* Vários membros do novo Governo português têm ligações conhecidas a Moçambique. A começar pelos laços afectivos de António Costa, o número dois do PM Sócrates. Há depois o ministro dos Transportes Mário Lino, antigo elemento do Partido Comunista e "comissário político" das nacionalizações em Moçambique. Castro Guerra, o secretário de estado da Indústria, pertencia à "linha esquerdista" da faculdade de Economia, uma dor de cabeça para a Associação Académica de Ivo Garrido.
* Mas as expectativas em relação a Portugal centram-se no "dossier Cahora Bassa" que o ex-ministro Castigo não conseguiu resolver. Guebuza, num intervalo da reunião do Comité Central na Matola, telefonou a Sócrates para o felicitar e aproveitou imediatamente para lhe lembrar a HCB. As dificuldades moçambicanas serão agora acrescidas, pois há sectores influentes no Partido Socialista que têm reticências sobre a forma como em Maputo se pretende resolver o assunto.
* As más notícias não vêm apenas de Lisboa. De Washington anuncia-se a nomeação de Paul Wolfowitz para presidente do Banco Mundial. Wolfowitz é um dos "falcões" da guerra do Iraque e é um dos líderes da "nova direita" americana com poucas simpatias para posições terceiro-mundistas sobre o endividamento dos países pobres e o papel do Estado na economia.
O PGR Madeira viu-se atacado por todos os quadrantes na AR. Bem andavam os que o avisavam que era melhor apresentar a demissão antes de o colocarem perante facto consumado como parece ser o veredicto para as próximas semanas. Na FRELIMO há muitos que não gostam das arremetidas anti-corrupção da sua vice Rupia.
* Os avisos sobre a zona das canetas, por parte da nobreza, estão cada vez a ficar mais claros: os processos contra jornalistas, segundo a lei de imprensa, são mais céleres. Que se cuidem os velocistas, mesmo os dos dias dos fatos domingueiros... que nunca assinam os textos.
* A maioria dos deputados da AR continuará a navegar por águas turvas, por não lerem a documentação disposta conforme foi o caso do informe de Madeira. Teóricos há que defendem, e com razão, que o deputado de Mopeia fala Chuabo com os seus. Mas essa cena de levar varas para a AR é um Case Study, como diriam os americanos.
* Linett Olofsson decidiu quebrar o jejum e contar a sua história capaz de comover qualquer alma sã e equilibrada. Só que, ou por culpa do jornalista que não fez a pergunta, não se ficou a saber como se sentiu quando o seu nome foi retirado das listas de deputada pela perdiz, em benefício da empregada doméstica do "pai da democracia".
* A retórica guebuziana sobre o que é o deixa-andar está a mexer mesmo com os deputados da perdiz. E, no meio deles, ontem, ouve um deputado da perdiz que, em plenos pulmões, disse que "a FRELIMO é um governo de criadores de patos". Coisas da Escolinha do Barulho.
* O guardião da legalidade da nação moçambicana esteve debaixo de fogo cruzado dos seus camaradas e da oposição.
Na sua ladainha defensiva, Madeira disse que quando ocupou aquela pasta fora avisado que ia abrir a sua própria sepultura. Que o diga Mulémbwè, que passou por ali, prometeu desmascar os corruptos, e agora, segundo a inveja, vai no terceiro mandato do seu agradabilíssimo sepulcro....
SAVANA – 18.03.2005