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Por Fernando Veloso
Os “candidatos” – passe a ironia – Filipe Mandjate, porta-voz da CNE, e António Carrasco, director-geral do STAE, ganharam estas eleições gerais. Este é o primeiro dado adquirido. Conseguiram afastar o eleitorado das urnas. Mas, se a abstenção depois de o mesmo se ter verificado em ocasiões anteriores não é estranha, é muito estranha a homogeneidade territorial com que ela se afirma – ou nos é servida – desde as autárquicas de 1998. Pode ter mais a ver com a impossibilidade de votar do que com outra razão mais imediata ou outra qualquer ainda, mais erudita. A “operação” começou nas “actualizações” do recenseamento – selectivas, digo, repito e insisto; passou por diversas eleições em que se provou que o método é eficiente para impedir que alguém consiga capturar o “eleitorado incapturável”, e poderá, também desta vez, vir a provar-se útil, se bem que nos tenha deixado – seja qual for o vencedor – metidos num enorme imbróglio: esta estrondosa vitória da «silenciosa maioria esmagadora» à procura de um líder que seguramente não o conseguiu ser qualquer dos candidatos. Conhecidos os “funcionários” obreiros da abstenção; sabendo-se que as projecções publicitadas de resultados são das “linhas médias” de uma das equipas em jogo e o outro lado as comenta dizendo que não passam de “terrorismo psicológico” e chegam mesmo a falar em tendências reais de sentido contrário – vá lá a gente, para já, saber se em atitude de defesa ou com legítimos argumentos –, aguardemos serenamente pelos números finais que nos serão anunciados pelo Presidente da CNE e, se contestados, em última instância pelo Presidente do Conselho Constitucional. Em suma, aguardemos por momentos adequados para felicitarmos os vencedores. nota de rodapé: Só uma curiosidade que pode consubstanciar o argumento que aponta o recenseamento caduco e imperfeito como a causa principal da abstenção. Um amigo, economista de longa caminhada (que se estiver próximo de um partido esse é seguramente a Frelimo), contou-me que um patrão de uma empresa construtora com 170 trabalhadores assumiu que só permitiria que beneficiassem da tolerância de ponto para irem votar os que tivessem cartão de eleitor. “Só 32 tinham cartão” (18,8%). Penso que estará tudo dito. Se está explicado ou não, deixo para quem for debater. Media Fax - 06.12.2004