* por Fernando Manuel
Citando fontes bem informadas:Na semana passada, houve em Maputo uma reunião convocada a propósito.
Foi no ginásio da Escola Secundária Josina Machel. O ginásio da Josina tem um tamanho descomunal. Maior que o seu bojo, só o do Estádio da Machava quando o Samora ia botar a boca no trombone para falar dos problemas do povo a quem amava, que o odiava enfim mas acabou amando depois do seu desaparecimento físico e das diarreices em que andamos.
Ou do Estádio da Machava, o mesmo, com o Eric Clapton em 1987.
A reunião da semana passada na Josina era por entre o ministro da educação e cultura e os funcionários do dito ministério.
Pois bem:
Um funcionário do Estado é um funcionário do Estado: O Estado não pode, nunca se poderá confundir com o governo. Ou com os partidos. Ou com a vencedora do Top Feminino. Quando as pessoas não conseguem fazer essas distinções, acontece o facto de se ter ministros nomeados, em funções, a viver em hotéis. Porque o ministro anterior não quer sair da casa onde vivia quando era ministro:
O Palácio da Ponta Vermelha não era do Samora. Não era certamente do Chissano. Tampouco virá a ser do Guebuza. É a casa, o escritório, a mancebaria do Presidente da República, enquanto ele fôr Presidente da República. Nem é preciso irmos ao número 10 da Downing Street.
Pois bem: na tal de reunião do ginásio da Josina, semana passada, a primeira - ou uma das primeiras - oradoras – foi a Graça Machel. E eis pois que ela, a Graça Machel, obrigou os funcionários do ministério da educação e cultura a cantar o Hino Nacional. Vá lá. Depois obrigou-os a gritar “viva a Frelimo”.
Viva a Frelimo a propósito de quê?
Porque é que o director de uma escola vai ser suposto, implicitamente, membro do partido no poder? e um director provincial? e um escrivão? e um vice ministro, para já não falar do próprio ministro ou do Namburete ?
E, como se bastar não fosse, obrigou os funcionários da educação e cultura a repetir o Hino Nacional, numa de que tinham cantado mal. Ora essa: eu já vi o Hino Nacional a ser cantado pelos deputados da Assembleia da República várias vezes. Donde sempre concluí: os deputados da Assembleia da República não sabem cantar o Hino Nacional. Ainda se fosse cantar, era como ao outro: é que nem sequer sabem trautear.
Não sabem nada.
Ora, se um deputado não sabe cantar o Hino Nacional, imagina agora eu!
E depois perguntou se sabiam com que idade ela tinha sido nomeada ministra. Bom mesmo era a gente perguntar isso ao Gideon Ndobe.
Depois o próprio ministro perorou horas inteiras sobre educação: porque educação isto, e mais aquilo, e mais bló, blá, pâtati e tó.
E nada se disse sobre cultura.
Considerando que o pelouro se chama - e não fui eu que tal disse, visto que nem fui consultado - posto que se chama da educação e cultura, porque é que se vai compreender que se tenham gasto 7 horas a falar só sobre a educação e não sobre a cultura ?
Resposta do Covane a esta pergunta pertinente: “V. Exas. Nem sequer imaginam o que é cultura!”.
MEDIA FAX – 08.03.2005