Poderá ser chamado, em nome da Fundação Joaquim Chissano - de que um dos propósitos é, como disse, a consolidação da paz - e também pela sua experiência política e diplomática, a mediar alguns conflitos em África?
Sim, não será somente por causa da Fundação, se puder ajudar alguma coisa em todo o processo de pacificação e integração de África darei a minha mão, se estiver dentro das minhas possibilidades. Contactos preliminares já foram feitos para eu estar de alerta, podem precisar de mim inclusive na situação do Congo e da Costa do Marfim. Vou jogar um papel pontual, não é para tomar um papel permanente nessa questões mas estou disponível.
"Quem não viaja vai casar com a própria irmã" é um ditado xangan - que, aliás, é a sua etnia - que remete para os que ficam presos às raízes e não querem descobrir o mundo. Uma metáfora sobre o futuro de Moçambique e as suas relações externas?
Moçambique viaja mas também às vezes Moçambique e os moçambicanos casam entre as famílias para guardar uma maior riqueza (risos).
Refiro-me por exemplo à adesão à Commonwealth em 1995, criando alguma polémica em Portugal, que se sentiu preterido em favor dos países anglófonos...
Não diria isso... com Portugal não tivemos atritos, houve alguns portugueses que ficaram com medo, mas esse medo já passou...
Portugal é visto como um parceiro privilegiado ou ainda existe algum fantasma das caravelas?
Nunca houve esse fantasma, depois da independência então... Nunca tivemos nenhuns problemas com o povo português. Tínhamos problemas com o racismo, com a ditadura, com o colonialismo, mas já os erradicámos... mas isso não quer dizer que não haja portugueses que ainda não compreenderam o seu papel dentro desta cooperação, desta solidariedade, desta irmandade, como também pode haver moçambicanos que ainda não compreenderam a necessidade de uma relação. Mas isso existe em todo o mundo.
Moçambique tem mais vantagens em estreitar laços com a Commonwealth ou com a CPLP?
Não temos escolha entre os dois, nós vemos as vantagens que existem para os projectos que existem, para os programas de cada momento, e vamos cooperando assim.
Diário de Notícias - 19.02.2005