Cada indivíduo é uma totalidade concreta a que se chama personalidade. O conceito de personalidade implica o conceito de integração porque representa o conjunto de tudo o que existe na pessoa. O indivíduo pode ser mais ou menos semelhante aos outros indivíduos, mas ele nunca deixará de ser único.
Depois de amanha, em memória do guerrilheiro sem ódio, o Dr. Eduardo Mondlane, comemora-se o 3 de Fevereiro, dia dos heróis moçambicanos.
Nascido em 20 de Junho de 1920 em Manjacaze, província de Gaza, foi o último filho da terceira e última mulher do seu pai. Perdeu o pai ainda muito pequeno, foi cuidado pela mãe e iramos mais velhos. Ninguém da família frequentara a escola; ele e os iramos cuidavam das vacas, ovelhas e cabras. Porém a mãe, uma mulher decidida e destemida, empenhou-se para que ele recebesse educação. Em 1931, quando tinha onze anos, passou a frequentar a escola primaria oficial de Manjacaze, depois de dois anos, passou para a escola de mis-são, que estava perto de casa. Os missionários calvinistas interessaram-se pelo jovem e conseguiram em 1936 que fosse a Lourenço Marques fazer exame de 4ª classe, que era o máximo a que um negro podia aspirar naquela altura. Teve oportunidade de frequentar uma escola agrícola onde fez o curso de agricultura de sequeiro. Depois de ensinar dois anos de agricultura de sequeiro na região de Manjacaze, conseguiu uma bolsa para estudar ensino médio no norte de Transval. Em 1948 com outra bolsa entra na Universidade de Witwatersrand em Johanes-burg. No ano seguinte o governo da África do Sul reti-rou-lhe a permissão de estudante estrangeiro e os portugueses prenderam-no e interrogaram-no a cerca do seu esforço para organizar em Moçambique uma união de estudantes.
As autoridades portuguesas chegaram a conclu-são de que se fosse estudar para uma universidade de Portugal, curaria o embrionário Espirito de Nacionalista Negro. A Phelps Stokes Fund de Nova Yorque concede uma bolsa para uma universidade de Lisboa; ao fim de um ano solicitou transladassem a bolsa para uma univer-sidade americana e em 1953 obteve B.A em Oberlin Co-lege de Ohio.
De Ohio passou a Evanstone, na Northwester University, onde estuda antropologia e sociologia com professores de categoria de J. Melville Herskovits. Aí obteve a sua licenciatura e o seu doutoramento, meta nada desprezível quando, essa altura (1955), só havia dez moçambicanos no ensino secundário. Já Doutor, foi completar os seus estudos em Harvard University, durante dois anos. Em 1957 entra no Social Research, departamento da ONU onde esteve até 1961.
Em 1962 existiam em Moçambique vários grupos de nacionalistas com muitos líderes e pouco dinheiro. Os três principais grupos nacionalistas eram, União Nacional Africana de Moçambique (MANU), a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO), e a União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI). Mondlane viu a necessidade de unir os diferentes movimentos numa frente unida e num único movimento. Em 25 de Junho de 1962, funda a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), sobre a base de uma total fusão de todos os movimentos. No primeiro congresso decorrido entre 23 e 28 de Setembro de 1962 é eleito presidente, cargo que exerceu até 1969, quando no dia 3 de Fevereiro ocorreu a tragédia.
As onze horas da manha chega a Dar-Es-Salaam de uma das suas infinitas viagens e decide, antes de tomar o pequeno almoço, ir descansar a uma casa da costa da mesma cidade que pertencia a uma amiga da sua mulher e onde sempre tinha pronto o seu quarto.
Avisa o quartel-general da Frelimo que lhe levem aí o correio. Chegar a casa, subir ao seu quarto e pôr-se a vontade, é coisa de um momento, de tronco nu volta a descer para receber o correio que acabava de chegar e com ele sobe ao seu quarto, onde lhe levam o café quente. No correio vem um pacote com formato de um livro com selos da Alemanha Federal, catalogado numa cinta “pessoal e confidencial”. Começa a abri-lo...
A explosão faz tremer a casa inteira. Na habitação estava o corpo do Dr. Eduardo Mondlane horrivelmente mutilado. Um herói moçambicano que nunca usou ódio mas sim muita compreensão e sacrifício.
São exemplos a seguir por esta nossa geração, a unidade, o anti-tribalismo, regionalismo, racismo e foi o le-ma prosseguido pelo outro herói Samora Moisés Machel.
Que o 3 de fevereiro de 2005, leve a Frelimo a força da mudança, a mudar atitudes retrogradas de alguns dirigentes gananciosos e ambiciosos.
O saudoso Samora Machel ensinou-nos, que por detrás do tribalismo, regionalismo, racismo, esconde sempre o rosto mesquinho da ambição. Ambição que, tantas vezes, leva ao crime e a traição.
Os grandes feitos estão reservados para os grandes homens.
Tenho dito.
(Abdul Magide Abdul Gafur)
Obs. Dados colhidos numa revista espanhola “Vida Nueva
O AUTARCA - 01.02.2005