APESAR DE RENOVADOS DESMENTIDOS PÚBLICOS DA INSTITUIÇÃO
O actual PCA do grupo BIM, o moçambicano Mário da Graça Machungo, e restantes membros da Administração deverão sair; FNB compra quota do BCP (Cm 2024) e estuda comprar quota dos trabalhadores, prevê negociar rescisões, alterar sistemas, possível alteração de nome. Quadros portugueses retiram-se. Quota do BIM no NovoBanco já foi negociada com os restantes accionistas. Autoridades monetárias e Governo acompanham o processo e deverão autorizar a operação; negócio a ser fechado em breve. Administração do BIM continua a negar publicamente a existência de quaisquer contactos com o banco sul-africano. Lucros de 2004 que BIM qualifica de “recorde” são anunciados hoje.
Fontes conhecedoras do processo informaram que o gestor português do BCP, António de Castro Henriques, que esteve em Maputo no início de Fevereiro, deslocou-se a Joanesburgo para encontros com executivos do First National Bank com vista a fechar os detalhes da alienação àquela instituição bancária sul-africana do maior banco moçambicano.
Segundo as mesmas fontes, a referida venda já estará definida nos principais pontos, faltando assinar o acordo final a apresentar formalmente às autoridades moçambicanas.
Em princípio, ainda segundo as mesmas fontes, toda a administração do BIM será substituída por uma equipa sul-africana.
A concretizar-se, a compra do FNB envolverá cerca de 67% do capital social BIM, estando o remanescente capital distribuído por várias entidades, incluindo uma quota do capital reservada aos colaboradores do antigo Banco Comercial de Moçambique, que foi alvo de fusão com o BIM original em 2001.
Estava previsto que essa percentagem do capital, à semelhança do que recentemente sucedeu no Banco Austral, passasse para a posse dos referidos colaboradores e ex-colaboradores do BCM (Cm 2028, pág 2).
No entanto, o processo, previsto para estar concretizado há anos, tem-se defrontado com dificuldades e ainda não foi concretizado.
O FNB poderá estar interessado em adquirir essas acções, o que traz uma nova perspectiva e urgência ao processo, já que não está previsto ainda um mecanismo para que tal se concretize num curto prazo, estando as mesmas na posse do Estado moçambicano através dos organismos apropriados. Ou seja, não se conhece como decorreria o processo decisório ou se os referidos colaboradores e ex-colaboradores do extinto BCM receberiam acções ou dinheiro.
Redução de efectivos
A entrada do FNB no BIM deverá ainda ser acompanhada por uma redução no número de efectivos, da retirada dos quadros lusos do BCP, da entrada de quadros sul-africanos do FNB e ainda da substituição dos sistemas informáticos.
Entretanto, é já dada como adquirida a venda da quota do capital que o BIM detém no NovoBanco, prosseguindo o processo de autonomização daquele banco agora sob a égide dos accionistas remanescentes, entidades internacionais especializadas em microcrédito. Os responsáveis do BIM não se pronunciaram publicamente sobre este processo, tal como sucedeu no caso do BIM.
Conforme estabelecido na lei, as autoridades moçambicanas estarão discretamente a acompanhar o processo e darão um parecer se e quando lhes for apresentada uma proposta firme. Não se antecipam entraves de maior.
Apesar da administração do BIM continuar a negar publicamente a mera existência de contactos para a alienação da quota do capital do BCP no BIM, tal já é moeda corrente nos corredores da instituição há várias semanas.
António de Castro Henriques, que é citado num artigo não assinado – e com muito curiosa redacção – que foi publicado no Notícias de 6 de Fevereiro, onde refere que o BCP tencionava manter-se como accionista “de referência e maioritário” do BIM, seguiu para Joanesburgo para os referidos contactos. Desconhece-se de momento quanto é que o FNB vai pagar ao BCP pela venda do Grupo BIM.
De Lisboa a Pretória (Tshwane)
Conforme foi oportunamente reportado, a eventual entrada do FNB no capital do BIM implica que, em escassos dois anos, a banca moçambicana passou de controversamente detida na quase totalidade por capitais lusos, para passar a gravitar na esfera do sistema financeiro sul-africano, já que mais que setenta por cento da banca moçambicana passam a ser controlados por três dos quatro maiores grupos financeiros do país de Madiba, o Nelson Rolhilhalha.
Estas aquisições inserem-se numa estratégia de conquista de quota de mercado africano pelas grandes empresas da África do Sul, que consideram serem as boas oportunidades de lucro e onde consideram possuir uma vantagem competitiva face a terceiros.
Os bancos portugueses, a braços com uma esperada onda de fusões a nível europeu e forçados a “arrumar a casa”, procuram desenvencilhar-se daquilo a que um outro gestor do BCP, Cristopher Beck, classificou em Janeiro como “activos noncore” – em que incluía, como referiu, o Grupo BIM.
(Redacção) – CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 11.03.2005