Noticias Lusofonas - 16-Jan-2005
As escavações arqueológicas em Salamansa, Cabo Verde, que poderão provar a presença humana no arquipélago antes da chegada dos portugueses, em 1460, serão retomadas em Março, garantiu hoje o presidente do Instituto de Promoção Cultural (IPC).
O concheiro, localizado em São Vicente, foi descoberto há seis anos por um grupo de arqueólogos portugueses, que identificaram vários artefactos domésticos rudimentares, cujas características apontavam para que tivessem sido fabricados há séculos, por africanos e não por europeus.
Alguns desses objectos (de cerâmica, ferro e cobre) foram enviados imediatamente para Lisboa, onde as análises feitas pelo Instituto de Engenharia Civil (IEC) de Portugal, através do processo de carbono-14, fizeram aumentar ainda mais o entusiasmo dos cientistas.
Em causa estava a possibilidade de Cabo Verde ter sido povoado ou pelo menos frequentado por povos oriundos da costa ocidental africana antes de ser descoberto pelos portugueses em 1460, o que obrigaria a reescrever a história do arquipélago, no que toca ao seu achamento.
Esta hipótese, encarada como "possível" por especialistas portugueses e cabo-verdianos chamados a pronunciar-se sobre a matéria, não teve confirmação, uma vez que não se fizeram os testes posteriores que determinariam,inequivocamente, a idade do concheiro.
As autoridades cabo-verdianas voltaram a despertar para a importância arqueológica da estação quando, em Outubro de 2004, após uma visita ao sítio, localizado na ilha de São Vicente, o arqueólogo português Cláudio Torres voltou a chamar a atenção para o concheiro.
Outro especialista português que também defendeu a necessidade de escavações exaustivas no local é João Luís Cardoso, que se mostrou, desde o primeiro momento, entusiasmado com o achado, considerando que, no mínimo, terá existido ali, uma antiga aldeia piscatória.
Entretanto, e até que se faça luz sobre os objectos encontrados no concheiro, a posição do presidente do IPC de Cabo Verde é de prudência, por considerar que "nada está provado" e que quaisquer conclusões "só deverão ser tiradas após a conclusão da segunda fase das escavações".
Carlos Carvalho garantiu à Agência Lusa que essas escavações "terão início em Março, embora tudo dependa dos resultados dos contactos estabelecidos com o professor João Luís Cardoso", da Universidade Nova de Lisboa, que deverá chefiar os trabalhos arqueológicos.
Aquele responsável mostrou-se, por outro lado "um pouco preocupado" com o estado de conservação em que possa encontrar-se o concheiro, uma vez que, na sua opinião, "pouco ou nada foi feito para a sua conservação.
Carlos Carvalho garantiu que é intenção das autoridades cabo-verdianas "dar à estação o valor que vier a merecer", adiantando ser intenção do governo "transformar o local numa zona protegida se vier a ser necessário."