A FORÇA DA RAZÃO
Dr. João Baptista André Castande
Se para certos concidadãos constituíu alguma surpresa ou novidade o facto de Eduardo Joaquim Mulémbwè ter sido eleito Presidente da Assembleia da República com cento e sessenta (161) votos, isto é, mais um voto em relação ao número de deputados da bancada do partido FRELIMO, para mim, tal facto não é mais do que a demonstração clara de que também aqui no nosso país existem cidadãos que já
conhecem e assumem, na prática, o valor do segredo do voto, e votam em consonância com os ditames da própria consciência.
Sou, por isso, do parecer de que não comete acto de traição o deputado que, sendo da coligação RENANO-UE, optou pela personalidade proposta pelo partido FRELIMO; ou outro que, sendo do partido FRELIMO, tivesse votado no candidato apresentado pela coligação RENAMO-UE, por ter achado neste candidato superioridade de virtudes em relação às da pessoa do candidato do seu partido, desde que estivesse em causa a defesa dos superiores interesses do Estado, da Pátria e do Povo moçambicano.
Quanto a mim, nada há que proíbe que, sendo eu do partido X, não possa achar virtudes em determinada pessoa, apenas porque esta é pertencente à outra formação política. Além disso, há que ter em consideração que no dia 31 de Janeiro do ano em curso, lá no palácio da Avenida 24 de Julho, estava em causa a eleição de apenas uma personalidade das duas propostas, e que, muito embora pertencentes a duas formações políticas distintas, tinham o mesmo objectivo: dirigir o melhor possível a magna Assembleia da República nos próximos cinco anos.
E dúvidas não restam, como aliás é tão natural, que as duas personalidades propostas – Eduardo Mulembwè e Artur Vilanculo - têm valores individuais diferentes e, no caso vertente, venceu a popularidade, maturidade e experiência de Eduardo Joaquim Mulémbwè.
Com aquele gesto dos deputados da nossa magna Assembleia da República, tomado no dia 31/01/2005, o País e o Povo moçambicano ficaram a ganhar. E aqui, pouco ou nada interessa-nos a cor partidária da camisola dos deputados que votaram na pessoa eleita.
Se, na verdade, queremos que o actual processo democrático vingue no nosso País, então devemos encarar com normalidade aquilo que aconteceu na sala da plenária da Assembleia da República no dia 31 de Janeiro do corrente ano.
Anormal, porém, é imaginar a existência de personalidades que possam ser favoralmente votadas por todos os seus correligionários.
Igualmente anormal é imaginar a existência de partidos políticos que, a todo o momento, sejam favoravelmente votados por todos os seus membros.
É autêntica falsidade ou pura ilusão pensar desta maneira!
Em suma, pretendo dizer que a dita disciplina partidária não pode e nunca deve estar acima dos ditames da consciência de cada cidadão.
Concluindo
Não é verdade que conflitos de interesses, seja de que lado for, tenham determinado o rumo dos acontecimentos no dia 31/01/05, na sala da plenária da Assembleia da República; O que efectivamente aconteceu naquele dia, segundo o meu ponto de vista, é que todos os deputados souberam, com responsabilidade e consciência patriótica, votar na pessoa certa para a presidência da nossa magna Assembleia da República, valorizando assim o segredo do voto.
Visto que se assim não fosse, de nada valeria organizar eleições. Seria apenas necessário que cada candidato contasse o número exacto dos seus correligionários e pronto, já estava tudo ganho ou perdido. E apenas os cidadãos sem cartão de membro do partido é que ficariam nas bichas das assembleias de voto.
Como no momento disse o próprio Presidente da Assembleia da República, Eduardo Joaquim Mulémbwè, o voto contra não nos deveria incomodar porque, antes pelo contrário, é a manifestação da diversidade com que se deve aprender.
Por isso, é tamanha estupidez e ignorância indesculpável achar como algo de anormal o simples facto de alguém ter expresso o seu voto em conformidade com os ditames da sua consciência. Na verdade, e como bem dizia o compatriota do Maputadas (ZAMBEZE do dia 03/02/05), Francisco Rodolfo, tanta ignorância exibida por gente aparentemente letrada é aberração.
Afinal, de que liberdades e democracia falais vós?
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 09.02.2005