Milhares de pessoas participaram, ontem à tarde, em Cabinda, num desfile promovido pela Associação Cívica Mpalabanda, para assinalar os 120 anos da assinatura do Tratado de Simulambuco, que colocou a região sob soberania portuguesa. O vigário-geral da diocese, padre Raul Tati, seguia na primeira fila dos manifestantes, que eram acompanhados por forças policiais.
Tendo saído às 13h00 do Centro Cultural Chiloango, na capital do território, o cortejo encaminhou-se, ao longo de cinco quilómetros, até ao monumento evocativo do, com a população a entoar cânticos e a ostentar cartazes.
O Governo Provincial de Cabinda, dirigido por Aníbal Rocha, decidiu autorizar a marcha e a realização, nos próximos dias, de um programa de actividades, de modo a não entrar em choque com o querer da maioria da população, que tem sentimentos autonómicos. Até 6 de Fevereiro vão realizar-se debates em torno de temas como "A história das celebrações decorridos 120 anos" e "O Tratado de Simulambuco - protectorado colonial ou de direito internacional", de modo a manter vivo o espírito peculiar daquela província de Angola.
Os organizadores do desfile, um dos maiores destes últimos anos na região, pretenderam que ele fosse o ponto alto de toda uma "semana de reflexão sobre a identidade e a história do povo binda". "Manifestamo-nos em memória dos nossos antepassados", disseram os responsáveis da Mpalabanda, que fizeram a mobilização em volta da ideia de que é necessário conseguir a paz e o desenvolvimento de um território de 7135 quilómetros quadrados que tem perto de 500 mil habitantes.
Prevê-se para dia 6 a divulgação oficial de um novo relatório sobre violações dos direitos humanos no território, onde civis são vítimas do conflito entre a guerrilha autonomista e as autoridades. No entender de alguns dos sacerdotes católicos em Cabinda tem havido assassínios e prisões à revelia do poder judicial, bem como outras arbitrariedades. Jorge Heitor
PÚBLICO - 31.01.2005