DIALOGANDO especial
Foto Legenda por João CRAVEIRINHA
Uma Imagem Vale Mais que Mil Palavras! (Provérbio Chinês)
COMBATE DE MARRACUENE
GUAZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895
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Ao alto o Combate de Marracuene em Guaza Muthine, Moçambique, em 2 de Fevereiro de 1895 sem vencedor definido. Em baixo à esquerda, imagem de 16 de Abril de 1899, nos Açores, do chefe da revolta anti - colonial nesse Combate, o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo. Traído pelo Imperador de Gaza, Gungunhana, seria desterrado para os Açores, onde constitui família açoriana. No centro o caboverdiano Pedro Baessa, intérprete dos portugueses nesse Combate, chefiado pelo major Caldas Xavier, na foto ao lado. Mais tarde Baessa passaria por Tete e fixa-se em Nampula onde deixaria descendentes aos dias de hoje. (FIM)
02 Fevereiro 2005 [email protected]
COMBATE DE MARRACUENE
GUÁZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895
«…Fambane pambene va-landííí – nhimpííí»…
(tradução: para a frente gente da terra – guerra – ataque; voz de comando de nuãMatidjuana)
Uma Imagem Vale Mais que Mil Palavras. Assim reza um Provérbio Chinês. Era este o subtítulo que me veio à ideia quando montava uma Foto Legenda para a efeméride do Guáza Muthine, utilizando uma pintura colonial do Combate de Marracuene, Moçambique, em 2 de Fevereiro de 1895 sem vencedor definido.
Em baixo da pintura à esquerda, coloquei uma imagem de 16 de Abril de 1899, tirada nos Açores, do chefe dessa revolta anti – colonial, o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo. Seria entregue aos portugueses em Chissano, Gaza, pelo Imperador Gungunhana que o traiu. Nuã – Matidjuana desterrado para os Açores constitui família açoriana e ironicamente ficaria no cativeiro com o homem que o entregou quando exilado em seu território de Gaza anos antes. No centro dessa minha montagem coloco o caboverdiano Pedro Baessa (sénior), intérprete dos portugueses nesse Combate chefiado pelo major Caldas Xavier, na foto a seu lado. Mais tarde, P. Baessa, passaria por Tete e fixa-se em Nampula onde deixaria descendentes aos dias de hoje. Um seu filho, de mãe moçambicana, também Pedro Baessa (júnior), falecido em Fevereiro de 1985, chegaria a Presidente da CM Nampula em 1964.
Mas afinal o que se teria passado em Guáza Muthine? - No meu livro Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos, da página 147 à página 156, tentei descrever de uma forma quase de “ guião cinematográfico”, este combate em Guáza Muthine –, o célebre Quadrado colonial de Marracuene…”Muthine quer dizer lugar de, em língua xi-ronga, e Guáza significa trespassar”…com a lança. Esta efeméride é festejada por muita gente mesmo sem saber ao certo o que aconteceu…”Quem diria hoje que a festa de Guáza Muthine fora proibida de 1975 (na transição) a 1994 pelo poder político revolucionário instalado em Moçambique?”…Outra das confusões é querer conotar com Gungunhana esta revolta dos vaRonga devido aos registos coloniais não admitirem que para além do Império de Gaza outras chefaturas no centro e sul de Moçambique também não se submetiam aos portugueses…”Num discurso em 14 de Março de 1942 “Marcello” Caetano disse: - «Teoricamente possuíam os portugueses na costa oriental extenso domínio, por virtude da utilidade do litoral. Mas, tirando pequena parte da Zambézia e da Ilha de Moçambique, a soberania portuguesa era nominal e os potentados negros e mulatos escarneciam-na impunemente. De maneira que a ocupação efectiva, subjugar potentados, vencer rebeldias, instalar autoridades representativas da soberania portuguesa e assegurar aos colonos o livre trânsito, a segurança e a paz, foi uma nova aquisição das colónias africanas ao fim do século passado (XIX).»…idem in pag. 28, Capítulo II de Terra dos Mpfumos a Lço Marques, Cidade-Capital.
Os eventos seguintes ao Combate de Marracuene…”Meses mais tarde, nuãMatidjuana e Mahazul (chefe dos Magaias) reorganizam-se a norte de Marracuene em Magul, onde se dá novo confronto com o exército colonial, chefiado por Freire de Andrade. Os va-ronga saem derrotados em 7 de Setembro de 1895. Os portugueses espalham o terror na região incendiando as povoações obrigando os chefes locais a prestar-lhes vassalagem. Gungunhana não quis intervir mais uma vez em auxílio aos seus aliados rongas. Aguardava”…ibidem, Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos, pág. 154.
Guaza Muthine é caracterizado por ser um local sagrado de espíritos dos cerca dos 66 guerreiros vaRonga onde …”mortos no local foram enterrados e os feridos eliminados amontoados e cremados com petróleo, deixando um cheiro nauseabundo no ar”…idem.
Que este ano a 2 de Fevereiro de 2005, não seja de novo “o Ano da fúria de todos os espíritos da floresta de Marracuene” como nos anos anteriores, sobretudo em 2000 e 2001, com inúmeros acidentes de viação num total de dezenas de mortos e feridos conotados com esta efeméride devido ao excesso de bebidas alcoólicas e má condução…”Que os espíritos sagrados do Bosque da árvore do canhoeiro em Marracuene nos perdoem e nos protejam!!!”…(FIM)
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 31.01.2005