- Uma Presença Silenciosa versus os “Brancos” em Moçambique: uma Presença Ruidosa… (1/2)
INTRODUÇÃO
O tema de hoje, é motivado pelo “retorno” a Moçambique, dos tempos “áureos” do colonialismo português, anos 1950/60 e dos “decadentes” anos 1970. Esses tempos parecem ressurgirem, no País, tal é a falta de respeito no mínimo, pela Independência
que custou Sangue, Suor e Lágrimas à imensa maioria de “negros” (sobretudo) e dos “mestiços/mulatos e brancos” de ambos os lados, não nos esquecendo dos sino (chineses) e indo (indianos) Moçambicanos.
Até já se utiliza “Galinha à Cafreal” termo proibido ainda na era colonial pelo governo português, graças à intervenção do Jornalista/Poeta José Craveirinha, no jornal Notícias (anos 1960), por pejorativo e atentatória à dignidade do “negro” por se referir a ele como selvagem…isto é “Galinha à Selvagem”. Passaria para GALINHA À PIRI-PIRI.
DESENVOLVIMENTO
De facto, parece estar-se a reviver uns tempos “crispados” de antagonismos ruidosos e outros silenciosos em que a liberdade de expressão se confunde com “ismos” que se pensavam enterrados da História recente. Eis que de novo, “demónios ou xipócues”,
se tentam implantar quer em Moçambique, quer em Portugal, trocando as cores desses “ismos” até da Escravatura em África, legado colonial europeu a uma escala gigantesca, iniciada por Portugal e ANTÃO GONÇALVES, no Rio do Ouro (1441), na captura de 10 (ditos) negros africanos transformados em escravos e vendidos em Lisboa.
No 2º Vol. História Universal 1994, adaptação feita pelo emérito Historiador português, Prof. Doutor Jorge Borges de Macedo (falecido), refere-se a Antão Gonçalves e seu grupo … “Esse ano de 1441 é mais um marco trágico nos laços entre Europeus e Africanos”… Os Árabes iniciaram e os Europeus massificaram a uma dimensão Mundial nunca vista na Humanidade e com os maiores requintes de desumanidade.
Lagos (Algarve) mais tarde, seria o centro principal desse Tráfico na Europa.
Todavia, surgem certas vozes querendo minimizar o HOLOCAUSTO NEGRO (20 a 60 milhões de seres humanos perdidos por África) cuja maioria na fase avançada nem
teriam sido vendidos por intermediários africanos, chefes, reis ou sobas, aos europeus. Eles próprios mais tarde cativos (os sobas). Sem desculpabilizar a conivência dita negro – africana há que ter em conta o fomento pelos “brancos” europeus, de guerras étnicas para a venda/compra/venda dos prisioneiros. SEM PROCURA NÃO HAVERIA OFERTA. Somente pelo Arquipélago de Cabo Verde – capital ilha de Santiago – Ribeira Grande, durante séculos – sec. XVI / XIX, teriam circulado cerca de 4 milhões de Wolofes, Mandingas, Felupes, Fulas, Papeis, Djalôs, Balantas, Biafadas (grumetes), Manjacos, para as Américas – Caraíbas, Brasil, Guianas e Antilhas e a Holandesa – “Curaçao”, cujo idioma actual o “creole PAPIAMENTU (PP)” é testemunho dessa época. O PP é originário do crioulo de Cabo Verde (badio). Esses escravos foram capturados pelos portugueses e vendidos para as Américas, aos Espanhóis, Ingleses,
Franceses, Holandeses, pela ROTA DA ESCRAVATURA, conhecida historicamente por “Atlantic Slave Trade do Black Cargo”. A desarborização para combustível, habitação e manutenção das caravelas causaria desertificação em Cabo Verde e é uma acusação silenciosa ao Tráfico de Escravos e à mestiçagem forçada oficializada.
CONCLUSÃO
A serem JUDEUS, os ditos negros, e muito mais claros de pele, olhos azuis ou verdes, o destaque seria outro e com Indemnizações e sem tentativas de minimizar essa tragédia a exemplo do recente Holocausto Judeu, apesar de ter havido também, alguns Judeus
“coniventes” com os nazis alemães e fascistas italianos e franceses. A Alemanha Federal pós 2ª Guerra Mundial que nada tinha a ver com o nazismo e o Holocausto,
pagou chorudas indemnizações a Israel que nem existia na altura como um Estado Independente. Mas com coragem assumiu esse passado Histórico tenebroso.
África, sofreu uma “sangria” eterna e tentar atenuar a culpabilidade Histórica da Europa e Américas é tendencioso. Esse legado trágico ainda afecta as mentalidades de certos ditos brancos europeus na assumpção de uma superioridade em que se posicionam e em certos negros africanos nos complexos em se que auto-submetem pois foi-lhes negado um passado Histórico que não os remeta para uma dominação
colonial europeia “branca”. E nunca como agora em Portugal, a corrente de mentalidade colonial emergiu com tanta força, mantendo em Presença Silenciosa o
“negro” com nacionalidade portuguesa, estimados em cerca de 1 milhão – 10% da população ou mais (dados não oficiais), continuando sem visibilidade. (Continua)
– Escravatura em Moçambique – caTembe (William Bolts), Inhambane, os Prazos do Zambeze e “Quilimani”.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 08.03.2005