TRIBUNA LIVRE
Coluna de João CRAVEIRINHA
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Anedota Verídica contada em Dar-es-Salaam (1970), por Shafrudin Mahomed Khan, Veterano da Luta Armada de Libertação de Moçambique. Foi adicionado mais tempero na narrativa romanceada. (Em 24 de Dezembro de 1996, Shafrudin Khan em funções
como Embaixador Plenipotenciário Moçambicano, foi torturado e assassinado em sua casa em Zâmbia por um esquadrão da morte enviado de Maputo).
INTRODUÇÃO
Em 1957 Ghana seria o primeiro País da chamada África Negra a ficar Independente. O colonialismo britânico, foi a antiga potência colonial de Ghana cujos diplomatas a princípio não eram bem aceites, como colegas, pelos diplomatas europeus ainda com colónias em África, agastados pelas intervenções nacionalistas africanas de “Kuame” Nkrumah (1909), primeiro Presidente de Ghana. Em 1966 seu governo sofre um “Coup d’État” (golpe militar) acusado de ditadura e de culto da personalidade. Vai para o exílio e morre em 1972 em Bucareste, Roménia, deixando o sonho de uns “Estados Unidos de África”. Em vida foi um dos fundadores da OUA em 1963 e árduo apoiante da Libertação de África do colonialismo e do apartheid num espírito Pan-Africano.
Excluindo a Etiópia e mais a norte os países arabizados do Marrocos, Líbia, Tunísia, Egipto e Sudão, não havia mais diplomatas Africanos de Países Independentes. A África do Sul “branca” não contava devido ao apartheid racista contra o negro e afins
apoiada pelos vizinhos coloniais portugueses (Angola e Moçambique) e da Rodésia também “branca”.
A DIGNIDADE DO DIPLOMATA NEGRO – AFRICANO
Nesta mini-história em “black and white” o cenário situa-se nas Nações Unidas em Nova Iorque num almoço entre diplomatas de vários países em fins da década de
1950. Na enorme mesa defronte do Embaixador de Ghana encontra-se o Embaixador Inglês a comer uma salada com garfo e faca –, alface, orégão, pimento, bacon, etc…O Embaixador Ghanês “devora” com deleite um frango no churrasco agarrando com os dedos o infeliz galináceo à “boa maneira” tradicional africana.
O diplomata “British” (Britânico), sentia-se incomodado pela quebra da etiqueta na mesa, do seu ex-colonizado.
Indignado não se contendo tenta humilhar o africano e diz:
-. “ Caro Colega, na minha terra (Grã-Bretanha), quem come frango agarrando com “os dedos” são os cães.”
Forma-se um silêncio de cortar à faca. Os diplomatas europeus e americanos, presentes, esboçam um sorriso cúmplice de superioridade sem contar com a resposta
do Ghanense.
O diplomata Ghanês, interrompe a delicada operação mandibular e responde com o mesmo cinismo acrescido de “fair play”:
-. “Beg your pardon, Sir?” (desculpe Senhor, não percebi) – Ãh… Tem piada… na minha Terra os cães comem salada !!”
Os diplomatas afro-árabes, asiáticos, latinoamericanos e europeus nórdicos e do leste irrompem em gargalhadas. O protocolo é rompido. O gelo derretido.
Os europeus com colónias e os diplomatas norteamericanos ficam mudos e estupefactos talvez pelo “atrevimento do preto”.
O nosso diplomata Britânico, envergonhado, atira com o guardanapo para a mesa e retira-se da sala antes de terminar o almoço.
Numa boa, o diplomata Ghanense continua a “massacrar” o frango no churrasco (anteFim).
Nesse tempo de facto os nossos diplomatas africanos eram de uma personalidade…vou-vos contar!
Pobres financeiramente mas de cabeça erguida! ¦ (FIM)
ACHEGA A BASTONÁRIO
… “A LÍNGUA É O MAIS LÍMPIDO ESPELHO DA ALMA DE UM POVO”… citação na GRAMÁTICA CHANGANA do Missionário Português de S. Vicente de Fora, Padre Armando Ribeiro, das edições Evangelizar, impressa em Kissuri – Uganda, pela Marianum Press em 1965.
Por tal raciocínio, serão os países Lusófonos, da CPLP (exceptuando Portugal), de EXPRESSÃO PORTUGUESA, na ALMA? Sendo portanto todos Portugueses? Reflexão a propósito do tema principal de hoje em pequena achega ao Bastonário da Ordem dos
Advogados de Moçambique, Dr. Carlos CAUIO, a quando da sua visita recente a Lisboa: - Uma pessoa pode se expressar bem (comunicar) em uma Língua sem ser a sua (materna) mas um País não pode ser de expressão de uma cultura de outro País. Por tal Moçambique, Angola, Stº Tomé e Príncipe, Guiné, Cabo Verde, Brasil, (Goa? - Índia), Macau e Timor-leste, podem ser falantes de uma língua oficial europeia neste caso, portuguesa, mas “sui generis”, peculiar, própria, por adoptada não podendo serem de expressão portuguesa, devido à idiossincrasia linguístico – cultural da ALMA Portuguesa, exclusiva de Portugal. Doutra forma tem um nome: Trata-se de ALIENAÇÃO colonial “ipsis verbis” –, assim mesmo, textualmente. Presumimos que não seja o caso mas sim um lapso político “rabular” da parte do ilustre Bastonário causídico da nossa praça.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 11.01.2005