Comentário De Filimão Saveca
O falso conceito de soberania nacional foi o cavalo de batalha utilizado pela vergonhosa Comissão Nacional de Eleições (CNE) sintomaticamente dirigida por um reverendo, Litsuri, o também músico Arão.
Pela voz do sempre solícito porta-voz Filipe Mandlate, mas quando era para fazer respeitar os prazos explicitamente impostos pela Lei Eleitoral, sumiu, fomos sendo constantemente bombardeados pela justificação de soberania nacional para crispar o relacionamento entre a CNE e alguns observadores estrangeiros, que, aliás, e de resto alguns dizem que fingiam um braço de ferro para justificar a sua presença aqui em Moçambique, mais para usufruir das nossas e dos nossos do que para acompanhar o processo eleitoral em si, a avaliar pelos pronunciamentos finais. Enfim, é a tal questão dos interesses não de princípios!
Vem isto a-propósito do facto de Kenneth Galbraith (96 anos de idade) ter lançado recentemente um livro que, como nos constou, é intitulado “A economia das fraudes inocentes”, no qual denuncia o mito da “soberania do consumidor”, segundo o qual o indivíduo escolhe com independência os bens que adquire.
“Essa é uma fraude muito propagada, inclusive no ambiente universitário (...).
‘O consumidor soberano’, na verdade, é tutelado permanentemente pelos altamente qualificados mandarins da propaganda”, ataca Galbraith.
Uma fraude, dizemos nós, que igualmente se aplica na política. Substitua-se o “consumidor soberano” pelo “eleitor soberano” e também aí se torna evidente que ele é “permanentemente tutelado pelos altamente qualificados mandarins da propaganda”.
Uma denúncia que atinge em cheio alguma da nossa comunicação social, principalmente os ditos de “referência” – reverência dizemos sempre nós – e de que a democracia, tal como hoje se entende e pratica, sai muito mal ferida!
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 03.01.2005