SAVANA NO INFORMAL
Por Fernando Manuel
“BEM PREGA FREI TOMÀS: ouvi o que ele diz, não façais o que ele faz “. Muito longe disso, deus nos livre:
O sofrido editor do nosso colega mediaFax, João Chamusse, anda há semanas numa tão dura e sem tréguas quão inglória cruzada contra a CNE. Motivo: ele quer que se cumpra o preceituado na lei. E que se cumpra à letra, amofe quem amofar: “ os resultados do apuramento provincial “, diz o número 103 da Lei Eleitoral 7/2004 “ são anunciados pelo presidente no prazo máximo de sete dias, contados a partir do dia do encerramento da votação, mediante divulgação pelos órgãos de comunicação social, e são fixados em edital original à porta do edifício onde funcione a CPE e do edifício do governo da Província “.
Ora, o Chamusse quer os dados oficiais contendo os apuramentos provinciais das eleições de dezembro último. A fim de, por sua vez, dá-los ao uso dos seus leitores. A fim de que estes possam, em juízo, ajuizar da razoabilidade de tão abismal margem na vitória da Frelimo e do Guebuza.
Mas a CNE recusa-se terminantemente a abrir mão da sua cabala. O Chamusse fez até carta ao dignatário da CNE, carta cujo teor deu a conhecer ao seu público, integralmente, numa edição da semana passada. Todos os dias, ele manda um dos seus repórteres ir à CNE saber do assunto: ou bem da resposta à carta, ou da entrega dos resultados. E, no dia seguinte, informa os leitores, em pormenor, como a coisa está: desde como os burocratas da CNE receberam e trataram o seu homem, até às manifestações comuns de uma arrogância que “ ultrapassa a razão “.
E isto há já mais de 30 dias.
Em desespero de causa, o editor do mediaFax fez um editorial na segunda feira 08FEV05 na qual explica, recorrendo a um dicionário, o que é um edital : que vem a ser “ ordem oficial;cópia de édito ou postura camarária que se fixa em lugares públicos ou se publica na imprensa para conhecimento de todos “.
Ao que parece, a luta do Chamusse há-de bem acabar por se parecer com a de D. Quixote aos moinhos de vento: nobre, porém improfícua: como se pode ver pela foto - e ver bem, repare-se na beatitude do seu sorriso, na marotice do seu olhar - o Arão Litsure, o tal presidente da CNE, aconchegado nos braços de Mário Mangaze, presidente do Supremo, era dos homens mais felizes de entre os que se encontravam no local quando o Conselho Constitucional dava o final cut com a homologação da vitória do Txembene de Murrupula e do seu partido.
Mais eloquente do que o Litsure e o Mangaze só mesmo a figura da equipa de arbitragem que se abraça e felicita efusivamente quando uma das equipas marca um golo.
Mas não tem smoko, brother Chamusse: para todos os efeitos, estamos juntos: “ não há machado que corte/ a raiz ao pensamento” cantava Zeca Afonso. Também não há silêncios que abafem eternamente a verdade.
DEPOIS DA TRABALHEIRA que deve dado a mobilização de base e fundo para pôr os mortos e viajados e doentes e indispostos a votar - e votar na Frelimo e mano Guebas a 100 por cento - comemorar a vitória é um acto mais que natural:
Assim o Taímo Jamisse - pioneiro nessas coisas de manipular softwares, quando em 1999 esteve à frente da CNE, instituição que desde então abdicou definitivamente da sua laicidade - o Manuel Tomé, exemplar na guerrilha verbal da contra-informação, o Alberto Chipande: “ ôxente, baita susto hein ? “...
...ASSADO O ORLANDO COMÉ, a olho nú, o António Frangoulos de lentes unifocais: “ em se tratando de perdiz, a gente repete sempre. É um prazer renovado. “
“ Bah, estes panhonhos vão levar sempre: não conseguem distinguir um píxel de uma seara de milho “.
HÁ DE FACTO QUEM FEZ A CAMPANHA com o suor do seu rosto, com o sangue do seu coração generoso, pobre e ingénuo: e este é o povo, o paspalhão do povão. E enquanto o eleito festejava a vitória com os seus pares, o povão regressava à real: havia que voltar para casa, para isso era preciso apanhar o chapa, para apanhar o chapa era preciso ter, no mínimo, 5 paus:
Checkado o meio circundante, eis que deus iluminou o caminho: um branco com ar de padre arrependido, careca, sorriso paternal, indubitavelmente folgado, crachat ao peito. E o bote, mão sobre o coração:
“ Camarada, eu sou da Frelimo e do Guebuza sem tirar nem pôr. Camarada, faz-me lá um oriento de 5, tá na hora de ir ver os meus netinhos em casa “.
E ele, sovina como só quem o conhece : “ e quem disse que eu sou camarada ? Eu não sou Moçambicano. Estou cá desde 75, mas só de apoio. Eu sou britànico. E, depois, 5 para dar nunca tive “.
Não faz mal: 2009 não é assim tão longe.
BELOS, OS TEMPOS EM QUE A SELECÇÃO SÉNIOR de futebol do seu país o coroou com o fresco louro para seu patrono e vendeu a sua classe mundial como KK Eleven.
Keneth Kaunda: quase um herói, quase um mito, quase um deus. Quase tudo e quase nada porque o destno o despiu da sua aura antes do tempo - foi ainda em vida, perante o olhar impúdico, conspurcador e redutor dos que o idolatraram:
Quando o velho e senil Kamuzu Banda desabou sobre as suas próprias pernas em pleno pódio da Organização da Unidade Africana o povo morreu de riso e tirou-lhe o manto de divindade com que o tinha coberto; o mesmo fez com o Fidel, quando escorregou numa casca de banana que só existiu na sua canbeça e, mesmo assim, caiu de verdade.
KK, o bom velho de lenço branco e lágrimas à porta dos olhos quando abraça um corpo de mulher feito guitarra acústica, deve de ter muito que contar e cantar e chorar sem lágrimas quendo perante putos na flor da idade, prenhes de adrenalina e sonhos: malta Raúl Domingos, Leonardo Simão: “ putos safados “, diz entredentes, pensando noutra coisa, noutro tempo, outros lugares.
SAVANA - 18.02.2005