Antes vestir Chanel no curral da ‘Quinta’, e sair de lá vencedor e de limusine, José Castelo Branco quis ser bailarino e modelo. Nunca lá chegou. Nos anos 80 fez sensação na noite de Lisboa de saltos altos – foi à Inspecção Militar de saias. Era o travesti Tatiana Romanov. A mulher que havia em si passou-lhe com um filho. Vestiu outra vez calças, foi à luta. Descobriu que sabia vender tudo, desde quadros e jóias, a ele próprio.
A casa tinha buganvílias no alpendre e ficava em frente ao cineteatro, na rua principal de Tete, (Moçambique). O filho mais novo do casal Vieira – que já tinha dado ao mundo um combatente pela independência – vestia fatos babica (termo usado para designar calçãozinho e casaco azul escuro) e gostava de patinagem artística. Entre a casa colonial de Moçambique ao grande chalé do século XVIII de São Pedro de Sintra onde vive agora, vão muitos anos. E uma lady inglesa, fatos Chanel e Dior, jóias, um jeito incrível para vender, saltos altos e um travesti chamado Tatiana. Dos três filhos de dona Nini – Sérgio, Gabriela e José – foi este último, o futuro Castelo Branco, o que lhe deu menos trabalho. “Muito boa boca” e “muito educadinho”, é como a mãe descreve o filho mais novo. “Ele gostava de patinagem artística. Não de futebol, não de patins... a essas coisas não ligava. O que ele queria mesmo era a patinagem artística, e até tinha jeito, lá no rinque em frente da nossa casa.” Na década de 60, em Tete, rapazes e raparigas levavam bebidas e salgadinhos para as matinés ao som do gira-discos. Chamavam-lhes as ‘parties’, dançava-se ao som dos ‘Sheiks’. Moçambique ainda era Ultramar. O ar maneiro do menino Vieira não era bem visto e a família proibiu-lhe os devaneios artísticos. “Acabámos por não deixá-lo ir para o rinque. Antigamente as pessoas viam mal em tudo e comentavam que aquilo era para meninas”, diz Dona Nini. |
Inês Castelo Branco – a Dona Nini – é filha de um escrivão, casou com o indiano Francisco da Silva Vieira. Aos 84, 86 anos (“nem sei quantos tenho”) na casa onde vive a filha, em Loures, afiança sem grande dificuldade que “tinha muitos criados e muitas propriedades”. E que o marido era “encarregado de uma empresa na Rodésia”. Depois enrolam-se-lhe as memórias e balbucia que era ela que ajudava a contar o gado, a fazer os salários, os palheiros... mas isso “era dantes”. Antes do menino José. “Vendemos tudo.”E mesmo a vivenda das buganvílias se foi com as nacionalizações.
O 25 de Abril apanha pois a família. A filha já vive na metrópole. O filho mais velho pertence à Frelimo, é amigo de Samora Machel. Quando Sérgio Vieira comemora a independência (chegará a ministro), os restantes Vieira fazem o percurso dos retornados.
Aos 12 anos, o filho mais novo fica em Portugal, internado em colégios, como muitos meninos que vieram nessa altura das ex-colónias. Primeiro no Valsassina, depois em Coimbra. Os pais regressam a Moçambique e retornam vezes sem conta, “para ver como se podia recomeçar do zero”, diz Dona Nini. E compram um apartamento em Loures.
A meio da adolescência, José arranja emprego. Teria 15 anos e anda agarrado ao pau de uma vassoura num salão de cabeleireiro. Isabel Queiroz do Vale lembra-se do adolescente educado. “Penso que ele apareceu a oferecer-se para trabalhar.” José varria o chão, apanhava as toalhas e pouco mais. Nunca chegou a aprendiz. Não teve tempo. Foi-se como apareceu.
OS PRIMEIROS APLAUSOS
Ivone Moreira, ou melhor Ivone da ‘Alta Roda’, o nome da casa de moda que vestiu a alta sociedade lisboeta e o Parque Mayer, deu guarida a um adolescente moçambicano. Chamava-se José. “Eu tinha uma sapataria num centro comercial em Campo de Ourique e ele começou a aparecer por lá. Conversava comigo. Era um querido.”
José conta-lhe que quer ser bailarino. Ivone ‘Alta Roda’ acha graça àquele rapaz tão espevitado, tão inteligente e decidido. E ele acaba por se mudar para casa da dona da sapataria, na altura bem relacionada – Ivone fazia a cenografia e vestia muita gente conhecida dentro e fora do palco. Até da televisão.
“Foi então que resolvi organizar uma passagem de modelos no antigo Cinema Europa e entreguei-lhe a cenografia do espectáculo. Ele tratou da música e da dança. Era o bailarino de serviço, entrava em cena e ia buscar os modelos; gente conhecida do espectáculo, desde a Simone de Oliveira à Lenita Gentil.”
José Vieira desabafa com a mentora, a quem chama de tia: já não lhe basta ser bailarino, quer ser conhecido internacionalmente. Ela diz-lhe: “Agora é contigo”.
Quando corre a cortina do Cinema Europa, José já tinha os contactos telefónicos de quem com ele havia contracenado. Ivone, tão bem relacionada e que tão bons conselhos tinha dado a José, perde-lhe o rasto. “Vi-o anos depois, já como mulher. Fiquei estupefacta.”
O NASCIMENTO DO TRAVESTI
Na edição de 21 de Dezembro de 1978 do ‘Sete’, o jornalista Eduardo Guerra Carneiro interroga: “Lisboa, capital do terceiro sexo?”. No texto que se segue, surge Belle Dominique, na altura com 28 anos e no auge da carreira de travesti.
O alentejano de Moura que deu corpo a esta personagem chama-se Domingos Machado. “Nunca tive grande amizade com a Tatiana (nome do travesti de Castelo Branco). Via-a meia volta; um olá, tudo bem, beijinhos, abraços. Comprimentos de circunstância!”
Domingos Machado recusa-se a classificar a persona feminina de José Vieira como um travesti – faltava-lhe arte “Ele era um exibicionista como outros que andavam na noite naquela altura. Mas era elegante. Éramos todos naquela altura, éramos jovens.”
Guida Scarlatti foi outro ícone do travestimo português; teve um ‘night club’ com o seu nome. Carlos Ferreira, o intérprete da Scarlatti, diz que a Tatiana de Castelo Branco nunca conseguiu dar o salto – “De actor de travesti ele não tinha nada. Não basta um homem vestir-se de mulher e fazer umas bichices. É preciso arte”.
Nem Scarlatti, nem Débora Cristal. Fernando Santos lembra-se das aparições fulgurantes do ‘Conde’ entre os travestis, mas nunca o viu como um profissional. “Era um excêntrico, elegante, nada mais do que isso. Lembro-me que às vezes me fazia lembrar a Diana Ross, quando aparecia com a cabeleira afro. Usava uns vestidos coleantes e um cabelo muito comprido.”
José percorria a noite vestido de mulher, “giro mas sem roupas de marca”, dando nas vistas. Numa festa, Carlos Ferreira viu-o num ‘playback’ de Shirley Bassey. Não se deixou impressionar. “Para nós, era um ‘gay’.”
Do rótulo, José Castelo Branco nunca se livrou. Em Dezembro, na ‘Quinta das Celebridades’, rico e bem casado, em segundas núpcias com Lady Betty, recuperou a figura feminina com a qual se celebrizou nos anos 80. E enquanto desfilava outra vez de saltos altos, fugiu-lhe a boca para o chinelo e desabafou: “Eu não sou paneleiro, porra!”
Mesmo em cima do salto alto, José Vieira era querido entre as mulheres. Rodeavam-no, como as abelhas no mel. “Vá lá saber-se porquê?!”, diz Carlos Ferreira que se lembra de vê-lo (vê-la) desfilar de braço dado com algumas – particularmente uma. A acompanhante pendurada no braço dava nas vistas. Era bonita e José/Tatiana apresentava-a como a sua secretária.
Abel Dias, repórter do social há 34 anos, conheceu nessa altura José. E lembra-se bem dessa rapariga – era Maria Arlene a futura mulher e mãe do filho. “A história da secretária é um ‘fait-divers’. Penso que ele a conheceu nessa roda de amigos e ela apaixonou-se por ele, mesmo vestido de mulher. O José foi à Inspecção militar vestido de secretária e levou-a pelo braço. É assim que ele aparece aos militares. Evidentemente foi para casa.”
Abel Dias não atribui particular importância ao esdrúxulo hábito – quando Tatiana era ‘viva’ a noite era povoada por pessoas bizarras.
Mas não esconde que ficou desapontado quando o ‘marchand’ de arte escolheu a televisão para vestir outra vez saias. “Quando o vi vestido de Tatiana na ‘Quinta das Celebridades’, liguei-lhe a descompô-lo: ‘Tu não tens vergonha, depois destes anos todos?!’ A primeira coisa que ele me disse foi: ‘Mas eu não estou uma gaja boa!?’”
A tal ‘gaja boa’ tem pelo menos um sincero admirador – Abel Dias. “Ele era uma Rita Hayworth, uma coisa entre o sério e o faz de conta, uma homenagem à princesa russa, a herdeira desaparecida dos Romanov. Representa a força que o Zé sempre teve para fazer as coisas ‘my way’.”
(Numa das suas crónicas na ‘TV Guia’, sobre o ‘reality show’ da TVI, Abel Dias escreveu que José Castelo Branco subiu as escadas da ‘Quinta’ como a Glenn Close no filme ‘Sunset Boulevard’. José sentiu-se ofendido: “Eu não sou a Glenn Close, sou a Joan Crawford. Não sou imitações, sou o original!”, ralhou pelo telefone.)
TEMPOS OBSCUROS
A 4 de Dezembro de 1980 morre Francisco Sá Carneiro num acidente de avião. A abertura do Trumps, marcada para esse dia, é adiada para Janeiro.
O clube nocturno nasce da associação de quatro sócios do restaurante O Grupo e de uma “esteticista com mundo”, como descreve o repórter do social Abel Dias – a Rosa Maria.
“Nenhum de nós estava preparado para o sucesso”, conta ela. O espaço ‘kitsch’ foi decorado com a prata da casa. A senhora do bengaleiro forrou banquinhos com napa, as paredes foram pintadas de preto, na antiga cozinha do restaurante O Grupo ficou o balcão frigorífico – a única coisa que compraram, além dos copos.
Rosa Maria fala de tempos loucos, de um sucesso imenso e de uma casa que ainda não tinha tanta conotação ‘gay’. Lembra o seu cliente mais carismático, António Variações, e dois empregados, Pedro Lata e Vítor Baeta – “esses sim conheciam a Tatiana” –, todos pertencentes a uma geração mais nova que a dela e entretanto desaparecida.
Nenhum dos protagonistas destas noites, de Belle Dominique a Rosa Maria, sabe muito bem o que fazia José para se sustentar, a si e à elegância de Tatiana. Dona Nini, mulher prática, diz que o filho frequentava aulas nocturnas. O que fazia depois da escola... “não sei, nem me interessa”.
Em Setembro de 2004, José Castelo Branco, numa das suas muitas entrevistas, e nas quais tantas vezes se reinventa, respondeu: “Mais tarde, já trabalhava em moda, fui para um salão ao lado do Ritz Club, na praça da Alegria, ao pé das prostitutas. Então tive uma ideia: comprei uma maquineta para fazer vapor e ía fazer limpezas de pele aos chulos! E ganhava horrores! Chegava a fazer, por noite, três contos – estou a falar-lhe de 1980! Comprava-se um bom apartamento por 1000 contos. Depois, ia divertir-me à noite – só precisava de estar a trabalhar às 10 da noite seguinte.” (em ‘A Capital’)
Mas uma jornalista, que há mais de três décadas trabalha no mundo da moda, desmente pelo menos a primeira parte da resposta de Castelo Branco. Ele nunca pertenceu ao meio – nem foi manequim, nem costureiro.
Certo é que, então como hoje, José esforçava-se por estar ‘up to date’. Uma empregada do ateliê de Ana Salazar lembra-se bem dele (melhor dela, a Tatiana) ser cliente da loja da Avenida de Roma. Lembra-se de o ver na primeira fila dos desfiles, sem ser convidado. Sempre vestido de mulher.
O mais perto que esteve de um desfile de moda foi pois na adolescência, no Cinema Europa, graças à Ivone da ‘Alta Roda’, a mesma que fazia os cenários dos ‘Jogos Sem Fronteiras’. Quando ainda queria ser bailarino.
O fascínio pela ‘griffe’ vem de longe, começa em rapazote quando aparece na agência de modelos de Marluce (ex-mulher de Carlos Cruz). Foi lá que Maria Afonso o conheceu e lhe achou graça. “Ele era um daqueles rapazes que por ali andava, encantados com as manequins, a achar que éramos objectos de adoração.”
Tanta foi a bajulação que Maria Afonso acaba por condescender. Deixou-o expandir a criatividade no ‘make-up’. José fez-lhe uma maquilhagem às ondinhas lilases e cor-de-rosa junto aos olhos, delineados a preto com ‘eyeliner’.
Mas foi a moda que lhe trouxe mais conhecimentos. Depois de Maria Afonso, segue-se Marianela Mirpuri (mais tarde, madrinha de baptizado do filho de José e do casamento deste com Lady Betty na Conservatória do Registo Civil de Loures). A vice-presidente da Air Luxor, empresa de aviação privada dos Mirpuri, diz que o conheceu há cerca de 22 anos, num “curso de valorização pessoal” de Brian Mccarthy – “Ficámos logo amigos”.
O professor da grande maioria dos manequins portugueses vasculhou os registos e encontrou a ficha de Marianela. De José Vieira, José Castelo Branco ou Tatiana Romanov, nem sombra.
Depois deste primeiro encontro, Marianela Mirpuri perde o rasto a José. Casa-se e vai viver para o estrangeiro. No regresso, anos depois, ele vai bater à porta dos pais da antiga amiga. “Reatámos o nosso relacionamento de amizade que se mantém até hoje.”
ADEUS TATIANA
Júlio Quaresma lembra-se da Tatiana subir o Chiado, à luz do dia. Na época, o pintor frequentava a Faculdade de Arquitectura. José andava na Escola António Arroio.
O chá na Pastelaria Caravela era obrigatório entre os estudantes e ninguém podia não dar pela mulher que se fazia à Baixa cheia de chique.
Júlio Quaresma diz que, como apareceu, a personagem da Tatiana “desapareceu do circuito”. Só anos mais tarde a encontraria. De calças.
José começa a viver com a mulher que trazia pelo braço nas noite do circuito Trumps. “Da amizade, nasceu o amor”, diz Abel Dias. A gravidez de Maria Arlene mata a Tatiana.
O casal vive no apartamento de Loures. A vida séria traz-lhe problemas, está sem dinheiro. José e Arlene começam a fazer tapetes de Arroiolos, para vender. Maria Afonso, a manequim que depois da moda se tornou jornalista, diz-lhe que lhe fez uma compra. “Era impossível não gostar dele. Lembro-me de o ouvir dizer que tinha ido visitar uma tia e que por isso tinha estado nas traseiras do meu prédio, a mirar, a mirar. Disse-me que sabia exactamente qual era o meu apartamento pela ‘lingerie’ que lá estava a secar. Achei uma graça!...”
Helena Lima (futura mulher do advogado Galvão Telles) cruzou-se com ele nos seus tempos de manequim. A vida deu voltas. Mas José, quando se viu em aperto, depois da paternidade, procura-a – ela era dona de uma galeria de arte – e pede-lhe ajuda. É bem sucedido, descobre a sua verdadeira vocação: vender. “(...) uma coisa que as pessoas não se podem esquecer nunca: eu sou, acima de tudo, um vendedor.” (’A Capital’, 18/9/2004).
Mas a vida dói. Para chegar à galeria, em Cascais, apanha dois transportes públicos.
FAVORES EM CADEIA
Em 1991, Lili Caneças vai a um bar no Tamariz, depois de um jantar para 50 pessoas dado pelo Barão Stefan von Breisky. “Quando lá cheguei vem ter comigo o Gonçalo Lucena, que me diz: ‘Lili, quero apresentar-te uma pessoa’.” Era José, nessa altura já Castelo Branco.
Logo nessa noite confessa com despudor a grande admiração por Lili Caneças – tinha sido ele a pedir para ser apresentado. “Disse-me que era meu fã, que eu era a mulher mais fantástica do país.”
Quando sai do bar do Tamariz, José traz consigo todos os contactos que pode do grupo da gente fina do jantar do barão.
No dia seguinte telefona à amiga da véspera, convida-a para ir à galeria. José e Lili tornam-se inseparáveis. “Ele estava desesperado, a sofrer horrores por a mulher o ter deixado. O filho tinha dois anos e ele dizia-me que estava numa situação económica difícil, que tinha batido no fundo e que precisava de ajuda para reconquistar a Arlene e fazer com o filho se orgulhasse dele.” O apelo desesperado é música para os ouvidos da ‘socialite’.
Marianela Mirpuri confirma o drama da separação e posterior divórcio. José gostava mesmo daquela mulher “muito bonita”, que lhe dava o braço quando ele era Tatiana.
A futura madrinha de casamento de José Castelo Branco com Lady Grafstein chega a dar guarida a Maria Arlene, quando esta vem a Lisboa para entrar no programa ‘Arca de Noé’, apresentado por Fialho Gouveia.
O relacionamento do casal – diz Marianela Mirpuri – era de grande cumplicidade. “O Zé procurava reencontrar um caminho na vida e a Arlene ajudou-o nesse aspecto.”
A dor de coração exibida tão às claras pelo ‘marchant’ comove. Lili ajuda Castelo Branco como pode; com contactos, levando amigos ricos à galeria e levando-o a ele a acontecimentos sociais e à Igreja da Paróquia de Cascais, na missa das 19h15.
MY FAIR LADY
Júlio Quarema volta a reencontrá-lo no circuito das exposições. Certa noite convida-o para um jantar onde está também uma senhora, velha, abatida pela viuvez, mas rica.
Betty Grafstein, inglesa de nascimento, tinha perdido o marido, um americano judeu dono da Grafstein Diamond Company e deixava-se desleixar sozinha num chalé do século XVIII, em São Pedro de Sintra. Tinha engordado, usava o cabelo pintado de ruivo com franja à Beatriz Costa. Estava bem longe do estereótipo de mulher que José Castelo Branco sempre admirara e procurara recriar.
O ‘marchant’ não domina o inglês. Sempre achara mais fino os francesismos, mas isso não o impede de convidar Betty para visitar a sua galeria.
Abel Dias, que foi convidado durante um mês da casa de Nova Iorque da senhora Grafstein ano e meio depois da viuvez, afiança que a amizade anacrónica nasceu entre os quadros.
“O Zé mudou-a, como muda toda a gente à sua volta. Mudou a Maria Arlene, a mãe e a Betty. Ela diz que o Zé é fantástico a escolher roupa e um desastre a fazer decoração porque não sabe quando parar. A Betty encontrou nele estabilidade. Não a que teve no casamento de 36 anos, mas outro tipo de estabilidade, a da ‘follie’ (folia).”
O casamento chega pelas 17h20 do dia 27 de Novembro de 1996. José tem 33 anos e muita vida vivida. Betty 67. Depois da conservatória de Loures, jantam com os convidados em Colares. A noiva usa mini-saia branca e casa em Regime Imperativo de Separação de Bens, imposto pelo Código Civil quando, por exemplo, um dos nubentes tem mais de 60. Cada um deles, pelo acordo de casamento, conservará o domínio e fruição de bens presentes e futuros. Tal não impede doações.
“O Zé só descansa quando for uma ‘star’ internacional. Estou a vê-lo a escrever um ‘script’ sobre a sua vida e o Almodovar ou a produtora americana Miramax, onde eu tenho contactos, pegar e fazer um filme. O Zé a fazer de si próprio no presente e outro actor a fazer dele em novo. Ele ainda recebe um Oscar! Vão ver”, diz Lili Caneças.
Betty faz a sua velhice como se fosse uma boneca; apaparicada, vestida, penteada, de sorriso na cara. Abel Dias perguntou-lhe um dia por que se tinha casado com José Castelo Branco. A rica Lady Grafstein respondeu-lhe, aristocrática: “Why not!?” (Por que não?!)
EM LONDRES COM O ZÉ
Para recuperar da noite mal dormida no Estabelecimento Prisional de Lisboa – depois do incidente das jóias não declaradas no Aeroporto de Lisboa – José Castelo Branco, acompanhado pela mulher, Betty Grafstein, partiu para Londres, em Novembro de 2003, para assistir a uma Cerimónia de Investidura na Catedral de Westminster.
Com a missão de seguir todos os seus passos, viajei para a capital inglesa, acompanhada pelo fotógrafo Jorge Paula. Encontrei-me com o ‘marchant’ pela primeira vez na sala do exclusivo Banqueting House. Castelo-Branco, num fato azul-escuro Yves Saint Laurent, corria eufórico por entre a multidão de lordes e figuras do ‘jet set’ internacional. Quem lhe encheu as medidas foi mesmo o ex-amante da Princesa Diana, James Hewitt. “Quero uma foto com aquele querido!”, pediu-me. Não tive alternativa senão interpelar o mediático major. Logo que nos viu a trocar algumas palavras, um entusiasmado ‘marchant’ –‘flute’ de champanhe na mão – começou a conversar com James Hewitt como se o conhecesse há anos.
O major pouco habituado a estas intimidades, não fez mais nada: virou-lhe as costas e deixou-o a falar sozinho. Um balde de água fria que chocou o ‘socialite’. “How dare you?” (Como se atreve?) exclamou, bem alto. Indiferente, Hewitt tentava demarcar-se do desconhecido que o tinha vindo incomodar, mas acabou por ser apanhado pelas câmaras indiscretas dos fotógrafos portugueses.
Ao longo dessa noite, que já ia longa para desespero de Betty Grafstein, cansada de se aguentar nos saltos, percebi: José Castelo Branco é um exímio profissional na arte de se encostar. A estratégia é simples: durante os eventos sociais, cola-se ao lado de algumas figuras do ‘jet set’ internacional, na esperança de vir a ser fotografado. E nem o Clero lhe escapa, como aconteceu mais tarde com a Sua Eminência, Mario Francesco, Cardeal Pompedda. E ainda se gaba ele de ser tão acarinhado lá fora
2004 - O ANO DO CONDE
1 de Março
José Castelo Branco é notícia por ter ficado sem o mordomo. Tido pelo ‘marchand’ como “um brasileiro com óptimo aspecto”, António Carlos Oliveira começou por ser retido no Aeroporto de Lisboa para, horas mais tarde, ser deportado para a sua terra natal.
10 de Março
José Augusto Silva, mordomo do ‘marchand’ durante seis meses, depois de lhe atirar uma tábua de engomar, revela que o ‘conde’ “não tem nível nenhum” e “vive à custa da senhora (Betty Grafstein)”, culminando com uma tirada histórica: “é contrabandista de jóias e roupas de marca”.
3 de junho
Peixarada a bordo de um avião da TAP, quando Castelo Branco discute com o comandante. O ‘conde’ entrou na aeronave e instalou-se com Betty Grafstein e a secretária na classe executiva. As duas senhoras só tinham bilhetes de classe económica. Foi o pandemónio na Portela.
12 de Agosto
O Mercedes de José Castelo Branco é alvo de um pequeno assaltado. Pequeno, por que no meio do azar o material furtado foi diminuto: um vidro partido, um maço de tabaco e o símbolo da viatura (a estrela). Acabou por ser um mal menor, já que os larápios não levaram mais nada
31 de Dezembro
Ao fim de três meses a dar espectáculo e a fazer subir as audiências do primeiro ‘rurality show’ da TVI, José Castelo Branco é coroado rei da ‘Quinta das Celebridades’. Sai da Herdade da Baracha pela porta grande, não sem antes receber de Alexandre Frota um muito aguardado beijo na boca.
O QUE ELE DIZ...
“Mas aquele cavalo está sempre excitado. Que horror. Lá está ele com o pirilau todo de fora. Que vergonha”.
“Lá vamos comer o rabo da outra”.
(Sobre o rabo da novilha)
“Podíamos era fazer de três espanholas, ficava o máximo”.
(Para Alexandre Frota e Jorge Monte Real)
“Ai que horror, sua bicha horrorosa”.
(Para Alexandre Frota)
“É feia como um trovão e pindérica”,
(Sobre Paula Coelho)
“Eu tenho muito poder de olhar. Eu olho e fulmino”.
“Eu não digo nada, só olho e fico logo uma serpente venenosa. Eu sou uma cobra”.
“Óscar não olhe para essas coisas, vire a cara que ele é um doido”.
(Ao ver Frota a tomar banho)
“Ai que horror! Ai meu Deus que ele se vai despir todo. Ai meus Deuses poupem-me ”
... O QUE DIZEM DELE
“Ele nunca irá compreender o quanto é inconveniente e mal-educado. É um narcisista e portanto nunca se autocrítica”.
(Ana Maria Lucas, ‘Correio da Manhã’)
“Tenho uma frase muito antiga, que é: ‘quando as coisas cheiram a caca, devemos afastar-nos e não aproximar-nos’. Foi o que fiz”.
(Ana Maria Lucas, ‘Nova Gente’)
“Não existem pessoas como o José no universo das pessoas com vidas normais. Parece saído da ficção”.
(Júlia Pinheiro, ‘TVMais’)
“Fazia um sacrifício enorme para o compreender e lidar com ele, porque é completamente desequilibrado”,
(Paula Coelho, ‘Nova Gente’)
“Nem na RTP, nem noutro canal, porque não há circo na televisão”.
(Teresa Guilherme, sobre a possibilidade de José Castelo Branco fazer um trabalho em televisão, ‘24 Horas’).
“Punha-o num desses espaços de publicidade a vender artigos de ‘sex-shop’”.
(Francisco Moita Flores, sobre a possibilidade de José Castelo Branco fazer um trabalho em televisão, ‘24 Horas’).
...............................................................
CORREIO DA MANHÃ - 09.01.2005