Provavelmente esta semana pode não ser festiva, como seria de esperar – tendo em conta o Natal(Dia de Família, para alguns): O problema é das eleições, que longe de unir moçambicanos, alguns a usam para dividir, porque não deixam o povo falar.
Provavelmente, também, será nesta semana que a Comissão Nacional de Eleições vai anunciar os resultados das últimas eleições gerais em Moçambique. Dissemos provavelmente porque a aplicação informática usada para o apuramento dos resultados finais criou problemas graves cuja solução, havendo seriedade, podia exigir um tratamento mais sério(é uma situação dramática aparecerem mais editais no computador do que os introduzidos pelos operadores).
Ainda nos âmbito das probabilidades, se aguarda que nesta semana haja reacção, em termos de acções concretas, da Renamo-UE e outros partidos da Oposição, no país, uma vez que consideram que as últimas eleições gerais não foram transparente nem justas. Ou seja, vão seguir o caminho mais demorado, para agir, ou curto. O mais demorado é o recurso, no Conselho Constitucional, onde a “perdiz” está representada, mas de forma minoritária. O curto, é o pronunciamento concreto do que vai ser daqui para frente, aceitar os resultados ou não, se
não aceita, quais serão os passos a seguirem: toma-se os acentos no parlamento ou não? Reivindicam os resultados, mas como?
Para já, os dados até agora lançados no terreno não são nada encorajadores.
- A Força de Intervenção Rápida, tida como unidade de elite da PRM, tem uma presença maciça em alguns pontos do país, onde a “perdiz” tem uma forte influência, como são os casos dos distritos de Sofala. Nessa musculação, a casa de Afonso Dhlakama, líder da “perdiz” chegou a ser cercada por algumas horas na cidade da Beira.
Nas hostes da “perdiz”, tal movimentação é interpretada como tentativa de intimidação da população para não exigir os seus votos que teriam sido roubados pela Frelimo, insinuando-se, assim, a possibilidade da realização de manifestações.
No rescaldo das eleições de 1999, a manifestação da população foi violentamente reprimida pela Polícia, que chegou a fazer alguns mortos em algumas cidade e vilas.
- Em reacção aos protestos da Renamo-UE, dias depois da votação, sobre o processo eleitoral, certas figuras de destaque na hierarquia da “maçaroca e tambor”, incluindo o seu candidato à Ponta Vermelha, fizeram questão de atacar a liderança da “perdiz”, antevendo-se, assim, uma possível convivência difícil, nos próximos tempos (entre Emílio e Macacho). Aliás, Emílio retomou o discurso de que o problema da “perdiz” e a sua liderança, um pronunciamento bastante suspeito, se tomarmos em conta os ensinamentos de Samora Machel: Se o inimigo nos ataca, é porque estamos no caminho certo, se elogia, é preciso desconfiar.
Só mais um entretanto, parece que alguns ditos antigos combatentes, sonham numa desforra, com a “perdiz”, agora que está fora do seu “habitat natural”. A musculação de Chiringoma, à porta das eleições, pode ser prenúncio disso.
Já a finalizar, uma coisa é certa, o povo, por uma razão qualquer, quis afastar-se do barulho.
Uma abstenção superior a 60 por cento, num país com nove milhões de eleitores, exige uma reflexão, acima de tudo perguntar ao cidadão porque é que não foi votar. Tem de ter um presidente legitimado por menos de 20 por cento de eleitores, que vai agir em nome do povo, é uma desgraça no processo de democratização do país.
JAQUES FELISBERTO – IMPARCIAL – 20.12.2004