Linha d'água:
Por Luís Loforte
Nas vésperas das eleições gerais de Dezembro, Afonso Dhlakama concedeu uma entrevista à Rádio e Televisão Portuguesa, durante a qual falou das linhas programáticas do seu magistério, na hipótese de vencer o pleito eleitoral que se avizinhava. Vi e ouvi toda a entrevista e, entre as perguntas e as respostas, só as primeiras tiveram, no meu juízo, uma nota positiva.
Porquê? Contrariando a tendência daqueles que entrevistando ou falando de outros protagonistas do processo eleitoral mais pareciam procuradores dos prováveis vencedores, naturalmente na caça de benesses pós-eleitorais, o homem que entrevistou o líder da RENAMO na RTP procurou, num esforço visível, servir de charneira entre nós e o político. Pena que as respostas não estivessem à altura das perguntas do jornalista. Acontece.
A páginas tantas da entrevista, perguntaram a Afonso Dhlakama aonde iria buscar os quadros para a árdua tarefa da governação, uma vez que aqueles que se manifestam à luz do dia parecem poucos, tanto em número como em qualidade. Penso que essa é e continua a ser uma pergunta capital de qualquer eleitor, pois não vá o país cair em mãos irresponsáveis. Surpresa das surpresas, o homem respondeu que isso não era bem assim, que a RENAMO tem muitos quadros qualificados, uns no estrangeiro e outros aqui mesmo no país, mas na clandestinidade e em lugares cimeiros nalgumas empresas públicas.
Na minha opinião, e dado que também ficou expresso nestas eleições que a população urbana também começa a contar nas vitórias e nas derrotas dos concorrentes, não é de esperar que aqueles que tiveram acesso à entrevista acima referida possam, conscientemente, votar num homem que diz que tem os seus melhores quadros no estrangeiro ou na clandestinidade.
Digo “conscientemente” porque votar significa preferir e para preferir é preciso conhecer. Como se não bastasse pedir que se vote num “saco” cheio de partidos, numa amálgama de ideologias e orientações políticas, ainda se seduz os eleitores a votarem... na clandestinidade!
Moral da história: ficou Dhlakama e seus apaniguados conhecidos (honra lhes seja feita) sem votos e continuam os clandestinos à mesa com os vencedores. Os clandestinos são, de facto, os vencedores antecipados, os eternos vencedores, qualquer que seja o sentido do voto, qualquer que seja o índice de abstenção.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 28.12.2004