O novo chefe de Estado de Moçambique, Armando Guebuza, na primeira entrevista a um órgão de Comunicação Social português, após ter sido investido no passado dia 2, afirma querer mais investimento luso no seu país.
Correio da Manhã – Sr. presidente, assumir a chefia do Estado após Joaquim Chissano será para si um pesado fardo?
Armando Guebuza – Ser presidente da República é, só por si, um grande fardo e uma grande responsabilidade. E essa responsabilidade é acrescida quando a referência daquilo que foi o passado é da dimensão e estatura de Chissano.
– Quais vão ser as suas prioridades estratégicas a nível nacional?
– Tenho um manifesto que foi aprovado e que foi apresentado à população. Vou valorizar a paz, combater a pobreza, consolidar as instituições democráticas e lutar contra o burocracia em excesso, a corrupção, o crime e o espírito de “deixa-andar”, ou seja, a apatia das instituições perante o sofrimento da população.
– Como combater a corrupção?
– Tenho de assumir que existe corrupção. Temos de criar condições para que haja mais recursos para os órgãos da administração da Justiça, tanto em termos de recursos humanos, como materiais e financeiros.
– E quanto a política externa?
– Continuaremos a privilegiar a defesa da paz no plano internacional; a defesa dos pobres de modo a que os países pobres possam ultrapassar os problemas que enfrentam hoje. Vamos dar a nossa contribuição através da NEPAD, SADC e PALOP.
– Como é que vai ser a sua relação com o líder da Renamo?
– Estou disponível a trabalhar e a colaborar com Afonso Dhlakama. Espero que ele dê uma contribuição valiosa e patriótica no Conselho de Estado. Estou disponível para escutar os seus pontos de vista. Ele poderá fazer muito para reforçar a unidade do povo moçambicano e apoiar na luta contra a pobreza.
– Que desfecho antevê para Cahora Bassa?
– É preciso encontrar a solução mais rápida. Com as negociações é possível que cheguemos a um acordo que beneficie ambas as partes.
– Que apreciação faz do investimento português no país?
– Os portugueses estão bem colocados para realizar investimentos em Moçambique. Espero que os empresários portugueses continuem a sentir-se atraídos pelo nosso país. Queremos que eles invistam para criar mais riqueza. Sentimos sempre um calor muito grande no nosso relacionamento com os portugueses.
– O que é que os moçambicanos na diáspora podem esperar do seu governo?
– Os moçambicanos na diáspora devem sentir-se satisfeitos por terem participado pela primeira vez na eleição do presidente da República e dos deputados para a Assembleia da República. Espero que eles continuem ligados à sua pátria e que continuem a acompanhar o desenvolvimento do país e que não se sintam inibidos em coloborar e apoiar Moçambique.
PERFIL
ARMANDO GUEBUZA, de 61 anos, juntou-se na década de 60 a um grupo de jovens do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique e em 1963 aderiu à Frelimo. Foi ministro da Administração Interna e do Interior e ficou associado aos casos 24/20 (expulsão de estrangeiros em 24 horas com 20 quilos de bagagem).
Em 1990, foi nomeado chefe da delegação do governo às conversações de paz com a Renamo, em Roma, que culminaram com o Acordo de Paz que pôs termo à guerra civil de 16 anos. Em Junho de 2002, foi eleito secretário-geral da Frelimo. Dois anos depois, em Dezembro de 2004, venceu as eleições presidenciais, substituindo o carismático presidente Joaquim Chissano.
CORREIO DA MANHÃ - 13.02.2005