O Congresso dos Sindicatos do Zimbabué (ZCTU) acusou hoje o regime de Robert Mugabe de reprimir os trabalhadores do seu país da mesma forma que o fizeram os regimes do "apartheid" na África do Sul e de Ian Smith (na antiga Rodésia).
Numa declaração conjunta divulgada hoje em Joanesburgo, as centrais sindicais sul-africana Cosatu e zimbabueana ZCTU alertaram para a persistente política de repressão do aparelho do Estado contra os trabalhadores, que muitos poderiam pensar ter diminuído de intensidade em meses recentes.
No final de uma reunião de três horas, sábado, na Cidade do Cabo, entre os secretários-gerais da Cosatu, Zwelenzima Vavi, e da ZCTU, Wellington Chibebe, as duas centrais sindicais manifestaram preocupação pelo desrespeito dos direitos dos cidadãos demonstrado pelo governo do presidente Mugabe em inúmeras ocasiões, dando como exemplo o colapso do Fórum Tripartido, uma espécie de grupo de concertação social que se dissolveu em Dezembro em consequência da intransigência do regime.
As duas organizações salientaram que uma conferência sobre a SIDA organizada no âmbito do Fórum Tripartido (que inclui a ZCTU e o governo) foi interrompida recentemente porque a polícia exigiu estar presente no terceiro dia do encontro.
Chibebe (o secretário-geral), e os sindicalistas Lucia Mtibenga, Timothy Kondo e Sam Machinda foram presos em Agosto do ano passado e passaram dois dias na cadeia, informou a ZCTU.
Os quatro foram, primeiramente, acusados de terem organizado uma reunião sem autorização das autoridades, mas as acusações foram posteriormente retiradas, enquanto Chibebe era acusado de fazer declarações destinadas a derrubar um governo eleito.
O secretário-geral da ZCTU está em liberdade sob caução (no montante de 200 mil dólares zimbabueanos) e deverá ser presente a tribunal em 01 de Março próximo.
Zwelenzima Vavi manifestou entretanto a intenção da Cosatu de fazer deslocar ao Zimbabué uma nova delegação de sindicalistas para encontros com líderes sindicais daquele país, apesar dos avisos lançados pelo ministro do Trabalho zimbabueano de que a central sindical sul-africana deve deixar de interferir nos assuntos internos do seu país.
Uma missão da Cosatu foi detida pelas autoridades em Harare e escoltada até à fronteira em Outubro do ano passado, quando ali se encontrava para encontros de trabalho com a sua congénere ZCTU.
Paul Mangwana, ministro do Trabalho do executivo de Robert Mugabe, disse na semana passada que a Cosatu deverá entender que "o Zimbabué não é uma província da África do Sul" e que o seu país não precisa de que centrais sindicais estrangeiras resolvam os seus problemas internos.
Questionando-se sobre "qual será o problema desse animal chamado Cosatu", Mangwana reiterou que os sul-africanos não são bem- vindos no seu país.
Em resposta, Zwelenzima Vavi afirmou que a Cosatu não necessita de autorização do governo do Zimbabué para enviar uma delegação ao país para manter contactos com a ZCTU e assinalou que a sua organização enviou uma carta do governo de Robert Mugabe a informá- lo das suas intenções, "apenas por uma questão de cortesia".
24-01-2005 14:08:31
(Fonte : Agência LUSA)