DESMANTELAMENTO DA SUA SEGURANÇA
Depois de um silêncio, a tentar gerir o desfecho das últimas eleições gerais que colocou Armando Guebuza e a sua Frelimo à frente da gestão da coisa pública, durante os próximos cinco anos, Afonso Dhlakama, líder da “perdiz” reapareceu para discutir os “caminhos do futuro” tendo em conta as escolhas do presente. Avança o líder da Oposição moçambicana que «esses autênticos heróis» estão «vetados ao mais ignóbil dos abandonos» e vezes sem conta «alvo das mais cobardes sevícias e torturas psicológicas». «A nossa história, como a de todas as grandes Nações, é composta por várias fases, distintos momentos, cujo somatório, representa aquilo que somos, indica os caminhos que pretendemos seguir, ensina-nos que só quem tem e respeita o seu passado poderá ser respeitado e encontrar os melhores caminhos para um futuro próspero condizente com a força, brio e determinação do seu povo», sustenta. Na referida carta, Dhlakama sugere que a solução do badalado casoM dos “homens armados” da Renamo - que a “perdiz” defende ser segurança dos seus quadros, prevista nos Acordos Gerais de Paz, que puseram fim ao conflito armado em Moçambique – passa pelo diálogo e de nada «serve tratar este tipo de questões, de grande relevância para o Estado, de forma precipitada em praça pública» porque «é necessário um ambiente de confiança institucional e diálogo para que o interesse nacional seja sempre posto acima de tudo por todas as partes sem excepção». «É neste espírito dialogante, essencial para que se registem avanços significativos em todas as matérias, sobretudo nas mais sensíveis, que vimos abordar diante de todos os cidadãos moçambicanos a questão da segurança e dos desmobilizados da Renamo», apelou. Aliás, argumenta, há mais de 13 anos(desde assinatura dos AGP, em 1992) que sempre primaram pelo diálogo responsável, e que ninguém ousou apontar a «prática de desacato ou outros actos que fizessem perigar a segurança e a ordem pública». As poucas acusações de que se lembra, adianta, surgem em momentos pré-eleitorais «partiram sempre, também por coincidência, dos mesmos órgãos de comunicação social e foram rapidamente desmentidas quer pela população dessas áreas, quer por religiosos acima de qualquer suspeita e merecedoras do maior respeito e consideração pela postura e obra social desenvolvida junto das populações». Na agenda do novo governo, liderado por Armando Guebuza é avançado, com insistência, o “desmantelamento dos homens armados da Renamo”, um assunto que parece mais importante - na cabeça de José Pacheco, novo ministro do Interior - que o combate à criminalidade. Orgulho para Dhlakama Na opinião do presidente da Renamo, o comportamento dos elementos de segurança dos quadros do seu partido «orgulha-nos sobremaneira e tem sido, também, factor essencial na estabilidade nacional». Relembra a forma como os guerrilheiros que estiveram vários anos sob seu comando cumpriram com as ordens de calar com as armas, em alusão à dúvida que pairava sobre se Dhlakama estaria em condições de controlar os seus homens (que ocupavam vastas áreas do território nacional) logo depois do AGP. «No preciso dia que em Roma assinávamos tal memorável documento, calavam-se para sempre as armas em Moçambique», recordou. As violações do AGP, apontou, partiram do Governo, citando casos da criação da PIR – Polícia de Intervenção Rápida – agora conhecida por FIR, uma força paramilitar que surgiu à margem do referido acordo e cujos integrantes, numa primeira fase, foram, na totalidade, elementos vindos das extintas FAM/FPLM. A terminar a sua longa carta, Dhlakama reiterou o respeito pelas instituições moçambicanas e a sua desponibilidade de colaborar para a busca «das respostas que Moçambique precisa».
Da Redacção – IMPARCIAL – 14.03.2005