão de Chissano, na Ponta Vermelha, Afonso Dhlakama, assegurou, ontem, segunda-feira, que ele e o seu partido não vão admitir a reedição do «jogo de 1994 e 1999», nas presentes eleições, agora na fase de contagem de votos.
Refira-se que tanto nas primeiras como nas segundas eleições multipartidárias em Moçambique, cuja vitória foi atribuída, oficialmente, à Frelimo e o seu candidato, a “perdiz” considerou-as de fraudulentas.
Falando em conferência de imprensa, Dhlakama retomou as críticas feitas pelo seu partido esta semana sobre a forma como têm sido divulgados os resultados parciais pelos órgãos de comunicação social sobretudo públicos.
A Renamo-UE considera que a referida divulgação é feita de forma manipulada, projectando-se uma derrota antecipada da “perdiz” é o seu candidato antes mesmo da contagem dos votos em todos os círculos eleitorais. Segundo Dhlakama, «consome-se interna e internacionalmente uma informação
que não é verdadeira o que é extremamente perigosa».
«Está se a fabricar a fraude e quando a verdade chegar será muito difícil para a Oposição tais dados», sustentou.
Exemplificando, assegurou ter havido tentativa de empolar uma vitória de Guebuza e o seu partido em Sofala e Zambézia, facto que não constitui verdade porque ele e a “perdiz” venceram, naquelas províncias com uma margem folgada.
Em comunicado de imprensa, a “perdiz” já falava, mesmo, no último fim-de-semana, de uma clara campanha de «desinformação» e uma «propaganda ensaiada» pelo partido no poder. «Os órgãos de comunicação social estão a plantar factos nas cabeças dos moçambicanos e da comunidade internacional ao divulgar apenas os resultados das cidades e vilas, onde reside pouco mais de 24 por cento do eleitorado moçambicano», indica a Renamo-UE. Com a referida forma de agir, sustentava o comunicado, cria-se a «percepção errónea à volta da realidade no terreno, uma vez que neste momento em que já se começou a contabilizar os votos dos distritos do interior das regiões Centro e Norte do país, já não há entusiasmo nem tão pouco assiduidade na sua divulgação».
Direitos iguais para todos
Um outro ponto levantado ontem por Afonso Dhlakama é sobre a necessidade de realização das eleições onde não foram feitas ou completadas devido à falta ou chegada tardia de material eleitoral.
Segundo os dados por ele apresentados, 19 assembleias de voto não abriram no país, nos dois dias de votação, por falta de material eleitoral.
Houve 30 assembleias de voto que só abriram no dia 2, segundo dia de votação, quando faltavam apenas duas horas para o encerramento do processo de votação. Tal aconteceu, com maior gravidade,
nas regiões do Centro e Norte do país, onde aquele partido tem forte implantação.
«Porque é que tal aconteceu, tendo em conta que as presentes eleições foram projectadas há cinco anos? Será que podemos admitir que se tratou da impotência da Comissão Nacional de Eleições ou do STAE? Ou será uma tentativa de fabricação dos resultados como é hábito e costume no continente africano?», questionou.
Segundo Dhlakama, ele e o seu partido não querem uma vitória a todo o custo, «mas se exige justiça e transparência» no processo eleitoral.
Fiscais impedidos de trabalhar
Queixou-se ainda de terem sido impedidos de trabalhar, em alguns pontos do país, os fiscais indicados pelo seu partido. Para não variar, tais incidentes, ocorreram com maior amplitude nas regiões do Centro e Norte de Moçambique.
Segundo revelações de Dhlakama, em Tete, círculo eleitoral que a “perdiz” suplantou o seu opositor directo(a Frelimo), os fiscais daquela formação política foram impedidos de trabalhar em Changara, Cahora Bassa, Songo, Máguè, Zumbo e Tsangano. Cenário idêntico ocorreu em Niassa, nos distritos
de Marrupa e Maua. Em Cabo delegado, incidentes do género ocorreram em algumas aldeias de Montepuez, Balama e Mueda.
«Que tipo de eleições são essas em que fiscais de outros partidos são corridos das mesas de votação», deixando terreno lívre para a Frelimo fazer das suas?, questionou o líder da “perdiz”.
Troca de cadernos
Outras falhas neste processo, criticadas por Dhlakama, relacionam- se com a troca de cadernos eleitorais, de uma mesa para outra, facto que levou muitos eleitores a não votar. «É uma questão de
avaliar, um velho que percorra mais de 10 quilómetros a pé para chegar numa mesa e ser informado que o seu nome não consta nos cadernos daquela assembleia de voto(...) isso é um crime praticado
pela Frelimo», acusou.
O presidente da Renamo-EU lamentou que todas essas irregularidades tenham acontecido, apenas, no Centro e Norte do país, onde acredita que ele e o seu partido gozam de maior apoio. «Será que o STAE é incompetente no Norte e Centro e no Sul do país não?», questionou, para depois ele próprio avançar a possível resposta: É que o sul vota, maioritariamente na Frelimo e o seu candidato, daí que tudo andou bem.
Abstenção artificial
Referindo-se à questão da abstenção(a maior nódoa destas eleições), que poderá transpôr os 70 por cento, nas últimas eleições gerais em Moçambique, o líder da “perdiz” assegura que a mesma foi planificada, primeiro porque muitos cidadãos, para votar, teriam que percorrer longas distâncias, por outro lado, os que desafiaram as distâncias deparavam com o problema da falta dos seus nomes nos
cadernos eleitorais.
Digitalização de dados: problemas já começaram
Revelou, ainda, a jornalistas que já na fase da tabulação de dados (informatização), que arrancou na última segunda-feira, se levantam outros problemas: em algumas províncias os técnicos indicados
pelo seu partido não são permitidos acompanhar o processo, caso concreto da Zambézia, onde foi necessário a intervenção de Raimundo Samuge (vice-presidente da CNE, via Arão Litsure, presidente daquele órgão).
Grave ainda, segundo Dhlakama, é o facto de em algumas assembleias de voto, não foram fornecidos aos delegados de candidaturas editais devidamente carimbados, como impõe a lei. Tais cópias poderiam servir de prova em caso de omissão de dados.
Guerra fora da opção
Na referida conferência de imprensa, Dhlakama colocou de fora a hipótese de retorno à guerra, mesmo que as preocupações colocadas pelo seu partido sejam ignoradas pelos órgãos eleitorais. Segundo
ele, existem outras formas de pressionar, incluindo as manifestações porque nenhum regime, por mais cruel que seja, tem a capacidade de esmagar a vontade do povo. Uma coisa ele está seguro: o jogo de 1994 e 1999 nunca mais será reeditado.
JAQUES FELISBERTO – IMPARCIAL – 07.12.2004