NO RECÉM TERMINADO CN DA PERDIZ, NA BEIRA
Um dos pontos mais quentes e que gerou alguma divergência de pontos de vista entre os membros presentes ao Conselho Nacional da Renamo, terminado na última terça-feira a noite, na cidade da
Beira, foi a possibilidade da divisão ou não do país, face às crescentes reclamações populares
em repúdio contra os resultados eleitorais, proclamados pela CNE/Frelimo, que conferem uma pretensa vitoria à Frelimo e a Armando Guebuza nas últimas eleições gerais em Moçambique.
Este facto chegou, mesmo, a ser confirmado pelo próprio Afonso Dhlakama no longo discurso que proferiu no acto de encerramento do CN da Renamo, que esteve reunido durante 3 dias na capital provincial de Sofala.
«Neste ponto tivemos divergências, e claro que é a democracia.
Em democracia é o povo que manda no partido.
Esta diferença é muito importante.
Vamos registar esta diferença que existe entre a Renamo e os comunistas da Frelimo», disse Afonso Dhlakama, quando fazia alusão ao tema «o que fazer, como satisfazer o desejo das populações e como atender as suas preocupações», tema esse que provocou acesas discussõessegundo apurou o IMPARCIAL de fontes ligadas ao encontro.
Refira-se que a exigência da divisão do país a partir da fronteira do Rio Save, incluindo a região de Mambone, foi um dos pontos colocados a Afonso Dhlakama, pela população da Munhava, durante
o comício popular que orientou à sua chegada na cidade Beira.
Entre as deliberações anunciadas por Dhlakama, destacam-se duas grandes questões, além das já conhecidas posições assumidas por Dhlakama, de não tomada de posse por parte dos deputados
eleitos pela coligação Renamo-União Eleitoral e sua “gazeta” no Conselho de Estado onde por lei, um dos lugares esta reservado ao segundo candidato mais votado. Falando perante membros do CN da Renamo e convidados, Dhlakama deixou no ar a ideia de existirem outras novidades que por razões estratégicas não seria oportuno divulga-las.
Referia-se, concretamente, à decisão a ser proferida pelo Conselho Constitucional onde já se encontra depositado o recurso da coligação que dirige e que, entre outras coisas, exige a realização de novas eleições em Moçambique por considerar que o último processo eleitoral no país e a invalidação das gerais de Dezembro de 2004.
«Combinamos não adiantar tudo, por razões estratégicas. Não dissemos o que vai acontecer se o Conselho Constitucional não aceitar o nosso recurso. Não dissemos, isso não se avisa», revelou o líder da Renamo, entre palmas que iam interrompendo o seu discurso por parte dos apoiantes da "perdiz".
Ainda relacionado com a presente crise eleitoral que forçou a realização urgente da 6 sessão do Conselho Nacional da Renamo, Afonso Dhlakama avançou um novo dado entre as exigências que a
coligação que dirige apresenta.
Na eventualidade de não ser aceite a possibilidade da realização de novas eleições no país ainda este ano, a alternativa segundo Dhlakama, deveria passar pela realização de eleições parciais nos distritos onde teriam se registado “mais problemas”, a saber, em Tete, Niassa, Cabo Delgado e nalguns distritos da Zambézia, Nampula e Gaza. «Também caso não, aqui teremos que negociar com a Frelimo para devolver o numero razoável dos nossos assentos na Assembleia da Republica», indicou.
Na sua intervenção, o líder da principal e maior força da Oposição moçambicana, não fez menção se vai manter ou não a posição de mobilizar os membros e simpatizantes do seu partido para eventuais
manifestações de rua em protesto contra o executivo e o presidente saídos das eleições de 2004. Voltou a reiterar que a Resistência Nacional Moçambicana e a coligação R/UE não vão abandonar o projecto da Democracia em Moçambique «venham de onde vierem as manipulações, manobras como estas que estamos a assistir».
«O que está a acontecer são ultimas tentativas da Frelimo, que é um partido caduco. A Frelimo tem dias contados neste pais», acusou o presidente da Renamo. Dhlakama regressou ainda na noite de terçafeira à Maputo, onde esperava manter um importante encontro com uma personalidade estrangeira sobre o “braço de ferro” que prevalece em torno dos resultados eleitorais.
JOSÉ CHITULA, NA BEIRA – IMPARCIAL – 13.01.2005