TRIBUNA EXTRA
Coluna de João CRAVEIRINHA
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ESPECIAL ELEIÇÕES 2004
… “Há breves momentos que os homens precisam de uma esperança fraudulenta, antecedendo a longa noite de trevas que se aproxima”… dito em 1885 pelo místico muçulmano, Chéé Muhammad Ahmad ibn as Sayyid Abd Allah
– El Mahdi do Sudão, antes da queda iminente de Cartum e da derrota da coligação turca – inglesa e morte em combate do lendário britânico Major General Charles “Chinese” G., ou simplesmente Gordon “Paxá”…
De novo com as eleições Moçambicanas insistindo eu num paralelo com o México malgrado na Televisão SIC – notícias a 27 e 28.11.04 ter sido rejeitada essa
análise. Talvez axiomático entre os jornalistas portugueses em reduzir a política africana à sua condição menos universal numa redundância comparativa incorrecta de Moçambique com Angola.
Debate a ver em http://www.macua.org/temp/ siceleicoes2004.html. É que de facto se repararmos a História recente do México desde as revoluções aos dias de hoje temos um quadro que nos faz lembrar Moçambique. Ora vejamos: A Resistência do rei Azteca Montezuma no século XVIII contra o colonialismo espanhol de Hernando Cortez e a ocupação francesa no século XIX à Independência e as invasões do vizinho
Estado – unidense. Sucessão violenta de líderes desde Miguel Hidalgo y Costilla em 1810. Benito Juarez, 1861. Porfírio Diaz, 1910. Pancho Vila, 1913.
Francisco Madero e EMILIANO ZAPATA em 1919.
Assassinatos, traições, intrigas à Mexicana. Da Frente de vários Partidos ou Movimentos desde 1929 destaca-se o PNR – Partido Nacional Revolucionário. 1938 PRM, Partido Revolucionário Mexicano e finalmente o PRI – PARTIDO REVOLUCIONÁRIO INSTITUCIONAL absorvendo todos os outros. 70 Anos ou mais de herança de Poder Político. Mercê de reformas se perpetua. Depois de muita luta pelo Poder desde 1910, o Partido que chamar-se-ia PRI, transforma o México na primeira
República Socialista das Américas e de PARTIDO ÚNICO. (Saudação partidária estilo Mussolini, Hitler, Franco, Salazar). Poder consecutivo de 1946 a 2000.
O Partido passa então a dominar tudo e todos desde Funcionários Públicos, Sindicalistas e Associações de Trabalhadores e de Empresários, controlo do Congresso, legitimandose em eleições fraudulentas segundo observadores independentes. Depois de 54 anos “larga” o Poder. Justificada a derrota eleitoral pela mudança da estrutura partidária iniciada por Miguel de la Madrid em 1982 e terminada por Ernesto Zedillo em 1994.
Ora aí está a mudança iniciada por Samora Machel secundada por Joaquim Chissano. Comparem tirem ilações. Vão mais fundo na análise. O regime Mexicano
teve acusações graves de beneficiar dos barões da droga, corrupção financeira e bancária, assassinatos políticos ocasionando fracturas no Partido e em 1988 e 1994 acusação do PRI ter manipulado os resultados das eleições. O escritor peruano, Mário Vargas LLOSA, teria classificado o regime Mexicano como:
…“A DITADURA PERFEITA”… O actual Presidente do México, Vicente Fox, é o 1º a não sair do PRI desde a Revolução de 1910. Coloca-se a questão se a perda das eleições de 2000 pela parte do PRI não se deva à “traição à revolução” ou por se ter adaptado aos novos tempos. Até mesmo a Igreja Católica perseguida durante o processo mais revolucionário, com a abertura ser-lhe-ia devolvida a liberdade de expressão…”Portanto, a cara do PRI modificou-se radicalmente durante as décadas de 80 e 90. Tudo o que havia existido de combativo foi superado, tudo o que havia de corrupto, violento e inescrupuloso foi multiplicado e o México voltou à sua condição
“original” de irmão pobre e dominado indiretamente pelos EUA”...é só mudar alguns nomes de países e estamos em Moçambique nesta citação de um artigo interessante de Gabriel Passetti da USP – Brasil, intitulada… “México, da “Ditadura Perfeita”, à
“Democracia Americana” e prosseguindo…”1 – O caso mais escandaloso foi o de 1988, quando Carlos Salinas de Gortari (PRI), Cuauhtémoc Cárdenas (FDN) e Manuel Clouthier (PAN) disputaram a presidência do país. Durante a apuração dos votos na noite de 06.07.1988, Cárdenas vencia com ampla vantagem quando “misteriosamente” o sistema de computadores saiu do ar. Todos aqueles que estavam na sala foram retirados e a apuração foi retomada somente no dia seguinte, com o candidato do PRI
tendo uma ampla vantagem sobre qualquer outro candidato. Os números oficiais atestam uma vitória de Salinas (50,4%), com Cárdenas em segundo (30,9%) e Clouthier em terceiro (16,7%). Segundo Igor Fuser, em México em Transe, “Carlos Salinas de Gortari, o presidente que prometeu levar o México aos umbrais do Primeiro Mundo desenvolvido, democrático e civilizado, chegou ao poder através da fraude mais escandalosa da história política do Ocidente” (p. 25). A insegurança paira ainda no México com uma guerrilha de Resistência do Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN… Digam lá, se Moçambique e México, são realmente assim tão diferentes?
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 13.12.2004