Afonso Dlakhama
Estamos hoje aqui reunidos para levarmos a cabo o primeiro encontro entre a presidência do partido Renamo e os únicos 90 deputados legitimamente eleitos pelos cidadãos moçambicanos.
Muito nos honra que esses 90 deputados tenham sido eleitos pelas listas da Renamo. Os votos que permitiram a vossa eleição para AR e a nossa para o Conselho de Estado são verdadeiros, são reais, sabemos que são nossos, isso têm o mais elevado valor. São aqueles votos que sobraram depois de um deplorável trabalho de usurpação dos direitos mais elementares de cidadania levado a cabo por aqueles que não conhecem nem respeitam a democracia. Os outros que irão estar convosco na Assembleia da República não sabem de onde vêm os votos que os elegeram, sabendo, isso sim, que não detêm legitimidade democrática, não foram eleitos pelo povo, porque são produto da manipulação eleitoral e do desrespeito pela vontade dos seus con-cidadãos.
Eles estão e devem estar contrangidos, pois no íntimo sabem que não representam de facto o povo moçambicano, mas sim uma oligarquia político-partidário que terão de satisfazer cegamente.
Os únicos 90 deputados da Assembleia da República que são produto directo da vontade do
povo moçambicano são aqueles que foram eleitos nas listas da Renamo. Resistimos à estratégia de aniquilamento político que o partido/Estado queria levar a cabo contra nós e contra o povo moçambicano, para regressar a uma forma de Estado em tudo semelhante ao monopartidarismo, agora mascarado com a tentativa de criação de uma Oposição fantoche. Não o conseguiram e nós, a Renamo e o povo moçambicano, provamos que nunca permitiremos que tal retrocesso venha a ter lugar em Moçambique. Toda a nossa resistência é reflexo, hoje como ontem de coragem e abnegação do povo moçambicano. Somos hoje, como há quase 30 anos, os únicos e verdadeiros guardiões da democracia em Moçambique, aqueles que lutaram por convicções, aqueles que trabalham pelo povo, porque é o povo a razão da nossa existência e da nossa luta.
E para nós isso é nosso orgulho máximo.
Esta situação aumenta a nossa possibilidade, pois a legitimação que o povo nos conferiu em exclusivo, torna-se os únicos elementos integrantes do Estado moçambicano nos quais os cidadãos se revêem.
A esse aumento de responsabilidade devemos saber responder com a nossa capacidade de
trabalho redobrado, com a nossa competência e responsabilidade no tratamento dos assuntos do Estado e baseados na premissa constante de colocarmos o interesse nacional acima de todas as outras questões.
O caminho que teremos que seguir daqui em diante é o trabalho da responsabilidade e da responsabilização.
Se algum dos presentes nesta sala pensa que o facto de ter sido eleito, por vontade do povo
moçambicano, para deputado da AR na legislatura que se avizinha, faz com que tenha chegado ao fim dos deveres para começar a fase dos direitos, está profundamente enganado.
Está enganado na sala, está enganado no partido e está enganado na liderança.
Todos nós, que estamos nesta sala, temos que estar plenamente consciente que o grandioso
esforço dos concidadãos que permitiu a nossa eleição, mesmo num sistema completamente adverso, merece o maior respeito e terá que corresponder a um grande sacrifício da nossa parte em termos de trabalho e competência.
Cada voto na Renamo, que restou depois dos crimes eleitorais que se verificaram, corresponde
a vários outros cidadãos que nos deram e dão todo o apoio, por isso temos que trabalhar por forma a justificar toda esta confiança e reforçarmos o nosso poder e credibilidade junto do eleitorado.
É a partir da nossa tomada de posse que as responsabilidades aumentam e para sermos
merecedores da confiança depositada em nós por milhões de moçambicanos, devemos trabalhar nas instituições do Estado e também junto ao eleitorado para justificarmos a esperança que depositam em nós e por forma a que possamos repor a legalidade e o respeito pela vontade dos eleitores nos próximos actos eleitorais. Sabemos que a tarefa que nos aguarda não é fácil, pois os nossos membros, simpatizantes e os cidadãos moçambicanos de modo geral, estão revoltados com a situação política do país. E tem toda a razão para isso. Mas cabe-nos a nós, depois da tomada de posse, regressarmos às nossas províncias e explicarmos nos nossos pais, que há muito assumimos um compromisso absoluto para com a democracia, que terá de se pautar pela legalidade nos processo e nos actos.
(Continua na próxima edição)
IMPARCIAL – 27.01.2005