Já “encaixotado” a caminho da reforma, acusado de ser o percursor do deixa andar, pelos seus Pouco antes das eleições gerais, que serviram do véu para a já propalada reforma na direcção do Estado moçambicano e no partido Frelimo, Chissano havia nos brindado com uma versão semelhante: a vitória da Frelimo é um imperativo nacional. Na altura tivemos dificuldades de entender o alcance que dava ao termo “imperativo nacional”, mas o tempo ajudou-nos a perceber. Os que, aparentemente, perceberam com relativa facilidade foram os órgãos eleitorais, que acabaram sendo os actores principais do processo eleitoral, superando de longe os políticos em termos de protagonismo.Embalados com o discurso de “imperativo nacional”, agora com nova versão – responsabilidade histórica de dirigir o país – os órgãos eleitorais acabaram mobilizando os mortos para votar num candidato, o da Frelimo, claro.
Devido ao “imperativo nacional”, só se consegue apresentar o todo, ignorando-se as parcelas, cuja soma deviam dar o total.
Devido ao “imperativo nacional”, milhares de eleitores foram impedidos de votar, em todo o país, alegando-se dificuldades várias.
O “imperativo nacional” impediu que mais de 600 editais, correspondentes a aproximadamente 600 mil eleitores, fossem processados na centralização dos resultados.
Os computadores, sobretudo ao nível central, é que ficaram saturados com o discurso do “imperativo nacional”, ao ponto de não reconhecerem muitos editais, no acto de informatização dos dados, devido à sua origem duvidosa.
Terminado o processo, com sucesso a 100 por cento da “maçaroca e tambor”, facilitado com a ingenuidade da “perdiz” que recorreu ao Conselho Constitucional fora de tempo, o reformado presidente reaparece com discurso de “imperativo nacional” já reciclado.
A nova versão até dá piada. Porque não dizer que a Frelimo tem a responsabilidade histórica de destruir o país? A resposta pode ser encontrada nos mais de trinta anos de governação da “maçaroca e tambor”. É uma questão de ângulo de vista. Aliás, até sobrevivemos de tomate, cebola, repolho, carapau, etc., importados, mas temos a terra fértil e uma costa marítima, numa extensão de milhares de quilómetros.
JAQUES FELISBERTO – IMPARCIAL – 10.03.2005