Um estudo apresentado ontem em Lisboa revela que mais de 60 por cento dos portugueses consideram os imigrantes "fundamentais" para a vida económica do País. Números que traduzem "um acréscimo muito significativo" na percentagem de portugueses que reconhecem este valor à população imigrante, diz o documento.
O estudo "Os Imigrantes e a População Portuguesa", realizado entre 2002 e 2004 sob a coordenação do professor universitário Mário Lages, revela ainda que quatro em cada cinco inquiridos assumem que "os imigrantes fazem o trabalho que os portugueses não querem". Os imigrantes de leste são considerados "os que mais trabalham", mas 70 por cento das respostas admitem que estes têm qualificações a mais para os trabalhos que desempenham. Na mesma lógica, os portugueses admitem que os imigrantes recebem menos para fazer os mesmos trabalhos que eles.
PREFERÊNCIA POR BRASILEIROS
Ao nível dos preconceitos, 85 por cento dos portugueses assumem ter "uma preferência por brasileiros", desvalorizando "os imigrantes de leste e os africanos". Os brasileiros são, contudo, os mais associados à prostituição, enquanto os africanos são conotados com o tráfico de droga e a população de leste com o crime organizado. A repatriação é a solução mais defendida para os imigrantes legais envolvidos na criminalidade.
Apesar de a maior parte dos inquiridos ter revelado "atitudes de aceitação dos estrangeiros", um em cinco afirmaram "abertamente" que não aceitariam ser vizinhos de imigrantes, enquanto um em três admitia que se sentiria "de alguma forma incomodado" se um dos seus familiares de casasse com um imigrante de leste, brasileiro ou africano.
ENSINO DA LÍNGUA-MATERNA
Este estudo foi apresentado na sessão de ontem do seminário "Observação da Imigração", promovido pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
No mesmo seminário, divulgado ontem outro trabalho intitulado "Filhos de Imigrantes: monitorização do seu acesso a sociedade de conhecimento", onde se defende que as escolas portuguesas deviam promover a aprendizagem da língua materna dos alunos imigrantes, de forma a facilitar o seu processo de integração. "Programas de empregabilidade, como os que já existem associados a alguns cursos de formação profissional" são outra das propostas.
ENTRADAS A DIMINUIR
Estes indicadores surgem numa altura em que dados provisórios relativos a 2003 revelam que a entrada de imigrantes em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) está a estabilizar e, em países como Portugal, até a diminuir.
Em Portugal entraram 13,8 mil imigrantes em 2002, contra 14,2 mil em 2001 e 15,9 mil no ano 2000.0 processo de regularização que o Governo português promoveu em 2001 é a razão apontada. De uma forma geral, os fluxos migratórios são atribuídos "às mudanças políticas e de condições económicas", podendo este ciclo inverter-se.
Diário de Notícias - 23.03.2005