O PAÍS QUE SOMOS
Por: Daniel Bell
A nossa vida é dominada nos dias de hoje por celulares. Tudo passa por lá, e felizmente muitas vezes para impor humor moçambicano. Prepare-se para rir.
Estou em plena Praça da Independência a testemunhar a subida ao ‘trono’ do novo Presidente da Republica, Armando Guebuza, eleito nas eleições de Dezembro de 2004.
Dizia que estava na Praça, então, toca o meu celular e reparo que é uma mensagem. Pensei que fosse coisa séria. “A nova primeira dama traz na cabeça um capacete branco, é para proteger o povo contra o sol”. Depois entra outra: “Dhlakama
está no terraço do prédio 33 andares a assistir em directo a tomada de posse, quis estar acima de todos”.
“Não vou à Praça, estou a ponderar a proposta de ser ministro, vou-me decidir quando a minha mulher me dar conselhos. Ela está na praça...”.
O telefone não pára: “Acabo de recusar o convite do tio Guebas para integrar o Governo, pois sou empresário de sucesso”. Mais uma: “Procura-se avicultores, pois todos capricultores foram demitidos pelo próprio...”.
As pessoas encontram nas mensagens uma via do triunfo do nosso humor nacional. Circulou nos celulares a interpretação de que a frase “o fim do deixa andar”, significa que os cabritos que pastavam onde queriam, passariam a ser amarrados por A. Guebuza, na luta contra a corrupção generalizada.
O forte do novo Governo é que, no lugar de cabrito, elegeu-se o pato, cujo controlo é mais fácil na capoeira.
Como hipótese, aproveitar-se-ia a própria experiência do chefe-máximo, que é um criador nato de patos.
O conteúdo das mensagens não tem maldade, ao revelarem-se como um escape social nesta temporada política, na qual o processo político excluiu uns e incluiu outros. Entre nós no partido, muitos foram excluídos, incluindo estrelas da academia, vulgo mestres, doutores, Phd, associados e catedráticos.
Não há espaço para todos. Muitos de nós esperavam ser (re)nomeados (ministros, vices, governadores) mas nada disso aconteceu.
Por falar de novos ministros, quinta-feira (três de Fevereiro) fico a saber que o sonho do nosso amigo professor na faculdade PIG de ser ministro se concretizou.
Foi uma longa espera, mas vale a pena a espera.
Estamos à espera do convite para celebrar.
Sobre a cerimónia de tomada de posse, fiquei bem impressionado com a Primeira Dama (ou para ser anglófono, já que somos da Commonwealth ‘First Lady’), surpreendeu-nos pela positiva. Trazia roupas jamais vistas, a desafiar a Rainha da Inglaterra, e outras famosas como Nancy Reagan ou a Raiza Gorbatchov, nos tempos terminais da guerra fria.
Na história da moda o branco e vermelho às vezes são rivais como são hoje os pontos cardeais Norte-Este (Capitalismo-Socialismo). Ela estava de branco, como uma noiva. O branco é também a cor da paz que todos nos amamos, daí que é consagrada nesta
crónica “Primeira Dama de Paz”.
A justificação do chapéu, segundo tive explicação, é que ela é mãe da nação. Por isso é sua obrigação proteger o povo moçambicano contra o sol ou chuva.
Menos o vento, porque o chapéu branco (aqui denominado capacete) corria o risco de voar durante a cerimónia.
São coisas de estilistas, que muitos de nós não percebemos e provavelmente a roupa teria sido comprada com ‘nota preta’ dos melhores estilistas de Paris.
A ocasião não era para menos. Era preciso ser ‘mais mais’, antes que caia na controvérsia do Imperador Bokassa, que, apesar de estar vestido com a maior extravagância de sempre feita em Paris, apareceu um convidado com roupa igual.
Louco por querer estar acima de todos, o imperador nada podia fazer senão expulsá-lo da cerimónia de subida ao trono do seu auto-proclamado império, no actual território da República Centro Africana.
Gostei do coro, vestido de cores da nossa bandeira nacional. Temos que ter a cultura de respeitar e amar a nossa bandeira. Vejam as outras nacionalidades, caso de brasileiros, norte-americanos. A nação deve estar dentro de nós, correr nas nossas veias o sangue do nacionalismo e amor à ‘Patria Amada’.
O tio Guebas (como é carinhosamente conhecido o nosso Presidente) estava lindo na tomada de posse.
Para falar a verdade, o tio Dhlakas também é bonito, só que o tio Guebas está na dianteira. A minha vizinha apaixonada pelo homem mais importante de Moçambique, justifica: “É um pão, fica charmoso com o cachimbo”.
Resumindo, Dhlakama é um amor (por ter aceite os resultados), Guebuza é charmoso (por ser presidente de todos os moçambicanos, incluindo Dhlakama).
Para terminar, os nossos parabéns à FRELIMO que tem pela primeira vez na sua história uma mudança pacífica, sem sangue do seu chefe e luto que ainda percorre as famílias de Eduardo Mondlane e Samora Machel.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 10.02.2005