VENTO DE CAUDA
Por João Chamusse
Li, não com pouca atenção, a proposta do Programa Quinquenal do Governo e acabei sem saber se devia rir ou chorar.
O documento com 114 páginas é mais uma declaração de boas intenções, aliás, na sua essência, a maioria das mesmas vem sendo propalada aos quatro ventos, desde os primórdios tempos de pós independência e, resumidamente, manifestam o desejo de desenvolvimento do País e, consequentemente, o bem-estar do seu Povo.
Em nenhuma das páginas do actual documento vislumbrei qualquer linha que de uma forma clara esclarecesse como serão feitas as boas acções nele propostas.
Ou seja, caso se actualize a semelhante proposta da anterior governação, ou mesmo de um manifesto de qualquer partido político da oposição, tudo daria no mesmo.
Seria em muitos casos a simples colagem de números para se parir o actual documento.
O actual documento, tal como está concebido, assemelha-se ao episódio daqueles que mudam a mesma água de uma garrafa para outra, e, como tal, acreditam que passam a ter nova água.
Puro engano!
Este já não é o momento de declarações de boas intenções, aliás, diz o ditado, o inferno delas está cheio.
Este é o momento de informar os cidadãos como as coisas, na prática, serão feitas para que seja alcançado o tão almejado bem-estar que para a maioria não passa de uma miragem.
O documento do Governo não explica, por exemplo, donde virão os fundos para a concretização das boas intenções, até certo ponto bem legítimas.
Será que os fundos virão com o aumento dos impostos? Ou virão de mais endividamento externo?
Ou então vão aumentar-se as pensões?
Nada está claro nesse documento sobre que medidas serão tomadas para uma melhor distribuição da renda nacional pelos cidadãos. Será que isso vai ser possível com uma abertura do leque dos cidadãos com acesso ao crédito dos Fundos do Tesouro?
É que, actualmente, apenas uma pequena elite onde se inclui o actual Presidente da República é que tem acesso a tais fundos, que em muitos casos nem estão a pagar os respectivos créditos? Serão criadas instituições financeiras de crédito agro-pecuário?
Por outro lado, indo no actual chavão – “deixa andar”: como será feito tal combate se tomarmos em conta que em muitos casos vemos os que ontem sentavam-se à mesa desse mesmo “deixa andar”, continuarem na vanguarda da esquadra que se espera venha dirigir essa batalha?
Enfim, são várias as penumbras inquietantes na proposta do Programa do Governo que apenas faço votos para que eu esteja equivocado, porque caso não, acredito que nada de novo traz o documento de 114 páginas.
PS: Creio que o novo Presidente da República pouparia muito dinheiro se ao invés de andar de um lado para outro a festejar e agradecer ter sido eleito, se limitasse a uma comunicação ao País inteiro através da comunicação social para manifestar os seus tantos agradecimentos. É que o dinheiro que está gastando na sua “tournée” pode um dia vir fazer falta na propalada luta contra pobreza.
MEDIA FAX – 23.03.2005