A DOR DE CABEÇA DAS AUTORIDADES MOÇAMBICANAS
Arrancou, ontem, na cidade da Beira, o Conselho Nacional da “perdiz”, com uma agenda incisiva: avaliação do recente processo eleitoral em Moçambique, e aguarda-se que sejam equacionados
todos os cenários possíveis, tendo em conta o recurso submetido ao Conselho Constitucional pela Renamo-UE, que contesta os resultados das eleições e colocam a Frelimo e o seu candidato como virtuais vencedores, segundo a CNE/Frelimo.
Em contacto, ontem, com o IMPARCIAL, o porta-voz da Renamo-UE, Fernando Mazanga, explicou que o CN do seu partido deverá deliberar sobre as actividades subsequentes, tendo em conta a decisão do Conselho Constitucional, favorável ou não, ao pedido da “perdiz”, que exige a anulação dos resultados das eleições, por considera-los de fraudulentos.
«Não somos pessimistas, mas temos que equacionar os vários cenários, por isso que estamos aqui reunidos(nas instalações da Universidade Católica, na cidade da Beira)», avançou Mazanga.
Refira-se que o Conselho Nacional da Resistência Nacional Mocambicana, reúne-se num momento decisivo perante a actual crise poltíca que se vive em Moçambique.
Depois do Congresso, o CN da Renamo é o órgão mais alto ao nivel daquele partido, com poderes deliberativo.
Compõem este conselho, cerca de 60 membros incluindo o próprio presidente da Renamo, Afonso Dhlakama.
A Renamo-União Eleitoral já anunciou que não vai reconhecer o Governo e nem o presidente da República saídos das eleições gerais de 2004. Afonso Dhlakama tornou público, igualmente, que
não vai aceitar o lugar reservado ao segundo candidato mais votado no ora criado, Conselho de Estado. Cabe, no entanto, ao Conselho Nacional o pronunciamento final. Aliás, mais do que analisar o impacto dos resultados eleitorais, espera-se igualmente que o CN da Renamo que se prolonga até a próxima terça-feira, tome posições firmes em relação ao futuro desta formação politica.
Negociações
Falando aos jornalistas, na sua chegada à cidade da Beira, no último sábado, apesar de muita cautela na linguagem, Afonso Dhlakama tornou claro que a situação política é explosiva no país e que se Guebuza insistir em governar o país no actual cenário ele pode não conseguir governar.
O líder da “perdiz” admitiu, no entanto, que tudo tem solução, uma das quais passaria por negociações com as formações políticas prejudicadas pela actuação manifestamente “caseira” dos órgãos eleitorais dominados pelo partido Frelimo, formação política essa que ao longo do processo se transformou em “árbitro, jogador e dono da bola”.
No referido contacto com jornalistas, no aeroporto da Beira, Dhlakama manteve tudo o que disse na sua declaração na capital do país: o não reconhecimento dos resultados das eleições e a necessidade da convocação de novas eleições dentro dos próximos seis meses.
Contacto popular na Munhava
Entretanto, Dhlakama teve ontem um contacto com os “explosivos” miltantes do Bairro da Munhava, um dos baluartes da “perdiz” naquela urbe. O pedido dos populares é de que não deve reconhecer os resultados das eleições, aconteça o que acontecer; avançaram ainda com a posição polémica de dividiro país a partir do Rio Save, incluindo o distrito de Govuro, no norte de Inhambane, o que foi prontamente recusado por Afonso Dhlakama, que acredita num país único e indivisível.
Aparato de segurança invulgar
Uma nota a assinalar, foi a presença invulgar dos agentes da PRM no aeroporto da Beira, alguns dos quais chegaram a se instalarem na torre de controlo. O objectivo era claramente acompanhar a movimentação do líder da “perdiz”e a sua comitiva. Dhlakama continua a ser, nas hostes da “maçaroca e tambor”, um "osso difícil de roer", sendo agora claro que objecto de toda a manipulação é a sua cabeça, procurada desde os tempos da Guerra Civil, em Moçambique.
JOSÉ CHITULA E REDACÇÃO
IMPARCIAL – 10.01.2005