Editorial
Disse, um dia – e com alguma razão, julgamos nós – Napoleão I que “o coração dum Homem de Estado deve estar na sua cabeça”.
Afonso Dhlakama devia ter lido a obra deste grande homem, uma vez que pretende ser Homem de Estado, para não repetir tantos e tantos erros no seu desempenho político partidário.
O presidente da RENAMO-União Eleitoral está hoje num dilema do qual apenas se pode desenvencilhar com um recuo, um gesto que só os loucos se recusam a executar: tomar posse no Conselho Constitucional e permitir que os 90 deputados eleitos pela coligação que presumivelmente ainda dirige ocupem os seus assentos na Assembleia da República, sob pena de perder o controlo que ainda deve possuir no seio daquela aliança.
É que ou Dhlakama faz o que já nos habituou a fazer– dar o dito por não dito –, ou então será desautorizado pelos seus seguidores que foram eleitos pelas listas da coligação, não por motivações políticas ou patrióticas, mas por uma questão de sobrevivência, sabido o quão fabulosos são os ordenados auferidos pelos parlamentares moçambicanos, comparados com o que se ganha, em média, em Moçambique.
É que Dhlakama se engana se julga que o país vai parar por ele não tomar posse no Conselho Constitucional, que terá quorum mais que suficiente mesmo se ele não ocupar o seu lugar.
Armando Guebuza, político manhoso e experiente que é, até pode, dentro das competências que a nova Constituição lhe confere, convidar um ou todos os outros três candidatos derrotados à corrida para a Presidência da República a integrar o CC – e estes aceitarão com muito prazer e largos sorrisos –, agudizando ainda mais o isolamento do líder da perdiz, já provocado pelo reconhecimento dos resultados das eleições pelos “super votantes estrangeiros”, vulgos observadores internacionais, que preferem olhar mais aos interesses que convicções e/ou princípios, que parece estarem em vias de extinção.
É verdade que a perdiz não se domestica, mas... convenhamos, ou então que sê esperta e inteligente!
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 28.12.2004