TRIBUNA
Coluna de João CRAVEIRINHA
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“The lion and the calf shall lie down together but the calf won’t get much sleep”…in WOODY ALLEN
(O leão e o vitelo podem deitar - se juntos mas o vitelo não conseguirá adormecer) in WOODY ALLEN
Sábado dia 20 de Setembro 2003. São 15,08’ horas em Moçambique… Noticiário das 14,08’ na RTP emitindo de Lisboa…O locutor de serviço da RTP em 2003 comete
uma “gafe” política...
– Fala com saudade e diz … ÁFRICA PORTUGUESA… para dizer… lusófona… Tem no estúdio o realizador de cinema português José Carlos Oliveira (que nunca tinha estado em Moçambique antes) e da actriz Cristina Homem de Mello. Falam a propósito do filme de J. Carlos Oliveira intitulado “ PRETO E BRANCO” rodado em Moçambique…e com pretensão de… “filme catarse”… da guerra colonial…Não confundir o título com o do filme francês “PRETO E BRANCO A CORES” de décadas atrás…por sinal muito bem feito exorcizando fantasmas do colonialismo francês em África…No filme francês foi dada muita dignidade às personagens africanas oprimidas, dentro do realismo brutal, da colonização francesa na costa ocidental de África…
Com humor mas realismo ficcionado e não fantasias tentando dar uma imagem errada do que foi esse facto histórico…Não são suficientes os fantásticos efeitos especiais, alta tecnologia digital, criatividade, bom casting, para se contar uma boa história em cinema ou televisão…É preciso conhecimento dos factos reais como base da narrativa a ficcionar...do argumento, e não nos podemos basear na propaganda de um lado ou de outro. A obra sai muito artificial e forçada. Rodeia-se para omitir. Falta de liberdade criativa. Condicionalismos políticos sobrepõem-se.
Inventa-se o que nunca poderia ter existido. Há balizas para a ficção histórica.
No entanto de amiúde surgem em Portugal, a beiramar plantado, tentativas de “fazer qualquer coisa” no CINEMA como neste caso (FILME PRETO E BRANCO), ou em TELEVISÃO como por exemplo a aberração de argumento da TELENOVELA “A JÓIA de
ÁFRICA” da TVi de Lisboa. Não confundir o título com o de “JÓIA DA COROA” seriado da BBC sobre o colonialismo britânico na então “British India”. A JÓIA DE ÁFRICA filmada em Moçambique – história absurda situada na Zambézia talvez no Chinde das “Donnas” mas filmada em Inhambane que de comum… só os coqueiros…Nem os actores moçambicanos são de características étnicas dos da Zambézia para não falar dos usos e costumes e pronúncia idiomática quer do português quer da língua e dialecto locais…Depois não venham falar das dissimetrias – Sul… Norte…Até para se fazer um filme de referências da Zambézia no Norte do Rio Zambeze…filma-se em Inhambane no Sul do Rio Save…Não venham falar de dificuldades logísticas acrescidas caso a Produção se instalasse na cidade de Quelimane, capital da Zambézia…Foram para lá direccionados…Mais perto de Maputo.
Voltando ao Cinema –, é de surpreender que alguns actores e técnicos moçambicanos no recente filme português “PRETO E BRANCO”, sendo do Partido FRELIMO, da nova, e talvez por isso, não se tenham apercebido do anacrónico papel que lhes coube no
filme em que foi escamoteado o aspecto fundamental da luta anti-colonial rumo à Independência Nacional – principal motivo da guerra de libertação para os moçambicanos e guerra colonial para os portugueses…
Não é por serem recitados slogans de “consciência política” ou de “suavizar” aquilo que foi o racismo colonial português em Moçambique que se “exorciza” o que de perverso teve o colonialismo português, em termos de MENTALIDADE COLONIAL perdurando aos dias de hoje, em Portugal, na Europa, no Mundo… e em Moçambique… Muito moçambicano padece de complexo colonial de inferioridade…porque em relação
aos europeus … dentro da anormalidade é normal que tenham complexo colonial de superioridade no comportamento do dia a dia, no relacionamento com o moçambicano de pele mais escura ou morena … ou também olhando de cima para baixo mas com paternalismo colonial…Muitos dos políticos moçambicanos contribuem para isso com o seu servilismo perante aos europeus e indianos… associados ao dinheiro, negócios e quejandos…Então quando vão ao estrangeiro? …Dá pena… Mas que fazer!?...”Nã vale a
pééna!”(É mesmo nã, com dois és e acento. Expressão à povo moçambicano)…
A antestreia do filme “PRETO E BRANCO” teve lugar no dia 20 de Setembro de 2003, na cidade do Porto no Teatro Rivoli. Contou com a presença inaugural do Presidente cessante Joaquim CHISSANO. Cerca de 70% dos técnicos e actores, foram moçambicanos. É uma co–Produção da RTP com a Marginal Filmes. No feliz dizer de José Alberto, pivot da RTP – Televisão pública portuguesa, no telejornal da noite do dia 20 de Setembro, … ” o filme troca algumas cores da guerra”…
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 28.12.2004
NOTA: Visite http://www.macua.org/temp/pretobranco.html
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