Vice-presidente da UNITA defende legislativas e presidenciais simultâneas
"Se não houver verdadeira vontade política, nem daqui a quatro anos haverá eleições" em Angola, declarou ao PÚBLICO, em Lisboa, Ernesto Joaquim Mulato, vice-presidente da UNITA. "Penso que 2006 é o momento oportuno para se realizarem tanto as legislativas como as presidenciais, em simultâneo".
O dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola deslocou-se este fim-de-semana a Portugal, para participar nas celebrações do 29º aniversário da fundação do Galo Negro, a 13 de Março de 1966, nas matas do Leste. O fundador do movimento que se tornou o principal partido de oposição angolano, Jonas Savimbi, foi morto em 22 de Fevereiro de 2002, naquela região.
"Não temos visto a vontade política de realmente se fazerem as eleições no próximo ano. Ainda há (da parte das autoridades) hesitações aqui e acolá; mas já começou o debate das leis eleitorais e 2006 não pode passar", sublinhou Mulato, engenheiro civil, 64 anos, natural da província do Uíge, Norte de Angola.
Posição ambígua do MPLA
"O resultado das eleições de 1992 foi inconclusivo [não chegou a haver a segunda volta das presidenciais, por a luta ter recomeçado]; e assim se foi governando até hoje", considerou o vice-presidente da UNITA. "O MPLA tem apresentado uma posição ambígua quanto às legislativas e as presidenciais serem ou não ao mesmo tempo. Há vários factores que apontam para a conveniência de que sejam em simultâneo, entre eles o dos custos. Umas em 2006 e outras em 2007 seria muito oneroso".
Mulato assumiu o seu actual cargo no IX Congresso do partido, que se realizou em 2003 na localidade de Viana, perto de Luanda, e colocou na liderança da UNITA Isaías Samakuva.
"Uma das coisas que temos de fazer é melhorar as condições a nível das províncias [do interior]", prosseguiu. "Só na região de Luanda temos quase quatro milhões de pessoas, um terço da população total do país. Depois, temos grandes concentrações urbanas em Huambo, Benguela, Bié e Uíge, enquanto se vai verificando o completo abandono das zonas rurais. Há fome em Angola, e a agricultura tem de ser uma das nossas prioridades. Nem sequer a de subsistência se está a fazer. Há que apoiar as populações, designadamente com sementes. Há que lhes garantir o mínimo de duas refeições por dia."
Por outro lado, "é preciso garantir a qualidade do ensino, o que não se tem estado a verificar", disse ainda Mulato. "Savimbi defendeu sempre o perfeito domínio da língua portuguesa".