A Guiné-Bissau está de novo a atravessar um período de grande tensão, depois de um deputado do Partido da Renovação Social (PRS), Biaia Wak Na Pana, ter acusado o Presidente da República, Henrique Rosa, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o conselheiro deste para os Assuntos da Defesa e Segurança, Manuel Saturnino Costa, de quererem assassinar o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
O Presidente e o chefe da comissão militar que está a fiscalizar o período de transição para a restauração da ordem constitucional, general B"Tchofla Na Fafe, reuniram-se, na quinta-feira, a fim de garantirem ao país que políticos e militares desejam colaborar juntos para a manutenção da paz. Fafe garantiu a Rosa que as Forças Armadas não acreditam nas acusações, feitas quarta-feira na Assembleia Nacional, de que as chefias do Estado e do Governo estariam na disposição de eliminar o general Tagmé Na Waie e outros dois oficiais.
O chefe da comissão militar de transição disse aos jornalistas que os militares não querem ser utilizados para fins eleitorais, numa altura em que se aguarda a confirmação de presidenciais para Junho ou Julho.
Carlos Gomes Júnior, que é líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), considerou a acusação feita pelo deputado do PRS "irresponsável e chocante", tendo pedido à Assembleia para suspender a imunidade de Biaia Pana, de modo a que possa ser processado por difamação.
As outras figuras a abater, segundo esta teoria da conjura, seriam Aniceto Na Flak, comandante do Regimento dos Pára-Comandos, e José Américo Bubo NaTchutu, chefe do Estado-Maior da Armada, tidos como cúmplices da intentona em que em Outubro de 2004 foi morto o então Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, general Veríssimo Correia Seabra, que em Setembro de 2003 derrubara o Presidente Kumba Ialá.
Uma grande agitação
Nos últimos sete anos a Guiné-Bissau tem vivido em grande agitação, desde que uma Junta constituída pelos militares Ansumane Mané e Correia Seabra pegou em armas contra o então chefe de Estado, João Bernardo Vieira. Mané e Seabra morreriam mais tarde em condições violentas; e os rumores de intentona continuam a ser uma constante no quotidiano guineense.
O porta-voz do PRS, Joaquim Baptista Correia, disse em conferência de imprensa que o deputado Biaia Pana "é livre de fazer as suas declaraçõe", e que o PAIGC é "o principal responsável pelo atraso do país e os diferentes crimes cometidos".
Correia afirmou ainda que o primeiro-ministro deverá esclarecer por que é que a viatura de seu filho foi interceptada e se encontra actualmente retida no parque de estacionamento do Estado-Maior.
Jorge Heitor - PÚBLICO - 13.03.2005