Contra todas as expectativas, o líder da Renamo Afonso Dhlakama, desiludiu aos moçambicanos quando há dias apareceu, em publico, a recuar na sua anterior posição na senda das reclamações sobre a alegada fraude eleitoral que deu vitoria a Frelimo e a Armando Guebuza nas recentes eleições legislativas e presidenciais de Dezembro de 2004.
Acredito que grande parte dos eleitores, principalmente, os membros e simpatizantes da Renamo foram apanhados de surpresa perante um posicionamento que no meu entender revela uma fraqueza política tendo em conta que foi próprio presidente da Renamo que no final do Conselho Nacional realizado na Beira, batia com a mesa, no seu discurso de encerramento, afirmando de voz viva que os deputados eleitos pela coligação Renamo-Uniao Eleitoral, não haveriam de tomar
posse na Assembleia da República e nele ele haveria de assumir o lugar a si reservado no Conselho de Estado, na qualidade do segundo candidato mais votado.
Dos comentários de várias indivíduos atentos a cena política moçambicana avançam-se vários cenários que teriam forçado Dhlakama a mudar de posição e alinhar no jogo da Frelimo reconhecendo o actual presidente da Republica, Armando Guebuza e o novo executivo frelimista.
A quem entenda que Afonso Dhlakama depois de ter sofrido pressões tanto ao nível interno do seu partido como fora dele, teria chegado a um acordo com o partido Frelimo ou com a doadores internacionais, não se sabe a troco de quê. Acreditasse, igualmente, que a entrada tardia do recurso da perdiz no Conselho Constitucional, estaria, também, associada a esta reviravolta de 180 graus.
A quem vai mais longe e afirma que com a decisão de tomada de posse dos deputados da "perdiz", na Assembleia da Republica, e a presença de Dhlakama no Conselho de Estado, esta instalada a confusão no partido Renamo e não se sabe ao certo se o líder vai ter capacidade
suficiente de gerir a situação.
Fala-se, igualmente, embora sem confirmação oficial, que um dos acordos que Dhlakama e a
coligação que dirige teria chegado a acordo com a Frelimo no sentido do partido governamental
ceder algumas pastas ministeriais a esta formação política ou a nomeação de governadores nas províncias onde a Renamo-UE foi proclamada vencedora, em Sofala e Zambézia.
A se confirmarem ou não estas alegações, da para perceber que o presidente da Renamo meteu-se num beco sem saída e que se não tomar medidas que visam reformar a organização que dirige, este posicionamento poderá significar o suicídio daquele que até bem pouco tempo era tido como líder carismático que arrasta multidões por onde passa.
O sinal dado pela população da Munhava, quando Dhlakama chegou a Beira para dirigir o Conselho Nacional do seu partido, virando-lhe as costas quando rejeitou a ideia de divisão do país a partir do Rio Save é sintomático e vale a pena registar que uma parte considerável dos apoiantes da "perdiz" andam frustrados com os posições tomadas pelos seus lideres.
Foi correcta a posição tomada por Dhlakama na Munhava pois, nesta era a ninguém interessa o retorno a confrontação armada como solução dos diferendos políticos que reinam em várias nações.
O que resta agora é esperar para ver o que reserva o futuro político do pais numa situação em que a Frelimo volta a se afirmar como dona de Moçambique provavelmente com mais arrogância tendo em conta a ala guebuziana que passa a tomar conta dos destinos do país pelo menos nos próximos 5 anos.
JOSÉ CHITULA
IMPARCIAL – 25.01.2005