A Presidência da República da Guiné-Bissau repudiou sexta-feira as "afirmações politicamente irresponsáveis" feitas quarta-feira por um deputado da oposição, que denunciou a existência de uma alegada conspiração ao mais alto nível para eliminar algumas chefias militares.
Num comunicado enviado à Agência Lusa, a Presidência da República guineense chama a atenção dos deputados, governo, partidos políticos e sociedade civil para agirem no sentido de impedir que se faça desse "acto lamentável" o ponto de partida para uma escalada da tensão política interna.
"Se isso vier a acontecer, irá pôr em perigo os superiores interesses da Guiné-Bissau", indica a Presidência da República guineense, que se considera ainda "surpreendida" com as declarações "atentatórias da dignidade" do chefe de Estado interino, Henrique Rosa.
Quarta-feira, no Parlamento, Biaia Na Pana, deputado do Partido da Renovação Social (PRS, maior partido da oposição), afirmou ter "informações seguras" de que o presidente, Henrique Rosa, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, entre outras personalidades, estavam a preparar um atentado contra três altas patentes das Forças Armadas locais.
Segundo Na Pana, o alegado atentado visaria a eliminação física do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), general Tagmé Na Waie, o chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), capitão-de-mar-e-guerra Bubo Na Tchuto, e o comandante do Regimento de Pára-Comandos, tenente-coronel Aniceto Na Flak.
No comunicado, a Presidência da República apela aos deputados para observarem a "delicadeza do período de transição política ainda em curso" e para respeitarem procedimentos que não ponham em causa a cultura de responsabilidade e a ética política.
"O povo guineense não pode correr riscos de ver novamente comprometidos os seu presente e o seu futuro. Saber preservar a paz e a tranquilidade recentemente recuperadas é um objectivo que deve merecer o esforço continuado de todos", lê-se no documento.
Para a Presidência da República, cujo comunicado foi divulgado um dia após a reunião entre Henrique Rosa e o Comité Militar, em que foi reafirmada a confiança mútuas entre os dois órgãos, o caminho que falta percorrer "é difícil", os imprevistos "não faltam" e os acidentes de percurso "ainda são possíveis".
"Estamos perante uma intervenção que, de facto, não veio contribuir para fazer da presente transição um período de sucesso, com base na moderação política, no sentido do interesse nacional, bem como nos indispensáveis consensos entre os principais actores políticos", sublinha a Presidência da República guineense.
As declarações do deputado "renovador" também já foram repudiadas pelo primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, e pela própria força política que lidera, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder).
Por seu lado, o PRS, também em comunicado, refutou sexta-feira as críticas de "irresponsabilidade política" e de "instigação à violência" feitas por Carlos Gomes Júnior e pelo PAIGC em relação às declarações de Na Pana.
O Parlamento remeteu a questão para a Comissão Parlamentar de Defesa e Segurança, que terá de apresentar um relatório sobre a questão até à próxima terça-feira.
Um dia antes, a Procuradoria-Geral da República (PGR) vai ouvir o deputado "renovador" para esclarecer as afirmações feitas no Parlamento, que recusou o levantamento da imunidade parlamentar a Na Pana, disse hoje à Lusa o PGR guineense, Octávio Alves.
Entretanto, a conferência de imprensa prometida pelo Comité Militar para hoje no Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), destinada a esclarecer a posição deste órgão consultivo do presidente da República, foi adiada "sine die" sem que tivessem sido apresentadas aos jornalistas quaisquer razões.
13.03.2005