O secretário-geral da FRELIMO e candidato vencedor por esta organização às eleições presidenciais de Dezembro passado em Moçambique festejou a entrada ao ano de 2005 num convívio que reuniu cerca de mil membros das diversas sensibilidades do seu partido, durante o qual estendeu a mão a todos eles e fez algumas advertências.
Realizado na sua quinta nos arredores de Maputo, Armando Emílio Guebuza, reuniu frelimistas das correntes samoriana, chissanistas, antigos combatentes, os da chamada "nova geração" e seus confidentes, onde apelou a todos para que se juntem em torno do seu programa governativo que prioriza a reconstrução nacional, o reforço à dignidade da moçambicanidade, luta contra o neocolonialismo e a corrupção.
Alguns convivas no evento que vieram afiançar ao Correio da manhã como se desenrolou a cerimónia referiram ter sido fácil perceber nas entrelinhas da
intervenção de Guebuza que ele pretende seguir a linha do black empowerment, implementada com aparente sucesso pelos dirigentes negros que assumiram o poder na África do Sul após a derrocada do regime do apartheid.
Machelismo
Aparentemente com a mira na cadeira para a presidência do próprio partido, Armando Guebuza frisou, na altura, esperar pelo contributo de todos os camaradas para a consolidação da organização que já foi presidida por Eduardo Mondlane, Samora Machel e Joaquim Chissano (hoje).
Guebuza deixou claro que a mão que abre hoje para os integrantes de todas as sensibilidades do partido FRELIMO é uma oportunidade que dá inclusivamente aos seus adversários dentro da organização "para esquecerem o passado e ajudarem a construir" o seu projecto.
Todavia, o general na reserva, homem de negócios e hábil político, avisou que não teria problemas de ir à luta com a sua ala para ser vencedor, caso alguns camaradas não quisessem se enquadrar no seu projecto.
Mesa da unidade
Na mesa de honra que foi baptizada por "mesa da unidade", Guebuza aparecia ladeado por Eduardo Mulémbwè, António Hama Thay, Pascoal Mocumbi, Eduardo da Silva Nihia, Virgília Matabele e o irmão mais velho de Samora Machel (Boaventura Machel), também conhecido por Boase, no seio familiar.
Foi notória a ausência na festança da família Chissano. Alguns dos participantes no convívio comentam que ela se deveu, em parte, ao desejo do actual chefe de estado de não ofuscar a imagem do novo homem forte de Moçambique. Circulam, no entanto, especulações díspares que só o futuro descortinará.
Factual é que, conforme apurou o Cm, Chissano e família estão desde depois do Natal em gozo de férias, devendo regressar (o PR) ao seu gabinete de trabalho na próxima semana, para desencadear o processo de passagem do testemunho ao seu sucessor, Armando Guebuza.
A festa organizada por Guebuza fez com que em muitas cerimónias do reveillon organizadas nos diversos hotéis da capital, onde é frequente a presença de elementos da nomenclatura local, fosse nítida a ausência destes, no entender de muitos analistas porque ninguém quis desperdiçar a oportunidade de ser visto pelo novo chefe nacional.
Correio da Manhã(Maputo) - 5 de Janeiro de 2005