É quase unanimidade os analistas políticos atribuírem o mal-estar do nosso
País, ao sistema de concentração de poder, encoberto numa manta
multipártidária desde o longínquo ano de 1990.
A conjuntura, do final da guerra fria e da "perestroika" determinaria,
apressadamente, não a discussão de um amplo projecto de País, eternamente
adiado, depois de ter sido amarfanhado pelos Acordos de Alvor, mas a simples
publicação de um decreto, dando por fim o sistema monopartidário, que tantos
assassinatos selectivos e de Estado gerou, a par de desavenças, guerras e
desunião entre os angolanos.
Degladiaram-se afanosamente os "políticos-armados" pela posse do poder,
usando todos os meios para esse fim, mandando às urtigas os interesses do
Estado, subordinando-os aos benefícios pessoais e dos partidos.
Os povos, reféns dos poderes das baionetas e temerosos, não tiveram outra
alternativa senão a de acompanharem acorrentados a marcha fúnebre para um
pleito eleitoral, onde a convicção na deposição dos votos foi substituída
pela emotividade de propagandas eleitorais prometendo o céu e a terra.
No final o dilúvio acompanharia toda procissão batoteira em função das
ambições, dissidências e frustrações nos dois maiores partidos angolanos -o
MPLA e a UNITA-. Com a recusa desta última, dos resultados eleitorais, o
mote da instabilidade foi dado e o sonho da democracia, com a soberania a
reinar no povo, e o peso do voto popular desvanecer-se-iam num simples, mas
mortífero toque de baioneta, alastrando-se o rastilho de pólvora em todo
torrão nacional.
Em 1992, a má preparação das eleições, a ausência de um clima de confiança
entre os vários actores políticos e a partidarização das instituições do
Estado, incluindo o Exército Nacional e a Polícia deram azo a uma atmosfera
de crescente instabilidade, de guerra, de incerteza e de dificuldades para a
própria governação, com todos os prejuízos daí inerentes.
Um quadro demonstrativo da necessidade de se maturar, as grandes questões
que a todos directa ou indirectamente dizem respeito. As experiências
nefastas, que dilaceram o País, já demonstraram que a paixão clubista deve
dar lugar ao pragmatismo e sentimento nacionalista e não a umbigos
partidários, como até aqui tem sido a prática.
E, a maioria autóctone, não acredita haver meio de pôr mão nisso, por
inexistência de uma instituição, do tipo Presidência República, colocada
acima dos interesses partidários com coragem e vontade política de
despartidarizar as instituições públicas e económicas do Estado, antes das
próximas eleições gerais anunciadas, para se realizarem muito provavelmente
em 2006.
Monopartidarismo democrático
É necessário atacar o mal na origem, isto é, travar o existente império
político de um só partido monopolizador do Estado, numa clara
monopartidarização democrática, agora que se começam a movimentar peças
preparatórias para o pleito eleitoral.
Os intelectuais apartidários, os políticos nacionalistas e os verdadeiros
autóctones devem "fundir" ideias, esboçar projectos, para num conclave de
unidade, criarem a «Teoria da Representação Social», substituta da
representação parlamentar dos partidos, baluarte fundamental para uma
renovação do regime.
Não se pode aplaudir a realização de eleições com a lógica da «batata» na
lei da batota», onde tudo está viciado à partida. Os angolanos assistem em
silêncio a uma peça teatral de fantoches, onde a maioria dos partidos
políticos da oposição são meros espectadores de uma farsa latente.
O partido da situação não precisará, no actual contexto, de apertar o
acelerador ao fundo, no arranque da campanha para as próximas eleições, uma
vez ter o domínio de todo o palco institucional. Pode até ousar ir de férias
às Bahamas ou Brasil e de lá, controlar a situação por remoto controlo.
As nuvens de tão carregadas não parecem visar a estabilidade nacional, mas a
manutenção das mordomias. Não se vinculam a instauração de um projecto de
regime, mas a um projecto de manutenção de poder.
A exaltação da sarrabulhada partidária adia cada vez mais a construção de
uma Angola, como País, onde todas as suas nações, povos e etnias se possam
rever nas oportunidades de realização e nos sonhos de contarem com um Estado
melhor.
Se as eleições são uma meta é preciso ousar e inovar na fórmula de revigorar
o actual regime político. Só com este espírito será possível iluminar o
caminho da esperança, mobilizando-se todas as verdadeiras inteligências do
País, para a grande arrancada da reconstrução e reconciliação nacional.
Caso contrário, uma explosão social, reivindicando maior justiça, mais
emprego, igualdade de direitos, menos discriminação e fim do racismo, terá
repercussões incalculáveis. E a prudência e experiência de tantos anos de
guerra, aconselham a trilhar os verdadeiros carreiros do nacionalismo e
sentido de Estado da actual elite no poder.
Mas, ao que parece, o problema, ontem como hoje, é o mesmo: os interesses da
classe política não coincidem com os interesses nacionais, e não raras vezes
dele divergem.
Jan 20, 22:11
Fonte:Folha 8 (William Tonet )