João Craveirinha
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EXÓRDIO
Após a tomada de Posse do Novo Executivo, fez-se de novo um total black-out (silêncio) oficial sobre este facínora, condenado em Moçambique como o executor – mor do assassínio do jornalista Carlos Cardoso em 2000 e fugitivo por duas vezes da cadeia de máxima segurança (para os outros) –, a última das quais culminando com uma espectacular fuga para o Canadá. É um dos países no Mundo com uma política
benevolente a quem invoque o estatuto de exilado ou perseguido político por razões de violações dos Direitos Humanos ao abrigo do JUS GENTIUM – Direito Internacional do Indivíduo. Quando tudo indicava que o Canadá reexaminaria o seu pedido, face à reabertura do processo no País de origem, eis que o próprio prefere regressar. (JUS GENTIUM: latim - Direito Romano das Gentes vulgo DIREITO INTERNACIONAL DAS PESSOAS).
PROFUNDIDADE
Importa questionar que SEGREDO transporta consigo Anibalzinho que tenha sido providenciada a sua fuga da prisão e à posteriori opte pelo regresso. Que SEGREDO ou Pacto diabólico existe?
A resposta talvez possa estar não só no “segredo” do conhecimento do nome ou dos nomes dos mandantes do crime. Anibalzinho poderia ter sido abatido numa encenada fuga e silenciado definitivamente. Mas não aconteceu porquê? Não é só no cinema que vemos isso. O que terá impedido? Deverá haver algo mais forte por detrás – A SUPERSTIÇÃO!? Os “tigódos ou mutovanas” (amuletos) e vacinas “benzidas” com sangue de gente, de preferência crianças virgens, depois de rituais canibais diabólicos em que se “devora cru” o coração ou miolos cerebrais das vítimas raptadas!? Para além de todas as alienações europeias maiores ou menores de amiúde o verniz estala e a psicose colectiva da crença na MAGIA dos ESPÍRITOS –, a das trevas, vem ao de cima. Nesse momento não há conceitos Democráticos ou de Direitos Humanos e mesmo de Lusofonias que sobrevivam! Entra-se no campo da etno-psicologia e em alguns casos no da etno-psiquiatria quando se atinge o paroxismo, o auge da interiorização (delírio) de se “sentir” estar possuído por algum djin – espírito a mando de alguém que protege e castiga e dá POWER – Poder, imunidade e infunde MEDO aos demais. E o mais grave é que para além dos Mercedes Benzes e BMW’s, casas alcatifadas com ar condicionado e aparelhagens sofisticadas, computadores e Internetes, golden cards bancários, a condição humana retrocede a um passado ancestral africano em que a religião era a ancestrolatria – invocação, chamamento dos espíritos dos antepassados falecidos para auxílio, sobretudo o dos guerreiros. Actualmente um africano ou africanizado poderá entender melhor sem raciocínios de metafísicas ou materialismos dialécticos ao contrário do europeu de mentalidade que tentará entender o que não se pode compreender racionalmente. No entanto, não é exclusividade africana.
Na peça das 3 bruxas de Macbeth (1606 / 1607), o Poeta Inglês, William Shakespeare (1564 – 1616), aborda com mestria essa relação Poder Político e Feitiçaria. Riqueza e Domínio perverso, corrupto.
Portanto não sendo somente de África, esse fascínio pelo oculto e diabólico. Na Europa medieval era corrente a prática de feitiçaria característica da RAÇA HUMANA com requintes de desumano.
Este dado adquirido, da espiritualidade sem questionar, por um lado, é a base da enorme força da Cultura Africana e contraditoriamente, o seu ponto fraco.
Uma dicotomia. Não será por acaso que em diversas Universidades de prestígio do mundo, os seus departamentos de Psicologia Aplicada e Experimental (Division of Applied Science), estudam e observam com particular atenção estes fenómenos da possessão de espíritos cada vez mais na “MODA”. Em Moçambique ultrapassa igualmente qualquer humanismo “ racional” ou Descartiano.
DEDUÇÃO
JUS EST ARS BONI ET AEQUI – Esperemos que o Direito em Moçambique seja a Arte do Bem e do Justo e não seja – Jure de Facto – posse efectiva, “legal”, de algo neste caso de ILEGAL, SECRETO e HEDIONDO que
impeça a continuidade da Justiça.
Referimo-nos evidentemente, ao dossier Anibalzinho.
Com a recorrência a feitiçarias ou não –, que o desfecho seja justo, pois Anibalzinho não passa de um chefe de Peões no jogo do Xadrez Moçambicano, aliás, onde ele já se encontra. Mas a questão será sempre o topo da PIRAMIDE no Tabuleiro axadrezado: Quem é e por onde andará o Rei que ordenou o crime?
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 21.03.2005