TRIBUNA LIVRE
Coluna de João CRAVEIRINHA
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AOS SERVIS / Do meu inconformismo/ não ambicionem/ a constância. / Na ignóbil assunção do asco / é mais heróico o dom / do servilismo. / (Poema inédito de
JOSÉ CRAVEIRINHA em 1995)
A liberdade de expressão não pressupõe a falta de respeito a dirigentes de Moçambique por mais incompetentes que possam ser ou não. Todavia em certa CSM – Comunicação Social Moçambicana, de amiúde, são publicadas atordoadas fora de contexto e do tempo, revelando uma total falta de amor-próprio como Moçambicanos, dos próprios articulistas, fazendo o jogo sujo dos racismos pós-coloniais não exorcizados pela maioria dos Portugueses “brancos”, dentro e fora de Moçambique. Parecem órgãos de informação criados para “dizer mal” de tudo que é Moçambicano, africano e do “preto”, justificando assim a pretensa falta de capacidade congénita desse mesmo “preto” para se auto-governar. Ao fim ao cabo esses editores e escribas “pretos” revelam uma atitude de servilismo e de “molequismo” no seu mais abjecto anti-eu aceitando que sejam tratados com menoridade intelectual por reflexo.
Portugueses elogiando políticos Angolanos da oposição, apologistas “do paraíso perdido do período colonial” (para quem?), em detrimento da Independência e extrapolarem isso para Moçambique é pura demagogia perigosa e alienatória, reflectindo, uma miopia analítica, pois mais uma vez os Portugueses que tal escrevem não percebem nada do contexto político africano de África e em particular de
Moçambique. Sempre um olhar com olhos superiores de antigo capataz português do antigamente, em que o bom “preto” é o bom rapaz (boy) ingénuo (naïve) que aceita saguates de restos e servil “sorri feliz” porque o “patrão branco” está satisfeito com ele e dá palmadinhas nas suas costas. Mas que não pise o risco, senão…”porrada se refilares”. Como dizia o Poeta nacional de Angola.
… “É preciso não esquecer que tivemos no passado problemas de racismo. E agora parece que voltamos a esse passado, que pensávamos que já fazia parte da nossa História. Mas creio na capacidade analítica dos moçambicanos, e iremos entender e lutar contra esta nova vaga de racismo. Há formas disfarçadas de racismo”, disse insistentemente Simão”... (in Leonardo Simão
em Londres, em Março 2001, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação).
Não se gostar da FRELIMO não dá o direito de insultar os seus dirigentes. O mesmo se aplica para com os da RENAMO e outros. O facto de terem acontecido arbitrariedades cometidas pela FRELIMO não lhe retira o papel e o peso e valor Histórico de ter
conquistado a Independência como em menor grau lutou o COREMO, destruído pela FRELIMO em conivência com as autoridades Portuguesas de então (1974), Tanzânia e do Malauí (Malawi) e abandonado pelos EUA (CIA), Zâmbia, Egipto e China Popular que
os apoiaram (ao COREMO).
Regressando ao tema de hoje, conjecturo porque razão essa Comunicação Social Moçambicana, também já agora, não “ataca” os dirigentes políticos Portugueses pelo “amordaçamento” dos cidadãos Portugueses de ascendência negra africana, residentes em Portugal? País de adopção onde não tem visibilidade por impedimento cívico de ordem vária em termos de participar na vida sociopolítica e empresarial
portuguesa. Nem um Deputado Negro na Assembleia da República em Lisboa. (Salazar pelo menos disfarçava e tinha lá uns tantos a fazer de conta representando Moçambique, Angola, Stº Tomé, Cabo Verde e Guiné). Nas Televisões, nem pensar. São cerca de 1 milhão de negros portugueses e são tratados como cidadãos de 3ª mas são portugueses. Cerca de 10% de uma população total de 10 milhões. Uma presença silenciosa. Para as cadeias tem visibilidade em desproporção. (Nos Futebóis não conta por não ser actividade intelectual e não haver muito melhores).
E em Moçambique essa Comunicação Social, reflectindo um complexo colonial (re) publica textos insultuosos, enviados por Portugueses, contra os seus dirigentes Moçambicanos. Impensáveis serem aceites textos do género, pelos editores Portugueses nas edições de seus jornais em Portugal, caso um jornalista Moçambicano, enviasse artigos a maldizer dos dirigentes Portugueses. Então que haja reciprocidade e deixemos de colonialismos culturais e mentais. Ou então que se tenha mais orgulho em ser Moçambicano!
Quo Vadis Jornalismo em Moçambique? É mesmo de se perguntar –, para onde caminhais escribas da terra?
Roupa suja lava-se em casa. Mais dignidade, por favor!
CORREIO DA MANHÃ (Maputo) – 01.02.2005