Olhando de frente
Charles Baptista
As eleições de 01 – 02 de Dezembro de 2004 não foram nem livres, nem justas, nem transparentes por ter havido um sem número de ilegalidades que conduziram a FRELIMO e Armando Guebuza a vitórias expressivas sobre os seus adversários mais próximos, a RENAMO e Afonso Dhlakama. O processo esteve cheio de ilegalidades cometidas propositadamente tanto pela direcção do STAE quanto por elementos locais do partido FRELIMO, auxiliados fraternalmente pela Polícia. O processo eleitoral não foi, em nada, credível, consequentemente, os seus resultados não poderiam ser aceites de ânimo leve pelos seus concorrentes, criando mais dúvidas e instabilidade que certezas.
O Grupo de Observadores da Commonwealth emitiu um comunicado, no dia 04 de Dezembro de 2004, onde constata graves problemas e diz, sem margem de dúvidas, que infelizmente algumas assembleias de voto não chegaram a ser abertas e outras abriram um dia mais tarde; e em alguns locais havia confusão quanto à localização das assembleias de voto. Como resultado, algumas pessoas não conseguiram votar. Nas zonas rurais as distâncias para as assembleias de voto eram, algumas vezes, excessivas. Estes são pontos negativos. Fechar os olhos para não ver a gravidade dos problemas criados é um absurdo que não deve ser aceite por quem tenha bom senso.
Para a “vitória folgada” da FRELIMO e seu candidato, Armando Guebuza, contribuíram, grandemente, as fraudes programadas pelo STAE Central, assistência fraternal dos membros da FRELIMO na CNE e da preciosa colaboração prestada pela Polícia nos locais da votação. A segunda declaração preliminar da missão de observação da União Europeia, de 20 de Dezembro de 2004, diz que em Tsangano, Changara e Cahora Bassa, na província de Tete, foram observados casos em que delegados partidários da RENAMO-UE devidamente acreditados não foram autorizados a observar os processos de votação e contagem ou foram mantidos à distância por forças policiais.
Os media locais agregados ao regime prestaram uma ajuda inestimável à FRELIMO. As constatações da monitorização da imprensa da missão de observação eleitoral da União Europeia mostram que o partido no poder foi alvo de uma cobertura mais alargada, mas não num grau desmedido. No Diário de Campanha da TVM, o Presidente, o Governo e a FRELIMO tiveram 48% do tempo de antena, enquanto a RENAMO-UE teve 23%, o PDD 14%, o PIMO e MBG 3% cada. No Diário de CAMPANHA da Rádio Moçambique, a cobertura para o Presidente, o Governo e a FRELIMO tiveram 39%, a RENAMO-UE 24%, o PDD 17%, o PIMO 5% e o MBG 4%.
Joaquim Chissano, usando as prerrogativas de qualidade de Chefe do Estado, fez um aproveitamento escandaloso do cargo, usando os meios públicos disponibilizados nessa capacidade, fez campanha, do Rovuma ao Maputo, promovendo a imagem do candidato do seu partido, divulgando o programa da FRELIMO. Para que não restem mais dúvidas, declarou: o “meu mandato como Presidente da República só terminará quando passar o testemunho ao camarada Armando Guebuza”, seu legítimo herdeiro, acrescentamos. São coisas que acontecem apenas nas monarquias feudais africanas!
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 24.01.2005