Por Milton Machel
Quem são as mais poderosas mulheres em Moçambique? Já alguma vez se fez esta pergunta? Se não, nós damos aqui algumas dicas. Terça-feira, 8 de Março, assinalou-se mais um Dia Internacional da Mulher. Numa era em que o “empowerment” ou empoderamento da mulher é bastante destacado, sobretudo com o Governo de Guebuza a bater todos os recordes com inéditas sete ministras, cinco vice-ministras e duas governadoras provinciais, o SAVANA presta a sua homenagem à mulher fazendo aqui uma selecta – claro que subjectiva e discutível – de dez mulheres poderosas, quando não representativas. Esta lista não segue nenhuma ordem hierárquica, ficando para o leitor problematizá-la a seu prazer.
Lurdes Mutola. É o símbolo maior do orgulho moçambicano no Mundo desportivo e não só. Dominadora absoluta do meio-fundo nos últimos dez anos no atletismo de alto nível, porém com infortúnios em provas cruciais como a final dos 800 metros dos últimos Jogos Olímpicos, Maria de Lurdes Mutola está na história como a maior atleta e mesmo o maior desportista moçambicano pós-Independência. Um dia craque da bola mas impedida de continuar a jogar com e contra rapazes, ela é o “Eusébio” nas pistas mundiais que o nosso futebol não conseguiu produzir no pós-1975. Só os seus feitos bastam para que as participações moçambicanas nos Jogos Olímpicos e Mundiais de Atletismo tenham um (mascarado) balanço positivo e nos planos quinquenais se enalteçam as suas conquistas como se do Governo se tratassem. Avé Maria, cheia de ouro, ganhai por nós cabisbaixos…
Graça Machel. O capital político-mediático de Graça Simbine Machel é evidente e não só resulta do facto de ser viúva do Marechal Samora Machel e actual esposa do carismático Nelson “Madiba” Mandela. O trabalho da ex-ministra da Educação e Cultura na defesa dos direitos das crianças já foi internacionalmente reconhecido. O seu prestígio na arena internacional, e mesmo nos corredores da ONU, é por demais reconhecido. Vista por alguns círculos como senhora da alta elite, é, porém, inegável o trabalho da sua Fundação para o Desenvolvimento da Sociedade (FDC) em causas e realizações sociais, logrando ser extensão ou sucedâneo do trabalho do Governo. É uma líder por excelência. Será que um dia se candidata a Presidente da República? Será que tem capital o suficiente no povo e aceitação na “nomenklatura” dos camaradas para tal?
Marcelina Chissano. O poder da ex-Primeira Dama é daqueles assustadores. Porquê? Só nos bastidores e em voz baixa é que se fala das suas supostas propriedades, da sua mão forte nos negócios do clã Chissano, mas não há nada tangível, pelo que pode cair no domínio da especulação tentar mensurar a sua presumível riqueza. Mas é por aí que a Marcelina se pode medir a sua esfera de influência, ao criar à sua volta uma aura de temível. Como será agora que Chissano deixou a Presidência da República e dos camaradas?
Maria José Moreno. A chefe da bancada da RENAMO-União Eleitoral na Assembleia da República aparece na mesma linha de mulheres de reconhecido mérito e influência localmente e que assumem um crescendo a nível nacional, tal qual a ex-deputada da perdiz na Zambézia Linette Oloffson. O pai dela é conhecido como “o dono de Cuamba”.
Joana Mangueira. Outrora directora executiva do Gabinete da Primeira Dama (reconheça-se-lhe muitos dos feitos sócio-económicos deste organismo), hoje ela tem ainda mais poder no campo social. Directora Executiva do Conselho Nacional de Combate à SIDA, só pelo (desejado) alcance social dos programas, pela dimensão do orçamento e dos projectos que gere assume um poder “a priori”, que bem pode “a posteriori” ganhar mais proeminência caso a estratégia de combate à pandemia tenha resultados positivos a médio prazo.
Luísa Diogo. A Primeira-Ministra tem efectivamente um poder mais reduzido do que aquele que detinha quando acumulava com a super-pasta do Plano e Finanças. Já não é a senhora da mola, aquela que convence Bretton Woods a dar-nos mais, mas o papel de coordenadora do Conselho de Ministros não lhe retira a categoria de peso-pesado nas decisões do Chefe (Guebuza). E, sendo a especialista que é, não lhe faltará poder de escrutínio às contas dos seus colegas das áreas económicas.
Alcinda Abreu. Por inerência do cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros, esta senhora do “politburo” ganha só por aí poder. Resumido: é a chefe da diplomacia moçambicana.
Esperança Machavela. É outra que ganha poder pela inerência do posto que assume, de ministra da Justiça. Tanto poderá ser poderosa como frágil, perante o crime organizado e inflitrado em alguns sectores de administração da justiça. Praticamente rouba protagonismo a Isabel Rupia, a temerária e quixotesca chefe da Unidade Anti-Corrupção.
Celina Cossa. Líder da União Geral das Cooperativas (UGC), assume-se na mulher-símbolo das camponesas, mukheristas, mamanas dos mercados, enfim daquelas mulheres que, no anonimato, produzem e comercializam aquilo que faz as nossas refeições de cada dia, os frangos, os legumes, as hortaliças.
Alice Mabota. Para uns defensora de causas perdidas, ela é a mulher-símbolo do contra-poder. Quem visita as delegações da Liga dos Direitos Humanos (LDH) de Moçambique apercebe-se da verdadeira dimensão do trabalho de Mabota, ali vai o povo oprimido, desgraçado, indefeso, sem dinheiro para pagar os advogados que querem mola. Com uma equipa de assistentes jurídicos como “pronto-socorro” e “SOS” dos desfavorecidos. A mulher que nunca se cala pode estar a perder fôlego para tantas gritarias aos microfones e perante os flashes dos media. É a “senhora das tempestades”
SAVANA - 11.03.2005