O PRÓXIMO presidente da República tem de ter presente que muitos moçambicanos não optaram nele – mas nos seus adversários políticos – e que outros tantos preferiram, pura e simplesmente, ignorá-lo nas eleições de Dezembro. Isto deve pesar na consciência do novo Chefe do Estado, por não se tratar de um grupo pequeno, o qual seja, como fôr, tem de respeitar a figura de presidente da República, do mesmo modo que este deve necessariamente fazer o mesmo em relação àqueles. Fica a ideia de que os moçambicanos há muito que andam cansados com promessas que nunca resultam em FACTOS, situação que tem conduzido à degradação do tecido social. Muitas famílias desunidas, com o peso da responsabilidade a recair sobre os ombros da mulher, a tal que recorre a precários negócios como forma de conseguir a refeição do dia, enquanto a do dia seguinte será pensada no decurso da noite, enquanto dorme sono profundo mas de pouca duração, porque tem de se pôr de pé nos primeiros cânticos do galo da vizinhança. Do outro lado, é o homem mandado embora do emprego por não haver mais trabalho. Sem indemnização, falido dos pés ao último fio do cabelo, o indivíduo rapidamente perde peso só de pensar que tem filhos por dar de comer e os biscates que valham a pena são exíguos. Durante anos tem sido sempre assim. Mãe e pai unidos apenas por causa dos filhos, mas separados a partir do momento que o desemprego começa a bater a porta lá de casa. As indmnizações, se houver, aparecem a conta-gotas e nada há a fazer porque os gestores do sistema têm sempre argumento na ponta da língua: não há dinheiro! Perante isto, alguns viram agentes de fora-da-lei. Com recurso a armas de fogo alugado algures, roubam bens de utilidade invejável para depois os vender a preços de banana, desde que suficiente para alegrar o estômago, nem que seja por breves instantes... Este e outros grupos esperam do novo governo, isenção e responsabilidade na gestão da coisa pública. Salvador Raimundo - Expresso(Maputo) - 14.12.2004