- Uma Presença Silenciosa versus os “Brancos” em Moçambique: uma Presença Ruidosa… (2/2)
DIALOGANDO por João Craveirinha Apontamentos sobre a Escravatura em Moçambique – caTembe, Inhambane e “Quilimane” Em relação a Moçambique a Escravatura não foi bem aceite na região de caMpfumo e Maputsu (o verdadeiro dos Tembes). Uma das provas é o insucesso do projecto (1777) do pirata William Bolts de origem alemã nascido na Holanda empregado em firma inglesa em Lisboa (1755) e mais tarde (1776), ao serviço do Príncipe Wengel Anton von Kaunitz-Rietburg da Áustria – Viena. Reinava a Imperatriz Maria Teresa por morte de seu pai o Imperador Carlos VI dos Habsburgos em 1740. A Áustria apesar de possuir extenso domínio – Boémia, Hungria, Itália, Holanda e zonas do rio Danúbio era um Império desorganizado. Na actual Baía de Maputo, nessa época, reinavam os Mpfumos na actual Matola e os Tembes com os quais os Europeus prestavam vassalagem e pediam autorização para se abastecerem de água, caça, etc. Escravatura estava fora de questão. Contraditoriamente, o projecto austríaco consistia em “criação” de negros e negras em KRAALS – currais na caTembe como “frangos em aviário”para venda a outros Europeus. A falta de colaboração fez William Bolts tentar se “abastecer” em Inhambane na região dos Gógóne vulgo bitongas e trazê-los para a região da caTembe. Mas em vão. De salientar as constantes revoltas e ataques dos rongas Tembes e Mpfumos contra os navios negreiros que entravam na Baía. Não era invulgar serem incendiados navios ingleses, holandeses, portugueses e outros quando não respeitassem as autoridades africanas locais e com o adequado “imposto” e “saguate” a ser cobrado. DESENVOLVIMENTO Vindo da África do Sul, em 1821, fugido de Tchaca Zulo, Sochangana conhecido por maNicusse (Nkossi - rei) e seu grupo invadem Moçambique pelo Maputsu, avançando até ao rio Zambeze / Tete / Manica (1835 / 1839), onde é “travado” pelo clã “mulato chinês / caneco” do Inhaúde pai do Bonga. Fixa-se no Búzi – Sofala e em 1840 dos 46 Prazos do vale do rio Zambeze, 28 a sul, pagavam “imposto” a Sochangana, avô do Gungunhana. Sochangana (de origem Tembe) de regresso a sul do rio Save ao saber que um chefe maRonga de uma povoação na Matola, “negociara” com os portugueses a venda de alguns súbditos, arrasa a povoação para que servisse de exemplo. Remédio santo. Nunca mais na região houve escravos à venda no século XIX. O Historiador Luís Covane em 14 de Março de 2003 no Instituto Camões (Maputo) na re – apresentação do livro…“Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos!” (http://www.macua.org/livros/feiticos.html), diria: - …”É muito interessante a citação extraída de uma publicação colonial referente à posição de Manicusse (Sochangana) em relação ao comércio dos escravos: “Aquele que vende seu semelhante merece com justiça ser perseguido e caçado mais do que os leopardos e leões...”. Esta declaração do 1º Imperador de Gaza ajuda a esclarecer a natureza dos poderes africanos antes da conquista colonial (…) Ficamos a saber que nem todos os aristocratas africanos viam no comércio de escravos uma forma importante de acumulação de riqueza e de reforço do seu poder e prestígio. (…) Eram os europeus que instigavam as guerras intra e inter estados, reinos e chefaturas como forma de produção de escravos.”… CONCLUSÃO Segundo o Visconde da Arriaga, em Moçambique, no vale do Zambeze…”A escravatura tornou-se um delirio durante os primeiros quarenta annos d’este seculo (sec.XIX, 1800-1840), e quanto mais se desenvolvia a America, tanto mais se despovoava e empobrecia a Africa! Chegaram a navegar annualmente para o porto de Moçambique (ilha) e Quilimane á procura de pretos mais de quarenta navios de differentes nações! Em 1820, os habitantes de Quilimane, que pela sua riqueza se consideravam a povoação mais importante e aristocratica da provincia, proclamaram-se independentes desligando-se do governo da capital e unindo-se ao Rio de Janeiro”(…) Presidindo em Moçambique, como juiz de direito á venda em leilão de 52 pretos pertencentes á herança d’um Baneane, natural da India, causou-me horror e vergonha, quando procedendo-se em separado á d’uma preta, engommadeira, que trazia pela mão um filho de 8 annos, e outro ao colo a vi chorar lágrimas de sangue por este desprezo dos sentimentos da natureza”(...) Os cem prazos da corôa, que abrangem um territorio muito maior que a península iberica (…) estão quasi todos abandonados, por que os seus habitantes foram vendidos para a America, e os senhores depois d’esta vergonhosa venda e ricos, seguiram quasi todos o mesmo caminho, vindo alguns para a Europa”(…) O Praso Luabo, que foi dos jesuitas, e que durante muitos annos forneceu mantimentos de arroz, milho, mandioca, feijão e ervilha para os navios de escravos, que aportavam a Quilimane, está hoje despovoado, por que os colonos (negros) também foram vendidos”… (FIM) Nota: Ortografia no original publicado em 1881 – Lisboa. O AUTARCA - 09.03.2005 Ver a 1ª parte em: http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2005/03/os_negros_em_po.html