Caros amigos,
Era uma vez havia um grupo de julgados intelectuais patriotas oriundos de STP, residentes no estrangeiro, que ouviram falar em movimentos de libertação, de luta contra o colonialismo (armada e não armada) para a libertação do povo do jugo do colonialismo que se fazia por outras paragens (terras distantes de África). Nessa altura tinham ouvido falar também de Nelson Mandela, Oliver Tambo, Agostinho Neto, Eduardo Mondlaine, Amilcar Cabral, entre muitos outros realmente preocupados com a libertação do seu povo. Certamente culpas eram atribuidas aos colonos capitalistas e por isso, o regime soviético de marxismo leninismo (utópico desaparecimento de classes, desaparecimento da economia de mercado e coisas afins) vinha mesmo a calhar para o financiamento de todas essas "lutas armadas e não armadas". Muitos estudantes tornados políticos e guerrilheiros de então eram pessoas sérias, íntegras, com ideais nobres para os seus povos e por conseguinte para a humanidade.
Para STP calhou-nos uns libertadores (Pinto da Costa, Miguel Trovoada, entre muitos outros) que nos sairam mais que a encomenda. Desde muito cedo eles se intitularam como mandatários do povo para a sua libertação e assim criaram o CLSTP que em 1972 se transformou em MLSTP. Quem escolheu esse grupo específico ainda é uma incógnita. Esse grupo de "hipotético salvadores" da pátria (oportunistas no caso de STP) venderam-nos ideias como: vamos expulsar os colonos e exploradores da nossa terra, vamos a partir de hoje governar os nossos destinos, vamos poder criar riqueza e bens para o nosso povo, somos um povo livre e independente, entre coisas assim.
Nunca mais me esqueço, quando ainda uma criança ouvi dizer na rádio no dia 30 de Setembro de 1975, do alto do poleiro o "mais velho - o mais alto magistrado da nação" e a sua equipa de gananciosos proclamarem a viva vóz "Roça Rio do Ouro e as suas dependências a partir de hoje é nosso"; "Roça Colónia Açoriana e suas dependências a partir de hoje é nosso", ... até à última das roças agrícolas. Daí passamos de agrícolas à agro-pecuárias. Passamos de colonos brancos a .... negros. Para uma criança como eu na altura, esses palavrões fizeram crescer em mim ódio, revolta contra os ditos colonos, usurpadores das nossas riquezas, ódio a um inimigo que me pintaram. Assim fomos brindados em tudo quanto era sítio com promessas de melhorias visíveis para o povo, comités de zona (juízes locais), engajados para nos ilucidar das boas e melhores intenções desses "salvadores" da pátria.
O trabalho voluntário tornou-se uma "real" necessidade e um dever cívico desde que fotos do "mais velho" apareciam em tudo quanto era sítio mostrando a sua entrega às causas do bem estar e desenvolvimento do nosso povo e do nosso país. Tudo isso, longe de nós suspeitarmos que afinal de contas eram lobos em pele de cordeiro. Enganaram-nos e mal, enganaram os nossos pais, enganaram as nossas irmãs, enganaram as nossas mães, enganaram os nossos avós. Meu Deus como essa gente só tinha algo em mente, que não mais era que enganar o povo, pela técnica da distração e engajamento fazendo o povo adormecer enquanto iam aos poucos fazer afundar o país e o seu povo.
Com a nacionalização das roças algo mudou e radicalmente, esse algo novo era sombrio maquiavélico, algo que nós povo humilde e de pouca cultura política não nos apercebemos. Esse algo começou pelo apropriar-se dos bens do ex-colonos por parte dos detentores do poder na altura, para uso privado, pessoal. Esse algo novo era também o roubo da nossa identidade e a sua venda no mercado internacional aos doadores estrangeiros. Também fazia parte desse algo a hipoteca do nosso futuro, do dos nossos irmãos, filhos e netos; Acima de tudo estava preparado para nós uma prisão, exploração, martírio e subjugação muito pior ainda que a dos colonos. Ao povo nada perguntaram. Sim era nosso (nós não entendemos na altura), quiseram eles dizer deles os detentores do poder e, apenas e só, o povo não estava incluído nisso. O povo também não pediu nenhum esclarecimento, porque presumiu que estava incluído na partilha do bolo, mas não. Engano seu (do povo). Assim o nosso falso amigo (ozé non ká kanté ni lundú, sum pintú costa púndá dêçú xi sun ná sê bê lundú fá sun ká bá puntá sá Ímé) entrou pela nossa casa dentro, nas nossas vidas, nas nossas almas e nas calmas apoderou-se de tudo o que tinhamos e partiu, ao contrário do que dar-lhe uma manducada ainda agradecemos-lhe pelo "bem" que nos prestou.
Todos aqueles que ousavam levantar e fazer perguntas eram automaticamente chamados reacionários, por isso deviam ser presos, dizimados, eliminados, aniquilados, pois eram inimigos do povo. Por isso os detentores do poder em STP assumiam como defensores íntegros da "res publica". A política de pessoalização das instituições e do estado, do governo e da governação aí se seguiram como forma de identificar claramente quem era o "deus" e o claro libertador do povo. Esse idolatrar de uma determinada figura por mais incompetente que fosse, porque é detentor de poder, mesmo que de forma duvidosa (vejam o caso das eleições presidenciais de STP, creio que na primeira metade dos anos 80, resultou numa votação de cerca de 99% no único candidato apresentado, ou seja o então PR) levou-nos aos mecanismos de desinformação como criação sistemática de bodes espiatórios (por exemplo a suposta tentativa de golpe de estado, onde inúmeras pessoas foram presas e castigadas, humilhadas). Assim toda a nossa atenção era desviada para esses casos e por isso não nos podíamos concentrar em assuntos cruciais da nossa vida como cidadãos.
As músicas, comentários ou indivíduos que se manifestavam suspeitos eram presos, inebidos proibidos de e os autores (de letras musicais) eram chamados a depor e por outro lado os "bufos" eram empolgados, promovidos (subiam) em detrimento dos que pela razão se insurgiam contra as injustiças que se instalavam.
Nunca mais me esqueço quando um aliado directo do "mais velho" (chefe de segurança pessoal do PR) atropelou e matou uma criança na área da escola primária Atanásio Gomes, pois vinha à uma velocidade extremamente excessiva, o castigo determinado para esse criminoso, foi uma semana sem conduzir e os pais da infeliz criança nada puderam fazer para reivindicar os direitos à vida do ente querido. Claro, o que era a vida de uma criança pobre comparativamente aos poderes do sr. chefe de segurança do "mais velho"?
Com uma população humilde, conformada, ordeira e controlada sob métodos mais desumanos imagináveis, os nossos carrascos podiam fazer fortunas à custa de mentiras aos doadores internacionais. Muitos desses doadores visitavam STP, viam e sabiam que nada estava a ser feito, que o povo estava cada vez mais paupérimo mas coniventemente fechavam os olhos. Viam também que os dirigentes estavam abastados a olhos vistos, mostravam sinais exteriores claros de riqueza, mesmo que passassem tempo muito limitado no governo ou agências do governo. Todos viam e vêm essas barbaridades todas, mas ninguém fazia e faz nada: uns porque não podiam e tinham medo de serem perseguidos; outros porque era conveniente manter o "status quo". Assim criamos duas sociedades a velocidades infinitamente diferentes: o povo - pobre, cada vez mais pobre, humilde, infeliz, oprimido e os dirigentes - abastados, ricos, cada vez mais ricos, poderosos, arrogantes, incompetentes, ladrões. Esses podiam e podem roubar a olhos vistos sem que nada lhes aconteça.
Em 1986/7 veio a "ajuda" do FMI, que rapidamente exigiu ajustamento estrutural, mais a desvalorização deslizante da moeda e outras medidas correctivas exigidas por eles. Nunca mais me esqueço as reuniões com o povo também exigidas e o "mais velho" mais o seu quadril andaram de zona em zona a vender-nos uma vez mais a necessidade de mais um sacrifício e então a desculpa era sempre a baixa do preço do cacau no mercado internacional. Não havia referência nenhuma a fortunas feitas em nosso nome e um aumento escandaloso da dívida externa do país, nem tão pouco ao fosso cada vez maior entre os governantes e governados. "Saco vazio não fica de pé" e tinhamos que apertar mais o cinto, pois trabalhando cada vez mais não era suficiente.
Assim passamos de um país com falta de quadros (uma vez que os colonos não formaram quadros) a um país com falta de crânio. Falta de crânio ou intelecto pois muitos "intelectuais" simplesmente se acomodaram à maneira mais fácil de fazer fortuna; Mais valia eles que o resto da população.
Portanto, os nossos dirigentes - pedintes desavergonhados - recebiam e recebem esmolas dos doadores e enchem os seus bolsos e nada fizeram e fazem para merecer isso. Fazem isso com a maior lata do mundo em nome do povo. Mancham o nome e honra do povo em benefício próprio. O povo, esse tornou-se por inerência pedinte dos políticos já que não podem pedir aos doadores internacionais.
Assim temos uma sociedade de pedintes. Como está provado que um país de pedintes nunca vai chegar a lugar algum desejável, este estado de atitude e princípios tem que ser revertido. Princípios pedintes dos dirigentes (agora mais do que nunca), sempre sob a disculpa da enorme crise económica e financeira a que o país atravessa, tem de acabar agora ou nunca. O país está sempre na crise financeira e económica, mas isto não se verifica no nível de vida dos nossos dirigentes, mas sim no povo. Isto é uma táctica cruel e desumana aplicada desde o tempo do "mais velho e os seus governos, quis dizer a sua quadrilha", todos os seus sucessores apenas deram continuidade.
Atitude pedinte do nosso povo, pelo acomodar das coisas, pelo "leve leve", pelo não ser capaz de "vugú cú ubuê" tem de acabar imediatamente, senão esse povo será exterminado dentro de muito poucas décadas.
Fico imensamente preocupado quando penso na pequenêz de visão dos nossos governantes, quando vêm para Lisboa ou outra cidade europeia qualquer e alugam suites presidenciais em hotéis de luxo e vêm o seu povo mendigar empregos em Portugal, o seu povo a mendigar títulos de residência, quando os seus técnicos exercem tudo menos a profissão para que se formaram, quando cidadãos seus são tratados por inferiores, quando cidadãos seus preferem empregos inferiors que participar no desenvolvimento do seu próprio país. A explicação é simples, pois quanto menos intelectuais tiverem no país mais facilmente conseguem roubar e enganar o povo. Seguem incansavelmente uma política de alvo fácil.
Assim temos o povo de STP pedinte em casa e pedinte fora de casa. Nós somos uma população de pedintes em tudo quanto é lado. Não conseguimos nos separar desse estígma, não conseguimos. Hoje em cada 10 sãotomenses 9.5 têm grande dificuldade em não ser pedintes de uma forma ou de outra; não conseguimos levantar por nós próprios e marchar; não conseguimos nos sacrificar para fazer algo em nosso próprio benefício sem muletas. Será que isto está tão embuido no nosso subconsciente que já não sabemos fazer mais do que isso? Pois é, para a geração de 70/80/90 até faz sentido, nasceram e cresceram sem conhecer uma outra via que não pedinte.
Se os nossos dirigentes ladrões soubessem como é que são ridicularizados pelos ditos "amigos" seus oriundos dos países onde depositam avultadas somas em dinheiro roubado? Se os nossos dirigentes soubessem que a criação de uma economia de mercado verdadeira é a base e pilar de um desenvolvimeto sustentado, e que como são ricos e mais ricos seriam e mais rspeitados seriam em casa e fora dela? Se soubessem que quando Pedro Pires vai a Portugal vêm e tratam-no com deferença, pois sabem que ele tem apoio do povo que ele alguma vez dirigiu. Ele não tem de temer seja o que for, razão porquê ele consegue visitar a sua comunidade no estrangeiro. Porquê que o MT ou PC não o fazem? Simples, têm medo e não são bem vindos. Governaram mas nunca foram líderes nem do povo sãotomense nem de uma geração e o seu grau de influência não passa de um quarteirão de seguidores seus (paus mandados). Assim decidem viver num casulo, sentindo o peso da amargura de um respeito que querem ter e nunca o mereceram nem fizeram para o merecer.
Caros amigos e compatriotas por favor reflictam nos pontos tocados ao de leve aqui.
Abraços,
Oscar Mateus
Retirado da net - 23.02.2005