Plano da PRM teve efeito perverso
Teve um efeito completamente perverso o esforço da Polícia da República de Moçambique (PRM) de tornar o menos mediático possível o desembarque em Maputo do extraditado prisioneiro Aníbal do Santos Júnior (Anibalzinho), líder assumido do esquadrão de morte que liquidou à metralha o jornalista Carlos Cardoso, em 22 de Novembro de 2000.
O esquema da PRM consistiu em manter em segredo o plano da chegada do prisioneiro mais viajado de Moçambique.
Descoberta esta agenda, novos estratagemas, também abortados, foram accionados pela corporação da Lei e Ordem, que organizaram uma coligação com elementos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Consta que o contingente que foi recolher Anibalzinho da Base Aérea de Mavalane (militar) utilizou uma via secundária para atingir este local (Inhagóia) e é de lá que pretendia sair, ludibriando os escribas. Isto também falhou porque os jornalistas lograram atingir o local da aterragem onde, tal como já na sede do Comando Geral da PRM, se envolveram numa renhida confrontação física.
Esta infeliz atitude da PRM rapidamente deu azo a especulações segundo as quais este inglório esforço das forças da Lei e Ordem visava esconder Anibalzinho em Maputo para depois ser apresentado publicamente à Imprensa em cerimónia pomposa e cuidadosamente preparada, depois da tomada de posse do novo Governo.
Diferenças entre 2002 e 2005
Anibalzinho chegou algemado a Maputo, a bordo de uma pequena aeronave da Polícia da República da África do Sul, depois de esta corporação o ter recebido das mãos da sua congénere canadiana que o transportou de Toronto a Joanesburgo (via Londres) sob custódia daquela e de agentes da Polícia Internacional (INTERPOL).
Entre os oficiais superiores da PRM presentes na Base Aérea de Mavalane destacavam- se o director Nacional da Ordem Pública, Custódio Zandamela, e o director nacional da Polícia de Investigação Criminal (PIC), Flávio Menete, que exibiam um semblante carregado.
Contrariamente à palhaçada de Janeiro de 2003, desta vez Anibalzinho não pôde fazer teatro. Desceu do avião algemado, braços atrás, cabisbaixo e rapidamente entrou para a viatura celular da PRM que o aguardava e se retirou do local a alta velocidade e sob escolta de outras viaturas com polícias armados e uniformizados e outros à paisana.
Acomodado no Comando
Do Aeroporto de Mavalane o dito “delinquente por tendência” condenado a 28 anos e seis meses em 31 de Janeiro de 2003 seguiu directamente para o Comando Geral da PRM, onde está enclausurado, por se considerar a chamada “cadeia de máxima segurança”, vulgo BO, frágil para acolher este jovem que de lá já escapou pelo menos por duas ocasiões: 01 de Setembro de 2002 e 09 de Maio de 2004.
Ao que o Correio da manhã apurou, os outros cinco réus do “Caso Carlos Cardoso” deverão esta semana ser também transferidos para as minúsculas celas do Comando Geral da PRM.
Esta decisão está já a agitar alguns dos principais intervenientes neste processo, devendo alguns dos advogados dos implicados neste processo promover, ainda hoje, em Maputo, uma conferência de Imprensa para denunciar este plano, que dizem ser ilegal e injusto, para além de com ele se pretender “intimidar e matar lentamente” os prisioneiros condenados em primeira instância mas que interpuseram recurso.
Para além de Anibalzinho, são os seguintes os restantes elementos considerados implicados na morte de Carlos Cardoso: Momade Assif Abdul Satar (Nini), condenado a 24 anos de prisão, Vicente Norotan Ramaya, Manuel dos Anjos (Escurinho, Calú ou Caló), Carlos Rachide Cassamo (Carlitos) e Ayob Abdul Satar, todos eles condenados a 282 meses de cadeia, cada.
Há quem diga que o plano de transferência deste grupo para o Comando Geral da PRM tem em vista “pressioná-los” a fim de nunca revelarem o alegado “autor moral verdadeiro” da morte de Carlos Cardoso. (Redacção)
CORREIO DA MANHÃ (Maputo) – 24.01.2005