Por Orlando Castro
O Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio, desloca-se a Maputo no início de Fevereiro para assistir à cerimónia de posse do novo Chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza que, aos 61 anos, é também um dos mais influentes empresários de Moçambique. Sampaio terá, talvez, tempo para verificar, in loco, se o novo presidente moçambicano tem razão quando diz que a FRELIMO (que lidera o país desde a independência) fez mais em 30 anos de independência do que o colonialismo português em cinco séculos.
Do meu ponto de vista, a afirmação de Guebuza reflecte, entre outras lacunas, falta de preparação política para assumir o mais alto cargo do país. Estou, certamente, enganado.
Estivesse eu certo e já teria visto algum dirigente português dizer ao senhor Guebuza que, afinal, o melhor era estar calado.
Estivesse eu certo e já teria visto o Presidente da República portuguesa dizer que, a bem da verdade e da dignidade dos portugueses, não iria a Maputo saudar quem revela tanta desonestidade intelectual.
Recorde-se que, ao intervir num comício eleitoral em Manica, província do centro do país, Guebuza considerou que o Governo da FRELIMO, no poder desde a independência, em 1975, construiu 10 ou 20 vezes mais infra-estruturas, como escolas e hospitais, do que "em 500 anos de colonialismo".
O colonialismo português continua, mais uma vez com o cobarde beneplácito de Lisboa, a ser uma desculpa que serve para tudo, seja em Moçambique, na Guiné-Bissau ou em Angola.
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Samakuva e Guebuza
Por: Orlando Castro
Um é o líder a UNITA e o outro agora presidente de Moçambique. Enquanto Samakuva diz a verdade, Guebuza mente descaradamente passando as suas culpas (ou não fosse dirigente do partido que governa Moçambique desde a independência) para o velho monstro chamado colonialismo. Um reconhece que Angola andou para trás, o outro afirma com toda a lata que a Frelimo fez mais por Moçambique em 30 anos do que os portugueses em 500 anos. Um tem estofo de estadista e outro de mero bandoleiro.
Segundo Armando Guebuza, “a Frelimo construiu 10 ou 20 vezes mais infra-estruturas, como escolas e hospitais, do que Portugal construiu em 500 anos de colonialismo".
Basta ir a Moçambique, 30 anos depois da independência, para ver a desonestidade intelectual do actual presidente. Basta falar com o povo para ver que, afinal, Guebuza confunde o luxo em que vive (ou não fosse um “empresário” dos mais bem sucedidos) com a miséria dos moçambicanos. Basta ver para ter a certeza de que verdadeiramente importantes para o novo presidente são os poucos que têm milhões e não os milhões que têm pouco, ou nada.
Quanto a Isaías Samakuva, basta atentar nas suas palavras:
“Aqueles que como eu viram a noite colonial, concordarão comigo que o paraíso que na nossa imaginação de então seria o país Independente que sonhávamos, ainda continua longe do nosso alcance. Parece estarmos a andar para trás com ruas outrora limpas e secas hoje salpicadas de lixo e de lama à mistura; parece estarmos a recuar quando vemos a água que ontem chegava permanentemente às nossas casas ou ao nosso chafariz, hoje a correr pelas ruas quando não enche buracões e não faz lagoas, ajudando a multiplicação de mosquitos com todas as suas consequências”.
Embora em situações políticas diferentes, creio que nunca o presidente da UNITA diria barbaridades semelhantes às que tanta satisfação dão, perante a passividade dos governantes portugueses, ao presidente moçambicano.
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Mais do mesmo em Moçambique
Por Orlando Castro
Armando Guebuza e a FRELIMO venceram, como se esperava, as eleições em Moçambique. Aliás, em regra, os partidos que estão no Poder e os seus candidatos, só fazem eleições porque a isso são obrigados pela comunidade internacional e só as perdem se forem burros (veja-se também o caso de Angola).
Pouco importa, como referiu o chefe da missão de observação da União Europeia, que tenham havido "diversas e graves irregularidades".
Talvez agora possamos ver (citando Guebuza) o novo Presidente da República e o partido que está no Governo desde a independência (em 1975) construir nos próximos anos “10 ou 20 vezes mais infra-estruturas, como escolas e hospitais, do que em 500 anos de colonialismo".
Armando Guebuza prometeu, oficializada (como se isso fosse preciso!) que foi a sua vitória, assumir as suas funções com "responsabilidade e sentido de Estado, dignificando o veredicto popular".
Será que um político que diz as barbaridades que Guebuza diz, sabe o que é sentido de Estado? Ou será que, como reconhece o seu apoiante Mia Couto, o colonialismo “não só se naturalizou moçambicano, como passou a ser co-gerido numa parceria entre ex-colonizadores e ex-colonizados”?
Já agora, recorde-se a Armando Guebuza (e também a José Eduardo dos Santos) que dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), relativos ao Índice de Desenvolvimento Humano revelam que, entre 177 países analisados, 46 dos 53 países africanos estão abaixo da 100ª posição.
E, ainda, que entre os últimos lugares estão a Guiné-Bissau (172), Moçambique (171) e Angola (166). Cabo Verde tem a melhor posição dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), em 105º lugar, seguido de São Tomé e Príncipe (123).
E enquanto assim for, e será por muito tempo – infelizmente, a culpa será sempre da colonização portuguesa.
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Orlando Castro
Jornalista (CP 1543)
Telef. 222096260
O mal nunca está em dizer a verdade mas, isso sim, em pensarmos que somos donos da verdade