Por ANA NAVARRO PEDRO, Paris
PÚBLICO - 14 de Janeiro de 2005
A França tem até 15 de Fevereiro para fazer um "gesto significativo" a favor de Pierre Falcone, um negociante de armas amigo do regime angolano perseguido por tráfico de armas pela justiça francesa, ou Luanda priva a companhia petrolífera gaulesa Total de um contrato de 10 mil milhões de dólares, para o dar aos seus concorrentes americanos. Segundo o semanário "Le Nouvel Observateur", que deu esta notícia em exclusivo, o ultimato teria sido proferido pessoalmente pelo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que fez do destino de Falcone um verdadeiro "casus belli". Num artigo intitulado "A França entre a espada e a parede", o jornalista Ary Routier revela que, a título de "aviso", Luanda recusou recentemente renovar um contrato de exploração da Total num valor de mil milhões de dólares.
Nesta guerra económica que Angola trava contra a França, outras empresas francesas sofrem também com o caso Falcone. Assim, a companhia aérea Air France viu negado o seu pedido de abrir uma segunda linha de voo para Luanda, que acabou por ser concedida à British Airways. Por seu lado, a candidatura do grupo de telecomunicações Alcatel para o equipamento do país não chegou sequer a ser retida.
As pressões de Angola para salvar Pierre Falcone não cessaram desde que este homem de negócios e mercador de armas foi inculpado, em 2000, de comércio ilegal de armas, de tráfico de influência e de abuso de bens sociais, no âmbito de uma venda de armas a Angola em 1992-93, por um valor de 50 milhões de dólares. Falcone, nascido em França mas que tem também as nacionalidades angolana e canadiana, entre outras, fez um ano de prisão preventiva. Os seus advogados proclamam desde então a sua inocência, argumentando que a venda de armas se fez entre um empresa da Europa de Leste, dirigida por Falcone e pelo seu sócio russo Gaimar Arcadi, e um Estado não submetido a um embargo de armamento.
Outros desenvolvimentos das actividades de Falcone com Angola, foram alvo de inquéritos judiciários na Suíça. Um deles, relativo ao reescalonamento da dívida externa de Luanda à Rússia, acaba de ser fechado com a ilibação de Falcone. Em contrapartida, em França, a investigação dirigida pelo juiz Pilippe Courroye desenterrou o envolvimento - por "tráfico de influência", na maior parte dos casos - de personalidades francesas como Jean-Christophe Mitterrand, filho do defunto Presidente François Mitterrand e antigo conselheiro do Eliseu para os assuntos africanos, Jacques Attali, ex-secretário-geral do Eliseu ou ainda do escritor Jean-Loup Sulitzer.
Em 2002, a França não hesitou em solicitar o apoio de Luanda na ONU contra a guerra no Iraque. Seis meses depois, Falcone era nomeado diplomata de Angola na UNESCO - sem que Paris levantasse obstáculos. Para limitar a imunidade diplomática de Falcone, o juiz Courroye lançou um mandado internacional de captura contra ele, o que fez com que fosse brevemente detido no aeroporto de Lisboa, em 2004.