Não podia ter sido mais ridículo, o que as forças conjuntas do Ministério do Interior, do SISE e da PRM da cidade de Maputo fizeram para impedir que a Imprensa cobrisse a chegada do mecânico mais famoso de Moçambique, acabado de ser extraditado do Canadá.
Só faltou partirem as câmaras, distribuírem chambocadas e até dispararem tiros, mesmo que fosse para apenas intimidar. Houve violência e muitos empurrões por parte dos agentes da Polícia aos jornalistas, nossa perseguição em alta velocidade ao carro celular da PRM pelas avenidas principais da cidade, muita transgressão aos sinais vermelhos, colaboração por parte dos populares que nos iam indicando o trajecto, etc.
Mas acima de tudo, uma actuação patética e desnecessária, fazendo-nos perguntar o seguinte: o que querem esconder ainda mais?
A partir das 7.30 H de sábado, tudo o que era órgão de comunicação social moçambicana estava no aeroporto de Mavalane, a aguardar pelo indiciado no assassinato do jornalista Carlos Cardoso e foragido, por duas vezes, da chamada cadeia de “máxima segurança” do País, da primeira vez para a África do Sul e da segunda para o Canadá.
Viríamos a saber, mais tarde, que viera acompanhado por agentes da Interpol num avião comercial da British Airways, de Toronto a Londres. Daqui, veio num avião da South África Airways e que em Johanesburgo permaneceu no avião, até ao transbordo num bimotor da Polícia sul-africana.
Após os dois aviões comerciais da LAM levantarem voo, na cafetaria do aeroporto só restava o pessoal da Imprensa, até que começou a chegar nova gente, logo identificada como os “bufos” da segurança. Era o indício de que a hora da chegada de Anibalzinho estava próxima. Causava, no entanto, alguma estranheza não ver, próximo da pista, nem agentes fardados, nem carros da FIR, como aconteceu da primeira captura de Anibalzinho na África do Sul.
Alguma coisa estava errada.
No entanto, duas pessoas, de raça branca, também não saíam da cafetaria: era o pessoal da embaixada do Canadá, o que veio a dar certezas de que Anibalzinho chegaria mesmo nessa manhã.
Faltavam uns 15 minutos para as 10H, quando um pequeno avião bimotor, com o símbolo da Polícia sulafricana, aterrou na pista. Foi dado o sinal: “Anibalzinho está a chegar”.
De repente, uma ambulância amarela do aeroporto faz-se à pista. O bimotor segue-o e a conclusão é óbvia: “Fomos fintados, os gajos vão levar o Anibalzinho para a pista da Força Aérea”.
Correrias pelas escadas, salto para os carros da Imprensa, alta velocidade em direcção à Força Aérea.
Entrada sem pedir licença, chegada ao local, antes mesmo do mecânico do Alto-Maé sair do avião.
É aqui que começa todo o esforço patético por parte das autoridades para impedir a Imprensa de cumprir o seu dever constitucional de informar a opinião pública. Ameaças por parte dos militares, dos agentes da Polícia e do SISE: “Recuem, vamos partir as vossas máquinas, vocês não estão autorizados a permanecer aqui. Fora!” e a nossa resposta “Partam, para nós tudo é notícia”. Diálogo de surdos entre os homens da escrita e os militares e polícias, enquanto os da imagem filmavam e fotografavam, escondidos por detrás dos carros.
Sai, não sai do avião, sai, não sai. As autoridades fazem um cordão de segurança entre o carro celular da Polícia e o avião, e Anibalzinho sai escondido, às correrias. Entra na viatura. Mesmo assim, conseguimos a imagem.
Nova tentativa para fintar a Imprensa. Os nossos carros estão posicionados para perseguir o carro celular, mas um carro patrulha da PRM é posto para bloquear o acesso. O carro celular parte. Um militar e um bufo tentam impedir, com as mãos, que as nossas viaturas avancem. Brrum-brrum, fazem os nossos carros “sai da frente, avança, motorista!”, gritámos nós.
O carro celular parte, ganha distância. Avançamos.
À saída, os portões são fechados. Só que não há rede e entramos no mato. Retornámos ao asfalto.
Os populares, ao longo das avenidas, vão-nos indicando o caminho dos carros da Polícia. Perseguição pela Av. de Acordos de Lusaka, até ao Alto-Maé. Seguimos pela Av. Eduardo Mondlane. As nossas viaturas vão tocando buzinas, para afastar os carros da frente, que nos deixam passar. Sinal vermelho não era nada, era como se fosse tudo verde.
Viramos à direita, sempre em altíssima velocidade, pela Av. Vladimir Lenine e depois Av. 24 de Julho, sempre a perseguir, até à entrada no Comando da PRM.
Aqui, dois agentes, que não sabem a que se deve esta presença abrupta e tão grande da Imprensa, impedem-nos a entrada. Todos os jornalistas entram em bloco. Os agentes não sabem o que fazer mais.
Ainda conseguimos ver, de longe, o esforço que a Polícia faz, para bloquear qualquer imagem, perante a entrada de Anibalzinho nas instalações que dão acesso às celas. Havíamos, afinal, chegado antes de o tirarem do carro celular.
VERTICAL- 24.01.2005
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